Em noite de lua cheia, mulheres aprendem a usar menstruação para cultivar planta
Ritual falou da importância do ciclo menstrual e ensinou como o sangue pode ser usado para cultivar as plantas
A noite de 6 de agosto marcou o Dia Mundial do Plante Sua Lua. Mulheres se reuniram pelo mundo para oferecerem em um ritual o sangue da vida que, na realidade, é a menstruação nossa de cada mês. Em Campo Grande esse movimento aconteceu no Parque das Nações Indígenas e juntas, elas devolveram o sangue à terra em sinal de respeito e amor pelo feminino.
Nesse caso, a menstruação é chamada de lua e serve, inclusive, como apelo contra a cultura dos absorventes descartáveis. A ideia é fazer com que as mulheres deixem de ver o sangue como algo que provoca nojo e vergonha.
Aos 39 anos, Caroline Figueiró é parteira e terapeuta evolutiva. Para ela, é um privilégio menstruar, por isso o movimento reflete sobre o que há de sagrado no corpo. "A realidade é que as mulheres foram se afastando do sangue que na verdade representa a vida. Muitas não gostam, sentem nojo e bloqueiam essa menstruação, esquecendo que só nós temos o privilégio de sangrar e poder se refazer todos os meses".
O ritual de plantar é nada mais do que devolver o sangue à terra. As mulheres usam coletores íntimos para recolher a menstruação e depois a colocam em plantas. Segundo elas, isso é uma maneira de reconhecer a importância do ciclo e contribuir com a natureza.
"Milhares de absorventes são descartados por dia e ele não é biodegradável, por isso a gente evita o consumo. Depois disso a gente compreende que se um sangue é capaz de gerar uma vida, imagina o bem que ele é capaz de fazer a terra. Por isso ao invés de só usufruir do que a natureza nos dá, podemos também retribuir com o que temos de sagrado".
O processo é simples. As mulheres coletam a menstruação, armazenam, irrigam ou simplesmente plantam a lua. Caroline explica como isso pode ser feito naturalmente.
"A coleta pode ser feita de duas maneiras. A primeira é com um coletor menstrual reutilizável: a mulher retira o sangue, coloca em um reservatório ou direciona imediatamente a terra. A explica que é melhor diluir o sangue em um pouco de água para possa descer homogênea na terra", explica.
Mas para quem não se adapta ao coletor, pode voltar à moda antiga. "Pode também usar o bio-absorvente com panos de tecido, aqueles que nossas avós também usavam. Coloque o pano de molho na água para que o sangue solte e depois jogue o liquido nas plantas".
Calorine diz que algumas mulheres relatam curas emocionais após o ritual sagrado. "Muitas chegam com dores, cólicas e problemas emocionais. Mas quando fazem esse processo, as curas começam a acontecer. É como se ao fazer essa reverência, as transformações surgissem como recompensa".
Para a publicitária, Ticiane Miranda quando a mulher desenvolve uma nova consciência sobre o próprio corpo, o universo retribui de várias maneiras. No caso dela, foi através da beleza das flores. "Eu plantei minha lua em uma orquídea que deu 28 botões. Então esse movimento da natureza é fantástico".
Mas Ticiane diz o quanto é difícil atrair novas mulheres para esse entendimento. "Ainda é difícil criar essa consciência e por isso estamos aqui hoje. Não só para marcar o movimento, mas para unir as mulheres diante de uma situação de rivalidade tão comum nos dias de hoje. O Plante Sua Lua é justamente para falar de união, sagrado e irmandade", descreve.
Mas em noite de lua cheia, para terminar o ritual com alegria, as mulheres consagraram novamente o sangue. Mariana dos Anjos, de 22 anos, foi quem levou a menstruação em um recipiente, como gratidão por conhecer um novo mundo. "Há um ano fui presenteada com um curso em que foi explicado a importância desse aterramento e o sentido de buscar o natural na vida. Com isso me descobri, fui aprofundando no feminino e no meu sagrado. Hoje estou nesse caminho e vendo que posso fazer mais pela natureza", declara.
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