Em ano sem fantasia da modinha, o que se vê no Carnaval é pochete e saia de tule
Nesse ano, não teve uma fantasia queridinha no Cordão Valu, mas não faltou criatividade entre os foliões
O primeiro dia de Carnaval no Cordão Valu não teve uma “fantasia modinha” como em anos anteriores em que unicórnios, abacaxis e tiaras de gatinho bombaram e se repetiam a perder de vista. Nesse ano, o reinado foi de um acessório: a pochete, vista aos montes. Teve quem caprichou e foi com fantasia exclusiva, porém, outro figurino que mais se repetiu foi o banho de glitter e a saia de tule, fácil de comprar ou fazer, além, claro, das plaquinhas com recados.
As saias de tule foram usadas em maioria pelas mulheres, mas também havia meninos com os modelitos. As amigas Ana Clara Trouy e Gabriela Garcia, ambas de 15 anos, entraram nesse time. Elas queriam combinar a fantasia e optaram pela saia de tule e body neon. “A gente queria de Meninas Super Poderosas, mas não deu para fazer escolhemos a saia de tule”, diz Ana Clara. O look Carnaval saiu por menos de R$ 60. “Ficou tudo em R$ 55. A saia R$ 35 e o body R$ 25.
Sendo o Carnaval da pochete, teve banquinha para vender o acessório. Aos gritos de “Olha o pochetão”, Kamila Rodrigues, 24 anos estava animada. A banca uniu toda a família e ela foi buscar as pochetes metalizadas fora de Campo Grande. “A minha sobrinha começou a vender as pochetes. Hoje eles passam aqui e compram a pochete. Vão com o dinheirinho e o celular guardado e não tem perigo de ladão pegar, explica Maria Aparecida Rodrigues. “Eu vi que estava todo mundo usando e tive essa ideia de vender no Carnaval. Usam dos dois jeitos, uns na cintura e outros transpassados”, diz Kamila.
As aplicações de girassóis nas roupas e nas tiaras também puderam ser vistas se repetindo no primeiro dia de Carnaval. Júlia Garcia, 15 anos, foi com vários girassóis na fantasia – que teve saia de tule - e o amigo, Kevin Jhonny, 18 anos, “pegou carona”. Ele colocou flores no chapéu e levou o regador para o bloco. Ele diz se inspirou na fantasia de jardineiro, com o macacão e o regador. Petterson Santos, 17 anos, que também é amigo, completou o trio. “É saia de tule, mas a minha tem uma diferença, porque não foi comprada, fui eu que fiz. Era para ser noivo LGBT, mas já perdi o véu”.
As amigas Alexia Jhowany, 19 anos e Yara Dias, 16, também combinaram a fantasia. Elas pretendiam ir de diabinhas, mas como não conseguiram a fantasia, foram com a saia de tule e tiaras. As duas optaram pelas indiretas. “É pra mostrar que eu beijo bem”, diz uma das amigas. A outra já se antecipa “É para caso eu faça alguma coisa errada”.
Fantasiado de Elsa, João Pedro Sena fez a alegria das crianças. Por onde passava, recebia o pedido de fotos e ouvia criancinhas falando “é a Frozen”. Ele diz que realizou um sonho, porque queria sair vestido de Elsa, mas não havia conseguido fazer a fantasia. Dessa vez, ele pegou uma saída de praia azul da namorada, Cinthia Mazi, colocou capa de tule e peruca branca.
Amigas de infância, literalmente, Melissa, 2 anos e Manuela, aproveitaram para tirar foto com a “Elsa”. A mãe de Melissa, Mônica Silveira diz que ela ficou muito animada para o carnaval. “Foi ela que escolheu a fantasia”.
Teve até polonês no Cordão Valu. Kamil Szymanski, que está há oito meses no Brasil, participou pela primeira vez do Carnaval, junto com a namorada Joselaine Penha. Ele foi fantasiado do imperador Júlio Cesar (enrolado no lençol para ser mais exata).“Eu gostei muito, estou encantado. A minha fantasia é Julio Cesar, mas algumas pessoas gritam que eu sou Jesus. Eu fiz ontem a noite com coisas que tinha em casa, sem comprar nada”, diz Kamil. Joselaine diz que a fantasia dela é de peixa azul. “Queria fazer alguma coisa do mar, mas não queria que fosse sereia”.
A ilustradora Lyara Costa fez a própria fantasia, de abacaxi, e gastou pouco, cerca de R$ 35. Ela utilizou uma saída de praia que tinha em casa e colou EVA dourado, fazendo as escamas e também fez o brinco e tiara para completar a produção. “Eu escolhi as coisas que eu já tinha e que não gastasse muito. Comprei folha de EVA com glitter e fui montando. A única coisa de roupa que eu comprei, foi a meia arrastão. Fiz uma fantasia para cada dia. Eu gosto de Carnaval, gosto de fazer e como trabalho com arte, tenho mais facilidade para fazer.
As fantasias com críticas políticas também apareceram em um número bem reduzido se comprado a outros anos. Natt Campos foi vestida de laranja. Também teve capa com o nome de Karl Marx e plaquinha de indireta para simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro passarem longe no Carnaval.
Letícia Gregian, 21 anos e Luisa Souza, 22. Foram combinando a plaquinha para já espantar “bolsominions”, como elas dizem. “Tem um Instagram chamado Cantadas Progressistas e tiramos algumas ideias lá. A gente estava procurando alguma ideia que repelisse bolsomínions. Para passar o recado já de longe, nem chega, diz Letícia. Luisa cita que mesmo sendo uma festa, o Carnaval pode ser um momento político. “Bem coloridinho, para mostrar que é do vale. Porque a gente atrai pessoas que pensam minimamente como agente. Acredito que o Carnaval é uma expressão cultural muito forte do Brasil. A gente tem que mostrar nossas indignações de alguma forma, mesmo se estivermos nos divertindo, não podemos esquecer deses detalhes.
As fantasias combinando também fizeram sucesso. Teve quem foi de casal, quem combinou com a família e entre os amigos. Cid Brown e a filha Mabi, 7 anos, foram com a fantasia igual feita pela mãe, Paula Brown – que foi a única que neste ano não foi combinando. É o terceiro Carnaval de Mabi, que é “blogueirinha” e foi de pochete com a logo do Instagram. As fantasias foram feitas por Paula com fitas de cetim. Cid além de ter combinado com a fantasia da filha, colocou a barriga de fora e vestiu um top. “É o terceiro Carnaval que a gente vem e nesse eu sou só a fotografa. Mas a gente já veio os três fantasiados de Branca de Neve e de bailarina”, conta Paula.
O casal Rafael e Jefferson de Oliveira foram combinando a fantasia com os personagens do desenho animado Os Padrinhos Mágicos. “Era uma fantasia fácil de fazer. A gente não gastou R$ 30. A gente queria fazer a fantasia de Equipe Rocket [do desenho Pokemon], só que era mais difícil”, diz Rafael. É o primeiro ano de Jefferson, que é de São Paulo, no Carnaval de Campo Grande.
De abelhinhas, Samara Sales e a filha Marina combinaram no Carnaval, mas o pai ficou de fora.“Ela veio ano passado e veio esse ao de novo. Ano passado veio todo mundo de Alice [no País das Maravilhas”.
Uma das fantasias em grupo que mais chamou a atenção, até pela quantidade de integrantes, foram os amigos que se vestiram de esmalte Risqué Eles se conhecem desde a faculdade e, pelo terceiro ano, coordenam a fantasia. Segundo os integrantes, todos ano é feita uma pesquisa para saber o que está sendo usado nos blocos pelo Brasil.
"A gente viu um bloco, que tinha uns caras, todos vestidos de esmalte, e todo ano a gente faz uma fantasia", conta a professora Rafaela de Oliveira. O amigo diz que deu trabalho sim, fazer a mão o stencil que foi utilizado para escrever nas camisetas. "O glitter é vegano. Tudo vegano", conta em relação à utilização do produto que não polui o meio ambiente e a tampa do esmalte foi feita de cartolina.
As amigas Joana, Thaiz, Lívia e Maria Cecília, todas de 14 anos, foram combinando e com plaquinhas com frases como “adote uma gatinha” e contaram que logo no começo do Carnaval já cruzaram com homem sem noção.
“A gente queria vir combinando e pesquisou as plaquinhas. Viemos com essa, porque a gente achou que não seria muito vulgar, devido ao desrespeito e etc, mas, por exemplo, a gente passou por uns cara,s de tipo uns 30 anos, e eles falaram: posso adotar uma gatinha? Sendo que eles podiam falar com alguém da idade deles”, diz Joana.