“Eu me descobri como Sophíe”, diz quem luta para ter nome registrado
Jovens relatam a importância de ter identidade com nome e gênero pelo qual se identificam
Delineado branco, glitter nos olhos, flores na cabeça, cabelo colorido e um sorriso que preenche o rosto de ponta a ponta. “Eu me descobri”, diz Sophíe Elisabethy, 19 anos. Há um ano, a jovem encontrou a verdadeira identidade e viu o mundo a sua volta ganhar novo significado.
Na tarde de ontem (28), Sophíe procurou a Sesic (Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura) para iniciar o processo de retificação de nome e gênero no registro civil. Na ocasião, um mutirão foi realizado para ajudar homens e mulheres transexuais que desejam obter o novo documento. A iniciativa ocorreu devido ao Dia da Visibilidade Trans, que é celebrado neste sábado (29).
Nos corredores do Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho, ela esperava ser chamada para entregar os papéis exigidos no processo. Ao Lado B, Sophíe relatou um pedaço da própria história, falou de sonhos futuros e a expectativa de ter um registro de acordo com o gênero pelo qual se identifica.
A busca por uma identidade própria e contrária à imposta pelos pais começou na infância. Antes de se encontrar como Sophíe, ela adotou para si outros dois nomes femininos, porém nenhum a definiu completamente. “Quando era criança, meu primeiro nome foi Juliana, o segundo Juliete”, lembra.
Nas relações familiares, ela não encontrou a compreensão que esperava, por isso, relata ter vivido um período difícil. “Meus pais me forçaram a ser uma pessoa que eu não era, ser uma pessoa do sexo oposto ao que me considero. Eu não era feliz, vivia trancada dentro de mim mesma e tentando me libertar”, desabafa.
Em 2021, após superar um quadro severo de depressão, a jovem finalmente alcançou a liberdade sonhada desde a infância. “Eu me descobri como Sophíe, porque ela realmente fazia parte de como eu sou. A Sophíe é uma mulher com jeito alegre, animado, às vezes, fofa, engraçada e que se expressa muito. Mesmo passando por problemas, a Sophíe é forte, destemida e corajosa”, afirma.
Na escrita, Sophíe também achou uma forma de ir mais longe e libertar sentimentos que reprimiu durante quase duas décadas. Escritora, ela publicou no ano passado o primeiro livro “A Suprema Sereia”, que mescla fantasia, drama e aventura. Agora, trabalha na segunda obra intitulada “Eu sou Michele”.
Cheia de metas para o futuro, a primeira coisa que Sophíe quer conquistar é a nova identidade. “Eu tô muito ansiosa, trouxe os documentos que deu para trazer e vou ver no que vai dar”, diz. Em breve, a escritora inicia a faculdade de Psicologia e faz planos para depois cursar Artes Cênicas e Cinema. “Mas eu quero fazer em outro país”, adianta.
“Temos muito para conquistar” - A estudante de Artes Visuais, Emy Matheus Santos, 22 anos, recebeu ontem a nova carteira de identidade. Para ela, o documento é só o primeiro passo de uma série de direitos voltados para as pessoas trans. “Eu estava muito ansiosa para receber essa carteira, mas eu entendo que estamos caminhando a passos lentos, porque o direito ao nome deveria ser assegurado com mais facilidade. A gente passa muito constrangimento por não ter o nome respeitado, então, é um motivo para se comemorar, mas temos muito para conquistar”, ressalta.
Drag queen, ela utilizava o nome artístico de Afroqueer, porém, há oito meses, adotou o nome que, agora, preenche o documento. “Eu comecei a me entender como travesti há pouco tempo, tive que passar por alguns processos internos para ter certeza do que queria e decidi lutar pelo direito do meu nome social”, fala.
Realizada, Emy fez questão de mostrar no final da entrevista a carteira que é motivo de orgulho. “Eu tô feliz por ter meu nome reconhecido, agora, saio com ela para todo lugar", conclui.
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