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Comportamento

Do cabaré à casa de família, seu Troncoso atendia na mesma alegria

Antonio Simão Abrão, famoso como Troncoso, morreu nesta terça-feira (22) deixando muita saudade

Thailla Torres | 23/06/2021 10:19
Sorriso de Troncoso vai ficar na memória da família e dos amigos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sorriso de Troncoso vai ficar na memória da família e dos amigos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Símbolo de amizade, alegria em pessoa, talentoso no comércio e nos argumentos quando precisa encontrar seriedade. Esse era Antonio Simão Abrão, carinhosamente chamado pelos amigos de Troncoso, nome do seu antigo armazém, inspirado no sobrenome de um de seus grandes amigos.

Troncoso, um dos comerciantes mais famosos da Rua 14 de Julho, que por cinco décadas abasteceu comércios e residências de famílias em Campo Grande, morreu na tarde desta terça-feira (22), aos 90 anos, em decorrência de complicações renais.

Segundo a família, o advogado, comerciante e pecuarista sofreu uma queda acidental em seu escritório e permanecia internado desde o dia 12 de junho no Hospital do Pênfigo.

Troncoso em seu comércio na Rua 14 de Julho esquina com a 7 de Setembro
Troncoso em seu comércio na Rua 14 de Julho esquina com a 7 de Setembro

Filho de pais sírios, Troncoso nasceu em Campo Grande no dia 10 de maio de 1931. Começou a trabalhar cedo, porém, dava risada ao dizer que por um tempo “era um vagabundo”, conta o filho. “Pois saia todas as noites para encontrar seus amigos para jogar conversa fora, uma roleta, um baralho, sempre chegando tarde da noite, deixando minha saudosa vó preocupada e muito brava, mas não adiantava nada”, conta um dos filhos, o pecuarista Antonio Simão Abrão Filho, de 53 anos.

“Comerciante nato”, começou vendendo bebida nos famosos cabarés da Rua 7 Setembro, que antigamente era conhecida como Rua Alegre, conta Antonio. Da cerveja em grande quantidade passou para o comércio secos e molhados tornando seu estabelecimento na Rua 14 de Julho esquina com a 7 de Setembro um dos armazéns mais requisitados do estado.

“Forneceu fiado a vários boxes do atual Mercadão Municipal e vários comércios pequenos dos bairros da cidade, bem como para vários fazendeiros do estado, tanto pantaneiros como da serra”, lembra o filho.

Foto de uma das reuniões com os amigos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de uma das reuniões com os amigos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ainda nos tempos de comerciante, Troncoso era apaixonado por cavalos de corrida, o que o tornou presidente do Jockey Clube. “Na gestão foi registrado o maior movimento de apostas do Brasil na época”.

Troncoso também adorava futebol e se dizia comercialino roxo. Foi vice presidente do Esporte Clube Comercial, “época de ouro do futebol de Mato Grosso do Sul”, diz Antonio. “Tratava os jogadores como filhos, vários deles frequentavam o armazém, dentre eles Roberto Cezar, que veio para o Comercial e depois jogou no Operário, sendo que quando foi chamado para jogar no Operário fez questão de pedir ao meu pai. Ele ainda fez muito sucesso no Operário e foi para o Cruzeiro e Fluminense. Meu pai ainda me ensinou a fazer embaixadinhas ali, onde todos os sábados os amigos se reuniam”.

Troncoso também foi vice presidente da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul no governo de Pedro Pedrossian e vice presidente do Rádio Clube.

O comerciante só dividiu o tempo do armazém com outro ofício quando entrou na Faculdade de Direito, antiga Fucmat, tornando-se advogado em 1979. “Ele não exerceu a profissão, porém ajudou na construção da sede da OAB-MS e ajudou vários colegas de sala a concluir o curso. Houve uma rifa na faculdade para a realização da festa de formatura, ele doou o carro e acabou sendo sorteado na rifa e doou novamente para a comissão”.

Casado por 60 anos com Thereza Abrão, Troncoso, segundo o filho, dizia ser “um bolicheiro da Rua 7”, que lia muito, sabia tudo de geografia, história e da vida. “Ele dizia que conheceu as pessoas porque aprendeu no poker, observando as reações de cada um dos parceiros durante as paradas. São muitas histórias, mas a certeza é que foram 90 anos de uma vida bem vivida, ele gostava de comida, música e tudo que unia as pessoas”.

Nas redes sociais, amigos e familiares prestam homenagens ao comerciante que partiu deixando lições de amizade e humildade. “Troncoso sempre foi um homem decente e de boa conversa. Recebi muitos conselhos e apoios dele. A cidade perde um de seus mais ilustres e queridos cidadãos, que fará grande falta a nós, seus muitos amigos. Deus, na sua infinita bondade, certamente receberá bem esse justo e adorável homem”, declarou o advogado e amigo da família, André Borges.

O velório será na tarde desta quarta-feira, das 14h às 16h, no Cemitério Parque das Primaveras.

Troncoso deixa esposa, 3 filhos e 6 netos.

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