“E se todo mundo do planeta morrer de covid-19?”, questiona criança
Aos 6 anos, Emily mostra em entrevista total consciência sobre a gravidade da pandemia
Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural) que realiza uma série de projetos com as comunidades indígenas e ribeirinhas do Pantanal está produzindo um vídeo institucional com recorte das principais ações e projetos do último ano. Mas durante entrevista nesta semana, o jornalista Anderson Benites Carneiro, que também é voluntário em boa parte das ações, voltou para casa todo emocionado.
Os olhos cheios foram reflexos do jeitinho sincero da indígena terena Emily de apenas seis anos. Em uma conversa sobre a representatividade indígena no conteúdo escolar, a saudade da escola e até mesmo a covid-19, a menininha demonstrou total consciência sobre a gravidade da pandemia vivenciada por todos.
O bate papo foi gravado na aldeia terena Babaçu, no Pantanal. Emily disse que ama viver na aldeia e que tem muito medo de ir pra cidade. Quando questionada, disse que “lá tem covid-19”. Em seguida contou que um dia a mãe saiu e ela ficou pensando: “e se todo mundo morrer de covid-19?”.
A preocupação da Emily, de apenas seis anos, e a maneira como ela foi assertiva, emocionou Anderson.
“Quando ela me falou isso, foi inevitável pensar nos meus filhos, em como toda essa questão da pandemia afeta as crianças, para além da doença em si, mas psicologicamente. Pensei nos meus filhos, em como a questão de distanciamento social faz com que eles deixem de viver experiências próprias e necessárias para a infância e para adolescência”, conta Anderson.
Na visão dele, Emily demonstrou, talvez, o medo, a incerteza que passa na mente de crianças e adolescentes como seus filhos – uma incerteza que eles não deveriam, não merecem ter.
“Por outro lado, veja a consciência da Emily sobre a gravidade do momento. A consciência dela é maior que de muitos de nós, maior que de muitos governantes. Quanta sabedoria e quanta clareza de pensamento, vindo de uma criança”, ele descreve.
Anderson ainda destaca a importância dos territórios indígenas, especialmente neste momento. “Note como ela fala que se sente segura na aldeia. Note como é espontâneo. Não sou especialista em questões antropológicas, sou apenas um jornalista que conta histórias de comunidades como a da Emily. Mas, pela minha vivência, posso dizer que a pandemia tornou ainda mais forte a relação das comunidades indígenas com seus territórios, que se tornaram refúgios fundamentais, mesmo para a sobrevivência propriamente dita”, finaliza.
Emily adora fazer cerâmica - aprendeu com professoras indígenas em projetos do Ipedi - ama se vestir, usar os adereços e pintura indígenas e sonha em ser policial.
Nos últimos meses, Na busca de levar o assunto e a prevenção para aldeias na região pantaneira, o Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural) resolveu instalar placas bilíngues com orientações a covid-19. Essa é uma das tecnologias sociais para aplicar educação à comunidade que estão inseridas em contextos socialmente complexos. As placas levam orientações sobre como prevenir o novo coronavírus e os sintomas da doença.
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