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Comportamento

Em MS, lendas regionais ainda são desconhecidas por muita gente

Em enquete, metade dos leitores do Campo Grande News indicaram que não conhecem folclore de MS

Aletheya Alves | 12/03/2023 07:49
Parte do folclore regional, mitos e lendas vão do Pantanal às fronteiras. (Foto: Reprodução/Mitos Vivos)
Parte do folclore regional, mitos e lendas vão do Pantanal às fronteiras. (Foto: Reprodução/Mitos Vivos)

Nesta semana, a série Mitos Vivos, de Fábio Flecha, teve seu pré-lançamento em Campo Grande e, de acordo com os pesquisadores envolvidos, muito se sabe sobre histórias internacionais, enquanto as regionais vão sendo esquecidas. Comprovando esse argumento, em enquete do Campo Grande News, 53% dos leitores indicaram que não conhecem o folclore de Mato Grosso do Sul.

Ainda na enquete, nossos leitores informaram que 32% conhecem um pouco da cultura popular e apenas 15% votou que realmente está familiarizado com as histórias e manifestações.

Professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), pesquisador e consultor na série Mitos Vivos, o sul-mato-grossense Andriolli Costa pontua que o folclore realmente é desvalorizado por ser cotidiano. “É importante lembrar que o folclore não é sinônimo de mitos e lendas, eles são um braço da árvore que é o folclore. Isso porque folclore é tudo o que é cultura popular”.

Para o pesquisador, essa falta de atenção e valorização se dá justamente pelo folclore ser parte inerente da vida. “Nossa vida é permeada por folclore do nascer ao morrer e até antes disso. Quando sua mãe está grávida, olham para a barriga e dizem que se estiver pontuda é menino e redonda é menina, isso significa que sua vida já está permeada antes mesmo de você nascer”, cita o exemplo.

Até por isso, se dá a importância de acompanhar produções que tratem tanto sobre o folclore sul-mato-grossense quanto o nacional.

Especificamente sobre lendas e mitos, o pesquisador comenta que Mato Grosso do Sul também é rico nestas narrativas. Tanto que é possível elencar até mesmo as histórias mais famosas que se espalham pelo Estado.

Começando pelo mito que foi seu tema de mestrado, Andriolli conta sobre a lenda dos tesouros enterrados na região de fronteira. “Normalmente, estão vinculados ao Paraguai e, especificamente, sobre o período da Guerra contra o Paraguai”.

De acordo com o professor, a lenda conta sobre fortunas enterradas e protegidas por espíritos com várias versões. “Uma versão diz que o próprio Solano López (ex-presidente do Paraguai), para evitar que a tríplice aliança tomasse todos os tesouros paraguaios, mandou dividir em carroças boa parte do ouro que o governo tinha pelo país e regiões fronteiriças, mandando enterrar”.

Após mandar enterrar o ouro, a história conta que o então presidente havia ordenado assassinar essas pessoas que enterraram para que ninguém, além dos oficiais, soubessem onde estavam enterrados os tesouros.

Então, essas almas ficam ali presas indicando os locais dos tesouros enterrados. Outra versão é de que a população, protegendo suas posses, enterram isso no terreno das suas casas, mas morrem durante a guerra e suas almas ficam presas à terra, diz Andriolli.

Por esse motivo, as almas permanecem presas ao dinheiro e passam a procurar por pessoas com “coração puro” para recuperar esse tesouro. “Geralmente, essas almas aparecem em sonhos ou em forma de bola de luz flamejando”.

Outra história famosa do Estado, conforme o pesquisador, é a lenda do Mãozão, na região do Pantanal da Nhecolândia.  “O Pai do Mato e o Mãozão são próximos, mas não os mesmos. O Mãozão tem como característica ter mãos poderosas com as quais ele enlouquece as pessoas, já o Pai do Mato não toca as pessoas, mas tem domínios que fazem com que os caçadores se percam e que as pessoas fiquem confusas na mata”, diz o professor.

Identificado como um protetor das florestas, o Mãozão ainda possui uma aparência física de um humano grande e peludo.

Andriolli também compartilha a lenda do Minhocão, conhecida na região de Corumbá. “É uma serpente tão grande quanto a largura do próprio rio” e que quando se irrita, conforme ele conta, causa o deslizamento de terra nos rios. “É uma criatura terrível que intimida os barqueiros. Minhocão é um mito das águas típico do Centro-Oeste, nós o encontramos no Pantanal sul-mato-grossense e também no mato grossense”.

Além destes, outro mito interessante é do Saci, que em regiões de fronteira, ganha novas características. Andriolli relata que devido a existência do Yacy Yateré, um saci da região do Paraguai, há pontos interessantes.

“Yacy Yateré é loiro, isso porque significa fragmento da lua, então ele tem cabelos loiros. Loiro em espanhol é rubio, então é comum na fronteira sacis ruivos, que é uma distorção da palavra rubio e se junta com a carapuça vermelha do nosso saci”, comenta o pesquisador.

Outro ponto é que no Paraguai, Yacy é fluorescente, já o nosso é negro, no Paraguai ele tem duas pernas, aqui uma. O interessante é que nas regiões de fronteira, nosso saci pode ter duas pernas, ser loiro e variar suas características.

E, para quem ficar curioso por mais histórias vinculadas ao folclore brasileiro e também de Mato Grosso do Sul, Andriolli mantém o site “Colecionador de Sacis” e o podcast Poranduba. Para acessar, basta clicar aqui.

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