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Comportamento

De repórter a secretário, Oscar viveu período heroico do jornalismo

Aos 72 anos, jornalista recorda época de correspondente na Amazônia e fala sobre prazer em escrever biografias

Por Jéssica Fernandes | 19/04/2024 06:10
Veterano no Jornalismo, Oscar Ramos Gaspar compartilha histórias da profissão. (Foto: Lennon Almeida)
Veterano no Jornalismo, Oscar Ramos Gaspar compartilha histórias da profissão. (Foto: Lennon Almeida)

Oscar Ramos Gaspar era praticamente um menino quando começou no jornalismo. Aos 20 anos, ele estava mais que habituado ao ritmo de redação e a rotina no jornal ‘Folha de Londrina’. Durante a trajetória profissional, atuou como correspondente na Amazônia, como secretário de comunicação do Governo Pedrossian e hoje, aos 72 anos, dedica tempo às biografias.

Nascido no interior do Paraná, Oscar é um veterano no jornalismo que tem muitas histórias para contar. A maioria não caberia em apenas uma reportagem, mas, ao Lado B, ele revela as principais passagens da vida enquanto comunicador.

Enviado pela Folha de Londrina, Oscar tinha 23 anos quando chegou a Campo Grande, mas não demorou muito para mudar novamente de endereço. “O Jornal Estado de São Paulo me convidou e fiquei seis meses em São Paulo. Depois, fui cobrir a Amazônia pelo jornal em uma época fantástica”, conta.

Jornalista relembra fatos da época de correspondente da Amazônia. (Foto: Lennon Almeida)
Jornalista relembra fatos da época de correspondente da Amazônia. (Foto: Lennon Almeida)

Estabelecido em Cuiabá, o jornalista era responsável por reportar e escrever pelo jornal os principais acontecimentos da época. De 1975 a 1979, Oscar descobriu um lado da Amazônia que poucos teriam acesso. “Eram tempos de pioneirismo, violência, morte de indígenas, grileiros, padres”, recorda.

Nesse cenário de conflito causado pelas disputas por terras, Oscar viajava de Cuiabá à Amazônia com frequência. Parafraseando um amigo, ele explica que andava de táxi aéreo como quem pegava um táxi na Avenida Paulista. "Não tinha estrada, nada, e hoje tem 30, 40 cidades onde era só mata na minha época", relembra.

Como correspondente, Oscar sente orgulho em afirmar que trouxe ao público vários casos envolvendo ocupação de terras e outras ilegalidades. “Era uma outra época, uma época de um jornalismo heroico. Você tinha que se dedicar muito, mas era muito compensador porque fazíamos sérias denúncias”, destaca.

Última biografia lançada por Oscar sobre diretor do Grupo Enzo. (Foto: Lennon Almeida)
Última biografia lançada por Oscar sobre diretor do Grupo Enzo. (Foto: Lennon Almeida)
'Orelha' do livro traz informações sobre o repórter nascido no interior do Paraná. (Foto: Lennon Almeida)
'Orelha' do livro traz informações sobre o repórter nascido no interior do Paraná. (Foto: Lennon Almeida)

Durante os quatro anos que viveu entre Mato Grosso e Amazônia, o repórter não escapou das ameaças. Sofreu várias, porém nenhuma se concretizou. O mais importante, na visão dele, foi mostrar que era possível exercer um jornalismo longe dos mitos e romantizações. “O jornalismo na Amazônia era perigoso, mas não era um jornalismo de guerra”, pontua.

Em 1989, Oscar brinca que virou ‘chapa branca’ e, embora não fosse uma área de interesse a princípio, foi parar na política. “Eu estava indo para Brasília, mas o Pedrossian e o Aluízio me convenceram a ficar aqui. Eu fui secretário de comunicação do governo daqui e depois em Mato Grosso”, comenta.

Contextualizando, Pedro Pedrossian foi governador de Mato Grosso entre 1966 e 1971, antes da divisão do Estado. Em 1978, foi eleito senador, mas renunciou em 1980 para assumir como governador nomeado em Mato Grosso do Sul. Nessa fase, governou MS entre 1980 e 1983. Nesse período, Aluízio Lessa Coelho atuou como secretário de Estado de Comunicação Social. Depois, Pedrossian se tornou governador eleito e atuou em seu mandato entre 1991 e 1994.

Os tempos de correspondente e secretário ficaram para trás na vida de Oscar. Nos últimos anos, o profissional tem dedicado tempo e habilidade na produção de biografias. “Hoje o que faço com prazer são esses livros. Os livros me dão não só uma garantia de renda, mas também a satisfação de descobrir essas pessoas”, fala.

Jornalista segura biografia escrita e lançada neste ano. (Foto: Lennon Almeida)
Jornalista segura biografia escrita e lançada neste ano. (Foto: Lennon Almeida)

O autor publicou três obras, sendo elas: ‘Osvaldo Sobrinho - Com toda Educação’, ‘Nelson Trad - Uma Vida Pra Valer’ e ‘Carlos da Graça Fernandes - Simples Assim’. O último, que foi lançado recentemente, traz a história do diretor presidente do Grupo Enzo.

No livro, o jornalista convida o leitor a conhecer a pessoa por trás do empresário através de 36 capítulos. “É a história de um cara que veio do nada e construiu esse império. Na biografia está a figura humana, o jeito simplório e muito eficaz”, resume.

Para produzir a biografia, Oscar conversou com setenta pessoas sem recorrer a aparelhos de gravação. Como nos velhos tempos, o jornalista não abre mão de anotar tudo à mão nos cadernos. “Você vai desbravando, fazendo conexões porque uma história boa está dividida em dois, três, cadernos que vieram de pessoas diferentes contando a mesma história de diferentes aspectos”, comenta.

Apesar do trabalho que tem como escritor de biografias, o jornalista é modesto e garante que está longe de ser um dos grandes biógrafos. Aos 72 anos, Oscar segue, à sua maneira, desbravando histórias e as contando como um bom jornalista.

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