Depois de 80 anos, erva-mate continua como o amor de Marlene
Ela cresceu entre plantações da árvore e hoje, mantém a relação especial garantindo ao menos um tereré ao dia
Não há um dia em que Marlene Albuquerque Gutteres, de 80 anos, fique sem o tradicional tereré, isso porque ela garante ser necessário manter a relação especial com as memórias. Para a aposentada, a erva-mate é uma paixão desde que nasceu e aprendeu a andar entre as plantações na região de Amambai, quando o município ainda era uma vila.
“Sabe uma coisa que eu fico encantada até hoje? É com a árvore da erva-mate, eu acho linda. Vivo pedindo uma mudinha, mas ainda não consegui. Quero plantar aqui no quintal”. Marlene passou a infância toda na região da fronteira com o Paraguai e explica que aprendeu a viver junto ao ciclo da erva-mate.
Perdendo as contas de quantas vezes precisou se mudar de cidade devido ao trabalho do pai, a aposentada acabou perdendo também as fotos que registraram o passado. Por isso, tudo fica ainda mais fixado na mente e é resgatado quando a hora do tereré chega.
Com paciência para recuperar as lembranças de tantos anos, Marlene mantém a voz calma enquanto puxa os fios da memória e faz a conexão com o presente. “A gente não tinha muito o que fazer, então acompanhava o trabalho desde a plantação até a hora que a erva virava chimarrão. Acho que é por isso que gosto tanto até hoje.”
De acordo com a aposentada, as fases do ciclo continuam vivas até hoje e, assim que alguém pergunta como funcionava, ela não demora a explicar.
Você sabia que de dois em dois anos a gente fazia a poda da árvore e, a partir dela, é que fazia a erva? Depois era levada para uma casa grande que tinha a máquina certa e lá a erva era reservada, depois sapecava até o ponto certo", relembra.
Quando morava na região de Amambai, a bebida preferida de Marlene era o chimarrão, mas com o tempo, as preferências também mudaram. “Lá era frio, então a gente tomava muito chimarrão. Aqui já é quente demais, então aprendi a gostar mais do tereré.”
Ela detalha que devido à bebida trazer memórias de quando os pais ainda eram vivos e a família vivia unida em sua totalidade, nem o café é servido preferencialmente em sua casa. “Muita gente oferece café quando chega a visita em casa, mas aqui, eu ofereço tereré mesmo. É minha coisa preferida, então trato assim.”
Nesse sentido, Marlene garante que toda a família aprendeu de um jeito ou de outro sobre o amor com a cultura em forma de erva-mate. Mas que, no fim, precisa mesmo é conseguir a muda da árvore e trazer o que tem apenas em memórias para o quintal de casa.
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