Em ônibus, MC’s criam rimas com passageiros e mostram força do rap
Há três meses, MC Cruel e MC CJ improvisam rimas no transporte público para trazer alegria aos passageiros
Eles entram no ônibus, cumprimentam os presentes e pedem licença para rimar. Caso ninguém manifeste qualquer incômodo, MC Cruel, de 26 anos, e MC CJ, de 22 anos, começam a improvisar e criar rimas baseadas nas características ou comportamentos dos passageiros. Sem o intuito de zombar de ninguém, os rappers só querem trazer visibilidade para a cena do rap, divulgar o trabalho, além de conseguir arrecadar qualquer valor para pagar as contas.
Há três meses, a dupla iniciou a ação nos transportes públicos de Campo Grande. Todos os dias, Cruel e CJ escolhem o itinerário, pegam o ônibus e partem rumo a algum terminal diferente do dia anterior. No início, o ambiente novo causou estranhamento nos jovens, mas agora, eles já tiram de letra e conseguem fazer as apresentações normalmente.
O MC Cruel comenta que a ideia de levar o rap até esses lugares foi inspirada no trabalho semelhante de outros artistas. “Nós já vivíamos de arte, conversando um dia pensamos na ideia de fazer no ônibus. Esse corre já existia em outros lugares onde a galera faz no metrô”, explica. Na última terça-feira (05), Cruel e CJ rimaram na linha 308, sentido ao Bairro Santa Emília. Apesar de passar das 21h, os rapazes não perderam o ânimo e ainda conseguiram arrancar alguns sorrisos dos passageiros que retornavam para casa.
Confira o vídeo da apresentação a seguir:
Nos ônibus, de acordo com Cruel, as reações das pessoas são diversas. Colecionando experiências boas e ruins, ele relata alguns dos episódios que viveu ao lado do colega de rima. “Já aconteceu das pessoas se incomodarem, mas se a pessoa levanta a mão a gente não faz, porque não queremos atrapalhar. Até hoje, só teve dois episódios, mas o pessoal nos ajudou mesmo sem nos apresentarmos”, conta.
Quando começam a rimar, o ânimo do pessoal acaba mudando ao ouvir as improvisações. “Tem gente que fala que fica mais leve, quem tá sério dá uma gargalhada, acontece de tudo mesmo”, diz. Dentre os momentos mais marcantes, o rapper cita um. “Tinha uma mulher que durante a apresentação ficou com a cara fechada. Quando chegou no terminal, ela desceu, foi falar com a gente e nos ajudou com R$ 50. Ela disse que o filho dela tinha falecido, que ele curtia muito rap e falou para gente seguir em frente, foi um episódio marcante”, expõe.
Acostumados a participarem de batalhas de rima na cidade, os MC’s precisaram se adaptar ao novo público e desenvolver outra atitude. “A gente entende que está com uma galera fora do nosso nicho, eles não foram ali para ouvir rima. No ônibus, uso a abordagem de sempre elogiar, fazer coisas positivas e brincar. Sempre fazemos na melhor das intenções, porque é para trazer a alegria e quebrar um pouco o preconceito com o rap”, enfatiza.
Além da alegria que buscam proporcionar para a população que usa o transporte público, Cruel garante que ele e CJ se divertem com o trabalho. “Vimos ali uma parada daora e não só no sentido da grana, gostamos de rimar. Hoje, graças a Deus, está sendo nossa fonte de renda, temos nossa arte paralela e conseguimos viver”, afirma.
Participando da cena do rap há uma década, Cruel já participou de batalhas de rap em Mato Grosso, Belo Horizonte, Brasília e no interior de Mato Grosso do Sul. O artista destaca que está satisfeito com a carreira e experiência que adquiriu.
O sonho, segundo ele, é trazer visibilidade para o rap no Estado. “A minha meta hoje não é baseada em títulos. Eu sei o quanto já corri e lutei para ter a minha visibilidade, então quero trazer a visibilidade para nosso Estado em relação ao freestyle e ao rap. Isso vai abrir portas para mim, os que estão atuando e os próximos que vão vir. É uma visibilidade relacionada à oportunidade”, conclui.
O MC Cruel é um dos organizadores da “Batalha da Pista”, que acontece às quartas-feiras, 19h, na pista de skate da Orla Morena. Nas próximas semanas, ele irá participar de uma batalha em Porto Alegre (RS). Mas por ora, ele e CJ seguem rimando nos ônibus para quem estiver disposto a ouvir e conhecer o rap.
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