Em meio a acidentes, família construiu lar de garrafa em garrafa
Após décadas trabalhando como caminhoneiro, Ricardo abandonou sua cidade para ser garrafeiro
Criada no século passado, a profissão de garrafeiro fez com que Ricardo Souza precisasse mudar toda sua vida e quase a perdesse. Ao lado da família, ele deixou o interior de São Paulo para se dedicar a Campo Grande e construir seu lar de garrafa em garrafa.
Hoje, com dois espaços para trabalhar com a empresa, Ricardo brinca que não aguenta ninguém falando de sorte. Já não tão comum, seu serviço começou com o recolhimento de garrafas de vidro nas ruas até se tornar algo maior, mas nesse caminho uma série de acidentes parecia ser sinais de um "pare".
"Eu trabalhava como motorista de caminhão e fiquei sabendo que algumas empresas no Brasil faziam esse serviço de pegar as garrafas de vidro e revender para a indústria. Tinha cansado da estrada, então decidimos vir para cá tentar fazer isso porque era uma cidade melhor", conta Ricardo.
Na época, sem estrutura alguma, o serviço era basicamente o de um catador de recicláveis. "A gente tinha um carrinho e ia na rua mesmo tentando encontrar garrafa, pedia para outros catadores vender para a gente. Não era fácil".
Aos poucos, ele conta que as garrafas foram se acumulando até que a familia conseguiu preencher a carroceria de um caminhão para a primeira venda. Com expectativa alta, o empresário narra que renasceu no meio do caminho.
"Hoje, eu falo que tenho três anos de idade porque sofri um acidente no caminho e quase morri. Estava indo para a fábrica quando um carro perdeu o controle, eu tive que desviar e praticamente tombei o caminhão", conta o garrafeiro.
No acidente, outro veículo também se envolveu e o motorista não conseguiu resistir, como explica Ricardo. "Foi muito feio, uma pessoa morreu. Eu tive só algumas lesões pela batida, mas nada muito forte. Perdi todo o carregamento e ficamos sem nada".
Sem conhecer ninguém em Campo Grande, o jeito foi pedir ajuda para um amigo de São Paulo e, nessas, a história piorou. "Não tinha como eu voltar e trabalhar. Um amigo emprestou o carro e depois a gente iria devolver.
O problema é que começamos a trabalhar e o carro estragou também, Mesmo sem dinheiro, a gente teve que comprar", diz Começando o trabalho pela terceira vez, Ricardo conta que o pensamento em desistir e voltar para o trabalho antigo chegou a aparecer. Mas, já estando por aqui, voltou a coletar garrafa a garrafa, até a empresa conseguiu caminhar.
"Agora, a gente conseguiu comprar nossa casa, temos um depósito e alugamos outro. A gente vende garrafa para empresa, para mercearia, pessoa mesmo que vem atrás e deu certo. Não era uma coisa que a gente imaginava, mas agora ninguém abandona", completa
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