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Comportamento

É debaixo de sol quente que Jesus da Paçoca faz milagre para pagar faculdade

Curso chegou a ser trancado por 1 ano devido ao acúmulo de mensalidades

Danielle Valentim | 15/11/2019 08:27
O Jesus da Paçoca, por enquanto, não troca a venda dos doces por outro emprego. (Foto: Kísie Ainoã)
O Jesus da Paçoca, por enquanto, não troca a venda dos doces por outro emprego. (Foto: Kísie Ainoã)

Numa jornada diária de mais de oito horas, o acadêmico de Engenharia Civil Thales da Silva de Oliveira, de 28 anos, se vira para vender paçocas e garantir o pagamento do curso. Mesmo com parte da graduação financiada, o jovem precisa desembolsar R$ 800 por mês e aproveita o apelido de “Jesus” para fazer milagre nas vendas. Retrato de tantos brasileiros que precisam meter a cara e e a coragem na hora de vender qualquer coisa pelo sustento. 

O curso chegou a ser trancado pelo período de um ano devido ao acúmulo de mensalidades. Até que o jovem teve a ideia de vender paçocas para conseguir uma renda. “Com uma casa financiada, mensalidade da faculdade, alimentação e transporte fiquei sem saída. Eu não sabia como pagar”, conta.

Thales ressalta que após trancar o curso e não enxergar saída chegou a enfrentar uma crise de depressão. Com a somatória da dívida e a cobranças de semestres que o acadêmico nem estudou, o total ultrapassava os R$ 3.000,00 e ele precisou agir.

Com R$ 11 comprou o primeiro pote de paçocas e passou a vender a unidade do doce a R$ 1,00. Hoje, quatro meses depois da primeira experiência, o acadêmico consegue vender até quatro potes, dependendo do movimento do Centro e da disposição para andar: nem sempre é das melhores.

“Olá, boa tarde, tudo bem? Eu vendo paçoca para pagar a faculdade. É só R$ 1,00", é a frase de Thales.  (Foto: Kísie Ainoã)
“Olá, boa tarde, tudo bem? Eu vendo paçoca para pagar a faculdade. É só R$ 1,00", é a frase de Thales. (Foto: Kísie Ainoã)

“É exaustivo, mas não posso parar. Depois de rodar o Centro das 10h às 18h30 e me virar muitas vezes com um salgado para matar a fome, desço a pé para a faculdade e sigo até o fim da aula. Através da paçoca consegui quitar e pretendo me formar em 2021”, pontua.

Em semana de prova, as vendas seguem até 17h e Thales garante que é um serviço como outro qualquer. “O único problema é o sol. Nesses meses ainda não comprei o protetor solar e já estou descascando. A parada para almoço é aleatória. Nem sempre dá tempo de parar ara comer comida, porque a paçoca é uma sobremesa e nessa hora não posso perder venda”, explica.

O Jesus da Paçoca, por enquanto, não troca a venda dos doces por outro emprego. “O pagamento de um recém-formado é cerca de R$ 2.000,00 e de um estagiário fica no salário mínimo. Como vou pagar a mensalidade de R$ 800, a parcela da casa que moro com minha mãe e meu irmão caçula e ainda a alimentação? Por isso não bato palma em empresa nenhuma”, garante.

Cada pote com 50 unidades custa R$ 11. Tirando o investimento, Thales consegue um lucro de R$ 39, por pote vendido.

"Eu costumo dizer que sou um leão e tenho que ir atrás da caça todos dias. Meu sonho é me formar e poder ajudar minha família”, finaliza Thales. (Foto: Kísie Ainoã)
"Eu costumo dizer que sou um leão e tenho que ir atrás da caça todos dias. Meu sonho é me formar e poder ajudar minha família”, finaliza Thales. (Foto: Kísie Ainoã)

“Olá, boa tarde, tudo bem? Eu vendo paçoca para pagar a faculdade. É só R$ 1,00”. Depois da frase, o trabalho de persuasão fica por conta do jovem. O acadêmico ressalta que às vezes o cansaço não é só físico.

“É desgastante ter de abordar as pessoas. Se eu vendo 100 paçocas é porque abordei no mínimo 300 pessoas. Eu costumo dizer que sou um leão e tenho que ir atrás da caça todos dias. Meu sonho é me formar e poder ajudar minha família”, finaliza Thales.

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