De ser ‘doada’ até se formar, Camila aprendeu que lutas não faltariam
Vida mostrou que os caminhos não seriam fáceis, mas hoje a educadora física conta as vitórias
Antes de completar um ano, Camila Rivero quase foi doada pela mãe e perdeu o pai, desde então, ela precisou aprender que lutas não faltariam em sua vida. Hoje, se empenhando na profissão que escolheu, narra que os caminhos não foram fáceis, mas agora pode contar as vitórias.
“Minha mãe me deu quando eu tinha três meses, mas meu pai não permitiu isso. Ele tinha 19 anos quando decidiu cuidar de mim. Quando eu estava quase completando um ano, ele veio a falecer e o irmão foi um dos motivos pelos quais ele morreu”, introduz Camila sobre o início da narrativa.
Da infância até a adolescência, por vezes sem entender muito bem o que acontecia, ela explica que precisou conviver com o tio, apesar de sua relação com a morte do irmão. “Isso é um pouco da história que não gosto de dar ênfase, mas meu pai faleceu por conta do irmão e conviver com ele não foi nada fácil”.
De lá até hoje, muita coisa aconteceu na vida de Camila e até para conquistar sua profissão como educadora física foram muitos obstáculos. Crescendo em meio à relação complexa com o tio, ela explica que quem fez sua vida continuar logo no início foram as tias Luciana e Jussara, além da avó que se tornou mãe, Maria de Lourdes.
“Meu tio não era uma pessoa de bom coração, mas tive essas três pessoas no começo da minha vida que foram muito importantes. Conviver com meu tio não foi nada fácil e, quando eu estava com 17 anos, dei um basta e expulsei ele em uma vez que veio me agredir. Dali em diante, disse para mim e para todos que ele não faria mais parte da minha vida”, explica Camila.
Assim como a família fez o possível para criar a nova integrante, outros anjos, como ela chama, foram aparecendo como que para compensar as dificuldades. “Quando eu era criança, conheci uma vizinha, o nome dela é Olevinda. Ela tinha três filhos e dois faziam educação física. Pedi para ela ser minha madrinha quando eu tinha cinco anos e, desde aquele dia, ela me adotou como parente e a família dela também”.
Para conseguir manter a casa, Camila explica que a mãe trabalhava muito, mas ainda assim toda ajuda era bem vinda. Por isso, começou a trabalhar aos 15 anos para ajudar em casa e começou a sonhar com a vida na universidade.
Depois de muito estudar, decidiu fazer Educação Física por influência da família de Olevinda e, tendo passado no vestibular tanto para estudar em Campo Grande quanto em Dourados, se viu não podendo ingressar nas opções.
“Não tinha como eu ir para Dourados ou fazer faculdade integral aqui, eu precisava trabalhar”, comenta sobre a escolha. Por isso, precisou abrir mão das vagas e estudar para ingressar em uma faculdade que tornasse possível trabalhar.
Com ajuda da família da madrinha, estudou e garantiu uma bolsa de 80%, mas após um ano, os caminhos da vida mudaram novamente. Diagnosticada com câncer, a mãe precisou de cuidados e, sem muito o que fazer, Camila pausou o curso e perdeu a bolsa.
Na época, ela havia começado a namorar, mas em meio a tanta coisa, o relacionamento também precisou ser deixado de lado. “No dia em que eu tranquei o curso chorei muito porque era um sonha que estava sendo deixado para trás. O interessante é que, mais uma vez, um anjo apareceu na minha vida, minha coordenadora Denise”.
Questionando a estudante sobre quanto tempo precisaria para retornar ao curso, a coordenadora se comprometeu a aguardar por um ano e entrar em contato novamente. Por ter perdido a bolsa, Camila também tinha perdido as esperanças de continuar estudando, mas em 12 meses a vida voltou com outro rumo.
“Conseguir outra bolsa era impossível, mas depois de um ano ela me procurou, perguntou se eu conseguia voltar e consegui uma bolsa de 50%. Eu trabalhava de entregar panfleto, fazia freelance e reencontrei outra família que também me ajudou muito e me contratou como babá”, diz a educadora física.
Unindo todos os serviços, a faculdade conseguiu ser paga e, com isso, garantir que o presente fosse melhor. Após sair da graduação, a ideia de Camila seria trabalhar como personal trainer, mas durante o estágio descobriu que seu caminho precisaria ser outro mais uma vez.
Tendo conhecido uma família que buscava por um espaço para a filha autista, Camila começou a trabalhar com esse público e, conseguindo se encontrar, decidiu que se manteria com a escolha.
Mas, antes de chegar ao presente feliz, precisou lutar mais uma vez pela vida da mãe. “Ela pegou covid e precisei gastar todo meu dinheiro para o tratamento dela. Nessa época, comecei a conversar com meu ex-namorado, Wilker, e decidimos nos encontrar”.
Com desejo de continuar atendendo crianças com autismo e síndromes como TDAH e Síndrome de Down, o sonho parecia estar longe. Mas, em uma conversa com os pais de Wilker, mais uma novidade chegou.
“Eles resolveram investir, queriam saber da minha vida, gostaram do que eu havia contado e resolveram investir. Juntando o nosso dinheiro, que era pouco e estourando os cartões, com o investimento deles, abrimos nossa própria academia”, detalha.
Hoje, a Academia Integrar é realidade e trabalha especificamente com o que Camila havia se especializado, querendo suavizar os desafios de outras famílias. “Perdi meu pai, mas tive muitos anjos para conseguir chegar até aqui”.
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