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Comportamento

Com partida de Jânio, bairro que ele tanto amou ficou "órfão"

Professor entregou a alma ao Pedrossian e era como pai e “psicólogo” para os moradores

Por Natália Olliver e Fernanda Palheta | 12/04/2025 20:05
Com partida de Jânio, bairro que ele tanto amou ficou "órfão"
Jânio Batista de Macedo morreu na madrugada desta sexta-feira, em Campo Grande (Foto: Thailla Torres/Arquivo)

A partida repentina de Jânio Batista de Macedo pegou a região do Maria Aparecida Pedrossian de surpresa. Sem tempo para despedidas ou avisos prévios, o bairro amanheceu órfão. Jânio era como um pai, “psicólogo” e conselheiro para os moradores. Ele entregou a alma ao Pedrossian há anos e não se arrependia disso. Lutou todos os dias por melhorias na região e para mostrar que é possível fazer política comunitária. A despedida aconteceu neste sábado (12).

Considerado pelos filhos, amigos, colegas e moradores como um homem de fala mansa, sorriso largo e convicções profundas, Jânio deixa um legado de afeto, sabedoria e compromisso social, construído ao longo de décadas de dedicação à educação, à cultura e ao seu bairro.

Na despedida tímida, os filhos Ana Paula Medeiros de Macedo, 42 anos, e Vitor Medeiros de Macedo, de 41 anos, relembram do pai com carinho e sorrisos. Para eles, Jânio era assim: alegre e sarrista.

O professor de filosofia também era colecionador de coisas. A casa onde morava tem mais de mil objetos que ele juntou ao longo dos anos, entre eles televisores, quadros, discos e livros. Além de professor, ele era presidente do bairro.

“Um dia, meu pai estava andando na rua, viu um cesto, e esse cesto virou meu berço. Ele sempre teve amor pelo Pedrossian. Sempre teve liderança política, mas não queria trabalhar só com política partidária, e foi aí que encontrou na Associação dos Moradores uma forma de fazer política sem estar ligado a nenhum partido, através do voluntariado. Ele queria mostrar que dava para fazer o trabalho assim!”, explica a advogada Ana Paula.

Com partida de Jânio, bairro que ele tanto amou ficou "órfão"
Velório do professor aconteceu neste sábado, em Campo Grande (Foto: Fernanda Palheta)

Quando engravidou da primeira filha, o pai atravessou o bairro para visitar e cuidar da neta durante os primeiros 40 dias de vida.

“Ele foi conselheiro de meio ambiente e sempre foi defensor da preservação do Pedrossian. Ele era uma pessoa feliz, que amava muito o bairro. Tirava dinheiro do próprio bolso para investir na associação. Hoje sou advogada por causa dele, porque ele era uma referência”.

A morte veio após ele ter um problema no cólon e sofrer um infarto durante uma cirurgia, na madrugada de sexta-feira (11). A filha explica que, anos atrás, ele tirou parte do intestino e ficou dois anos com uma bolsa de colostomia. Ele queria uma cirurgia para reverter o quadro, mas exigia cuidado.

“Ele sempre cuidou dos outros, mas não dele, da saúde. Foi de repente, na quinta, sentiu dor e quando o levaram, foi direto para a Santa Casa. No exame ele estava com hemorragia e já não respondia. É um momento de muita tristeza, mas quero honrar esse legado”.

A ex-companheira, Maria Alzira de Moraes Cunha, 59 anos, conta que conheceu Jânio na faculdade de pedagogia. Ela já tinha cursado filosofia. Mas a história dos dois só vingou anos depois, em 2002, quando eles se encontraram na fila de uma eleição. Ela era mesária e Jânio queria acesso à fila preferencial por ter uma bolsa de colostomia.

Com partida de Jânio, bairro que ele tanto amou ficou "órfão"
Jânio era presidente do bairro e entregou alma ao Pedrossian (Foto: Thailla Torres/Arquivo)

“Ele era uma pessoa muito tranquila e calma. Para o bairro, virou um aconselhador e psicólogo. Em 2002, a gente se encontrou nas eleições. Ele já era conhecido, mas não presidente do bairro. A gente ficou duas horas conversando e esqueceram da fila. Depois, começamos a nos encontrar mais; ele ia visitar o bairro. Nos apaixonamos e fomos morar juntos”.

Ela acrescenta que ele só virou presidente do bairro depois dela insistir para que se tornasse. “Ele era muito crítico, e falei para ele concorrer na associação. Ele ficou indignado de ver tantos jovens sem fazer nada na rua.”

A professora de balé e moradora da região, Myla Barbosa, comenta que o presidente do bairro era comprometido com as causas sociais.

“Ele é responsável por abrir os caminhos da arte na associação e sempre foi uma pessoa amável e gentil, porque acreditava no desenvolvimento da região. Com a morte dele, toda a comunidade — cerca de 11 pequenos bairros — ficou órfã. Ninguém sabe o que vai acontecer com a associação.”

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