Contra o feminismo, mulheres querem “casamento blindado”
Ministrante comenta que não bate de frente com o feminismo, mas segue os “princípios bíblicos”
“Leito restaurado, casamento blindado”. Idealizada pela pastora Patrícia Meck, a mentoria virtual propõe reunir mulheres que enfrentam crises no casamento. Nela, as alunas contam aprender sobre os “papéis” da mulher que envolvem desde arrumar a casa até deixar toda sua vida em segundo lugar, priorizando o universo familiar.
De acordo com a organizadora, o curso compartilha dos valores que ela acredita e teria como foco reverter o cenário de divórcios. Para isso, há conversas e ensinamentos sobre mesa posta, cama arrumada e diagnósticos para a “restauração familiar”.
Enquanto o mundo passa por movimentos de empoderamento feminino, busca de direitos iguais e questões que envolvem a própria divisão de trabalhos domésticos há anos, os ensinamentos se voltam para interpretações antigas. Mais incisivas do que a professora, alunas entrevistadas declaram que os ensinamentos realmente vão contra o feminismo, uma vez que este movimento se posicionaria em outra esfera que não a cristã.
Integrando o grupo de alunas, Cíntia Silva da Purificação Vieira, de 29 anos, é de Dourados e explica que iniciou a mentoria para dar aulas para outras mulheres. No caminho, reforçou ideias que já tinha e diz ter aprendido mais sobre “restauração do casamento”.
“A pastora enfatiza muito que as mulheres precisam dar atenção para sua família, para seu esposo. A gente aprende que nosso primeiro ministério, o primeiro trabalho, é a família”, resume sobre os pontos principais do curso.
Nessa restauração, Cintia explica que por ter como base principal focar na ideia de família em primeiro lugar, o restante precisa estar em segundo plano. Por isso, vê que os movimentos feministas vão contra aquilo que é ensinado.
Exemplificando, Cíntia argumenta que existem papéis e funções com os quais a mulher nasceu e não deve se negar a executar. “A mulher foi criada com um órgão com o qual ela pode gerar uma vida, as ideias feministas tentam distorcer esse papel, de que não, ela não precisa gerar. De que gerar filhos vai limitá-la”, cita.
Sem pontuar sobre qual autora, linha ou fundamentação feminista está tratando, ela resume que não é possível ser feminista e cristã ao mesmo tempo.
Mas, usando de ideias conquistadas justamente pelo movimento das mulheres que se diz contra, pontua que esse público deve sim “buscar seu espaço e conquistar sua valorização”. E, ainda nessa lógica de que pode expor sua opinião, diz que “o sucesso profissional precisa vir depois, o sucesso familiar precisa vir antes”.
Também aluna da mentoria, Rosankely Romero Netto Rodrigues Ferreira, de 44 anos, conta que entrou para o curso por ouvir testemunhos de mulheres que enfrentavam crises no casamento e estariam superando com as aulas.
Para ela, assim como no caso de Cíntia, a organização da casa e o que entende por uma postura de esposa estão vinculados a esse sucesso no matrimônio. Rosankely cita, por exemplo, que uma mulher precisa de um homem que provê, um “macho alfa”.
Ao mesmo tempo, relata que as mulheres devem trabalhar caso queiram e buscar seu sucesso profissional, mas sempre focando na relação de casa. Assim como a colega de mentoria, também se diz contra o feminismo por entender a luta pelos direitos do movimento como algo parte de distorções políticas.
Idealizadora da mentoria, a pastora Patrícia Meck explica que todo o curso é voltado para a interpretação do que ela entende dos princípios bíblicos. Ao contrário das alunas que deram depoimento à reportagem e vão duramente contra o que pensam sobre feminismo, ela prefere dizer que seu posicionamento não olha para o que a sociedade comenta.
Ainda assim, detalha que a mentoria pode ser entendida seguindo uma lógica contrária às pautas contemporâneas. “Hoje, com o empoderamento, podem dizer que a mentoria está indo na contramão do que a sociedade diz. Mas, ele é voltado para os princípios bíblicos, pela palavra de Deus. Não tem a ver com o que as mulheres fazem hoje”, exemplifica.
Questionada sobre o curso também ser direcionado aos homens no sentido de arrumar a casa e pensar nessa “materialização” da vida espiritual, a pastora relatou que a mentoria foi pensada apenas para as mulheres casadas.
“A mulher sábia não anda segundo as regras da sociedade, ela vai viver os princípios. Eu não bato de frente com o feminismo, sei que Jesus ama as mulheres e que Deus estabeleceu algumas coisas para elas”, comenta Patrícia sobre as “tarefas” do curso não serem aplicáveis também aos homens.
Apesar das atividades focarem na arrumação da casa, a pastora diz que a ideia vai além. “Não é só a questão de arrumar, não vou falar que uma cama arrumada vai salvar o casamento, não é isso. Esses detalhes são princípios bíblicos que vão ser materializados. As pessoas falam que a família é prioridade, mas temos dias juntos? Eu chego em casa e solto o celular? Falo que amo meu marido, mas não fazemos nada juntos. Então a mentoria vem para pensar sobre isso”, relata Patrícia.
Resumindo o motivo de ter começado a falar sobre temas do casamento, ela narra que ver tantos divórcios e curiosidades das mulheres sobre a vida sexual foram os pontos base.
No caminho, decidiu compartilhar a ideia de que uma casa desarrumada pode significar que o restante também está errado. “A bagunça em si demanda um estresse, então trabalhamos que o nosso natural revela o espiritual. O ambiente de desordem significa que emoções não estão no lugar certo. E os princípios são de procurar manter uma rotina em que estabelecemos prioridades”.
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