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Comportamento

Famosa na produção de perucas, Suzzy diz ser uma "senhora trans" bem resolvida

Thailla Torres | 21/03/2018 07:52
Aos 50 anos, ela tomou pra si a tarefa que parecia difícil, aceitar a chegada da idade.
Aos 50 anos, ela tomou pra si a tarefa que parecia difícil, aceitar a chegada da idade.

Suzzy Washington tem cabelos avermelhados e postura sofisticada. Aos 50 anos, ela é uma transexual bem resolvida que tomou para si a tarefa que parecia difícil, aceitar a chegada da idade. Com bom humor ela enfrenta cada mudança, dentro e fora do corpo. "Ixi, eu sou do tempo do dinossauro minha querida", brinca ao telefone mesmo, onde preferiu dar entrevista já que está de repouso por conta de uma crise nos rins.

O brilho era um sonho dela desde sempre. Suzzy observava a madrinha que era costureira e, muitas vezes, quis aprender cada detalhe para ficar famosa, ainda em 1976, quando ela tinha só 8 anos e já enxergava no espelho a mulher que buscava ser no corpo de menino.

Nascida no interior, a história de Suzzy é como de muitas transexuais que trazem lembranças do preconceito, do medo e da violência. Mas ela não acreditava que o tamanho de uma cidade fosse capaz de acabar com seus sonhos e decidiu seguir por um caminho diferente. "Busquei trabalhar, aprender e dar minha cara a tapa naquele tempo. Fácil? De jeito nenhum, passei por muita coisa, mas não dei o braço a torcer", lembra.

Nascida em Dourados, Suzzy hoje é famosa em Campo Grande.
Nascida em Dourados, Suzzy hoje é famosa em Campo Grande.

Hoje, ela é famosa na produção de perucas. Trabalha com cabelos desde a década de 90 e se dedica exclusivamente ao ofício. Suzzy se especializou não só para atender transexuais, mas também pessoas que fazem quimioterapia e sofrem com a perda dos fios. Por mês, ela produz no minimo sete perucas e cada uma leva até quatro dias para ficar pronta. "Sou eu que faço tudo. Escolho, pinto, lavo e montar fio a fio. Não tenho nem ajudante".

As perucas de Suzzy variam entre R$ 500,00 e R$ 10 mil cada, todas produzidas com cabelos naturais que vem do Paraguai, Vietnã e Índia, por exemplo. "O meu diferencial é que tenho perucas de até 1.20 metro e com cabelos lindos. Uma de R$ 10 mil é a peruca com loiro platinado, liso e com mais de 85 cm de comprimento".

Em Campo Grande, a maioria das clientes são drags, transexuais e travestis. Suzzy também já viu seus cabelos em famosas. "Já fiz para a cantora Maria Cecília usar como alongamento e para o filme, A Grande Arte, em que a Cássia Kiss usou uma peruca minha".

Suzzy diz que é uma trans com sorte. "Não me droguei e não me prostitui, porque a vida das meninas que fazem a noite não é fácil e o tempo acaba com a gente".

Ela se assumiu transexual aos 12 anos, encontrou resistência dentro de casa, mas ganhou o apoio da tia que era costureira. Resolveu então caminhar pelo mundo da arte.

Sofisticada e bem resolvida.
Sofisticada e bem resolvida.

"Sempre fui o tipo de pessoa que não sabe ficar quieta. E naquele tempo ser transexual era horrível, só o fato estar na rua à noite, éramos vistas como um terror. Fui presa várias vezes voltando da escola, porque naquele tempo eu já era bem feminina. Eu só conseguir me livrar da delegacia ao mostrar minha carteira de trabalho. As minhas amigas, que não tinham, continuavam por lá".

Aprendendo a costurar, Suzzy ganhou emprego e já aos 13 anos tudo mudou. "Resolvi morar fora e viver minha vida sozinha". Do interior foi para Campo Grande com uma companhia de circo, e além de produz o figurino dos artistas, ela também fazia shows.

Depois de um tempo conseguiu emprego numa joalheria no Centro da cidade até conquistar seu primeiro ateliê. "Trabalhei muitos anos fazendo vestido de noiva, até que um dia levei uma rasteira da minha sócia e precisei fechar a loja".

Assim foi para o Rio de Janeiro aprender a fazer perucas. "Fiz um curso de 8 meses com um japonês rigoroso, daqueles que batia com a régua na nossa mão se houvesse erro". De lá pra cá não parou na produção de perucas.

Os anos passaram e Suzzy foi casada duas vezes, hoje diz ser amiga dos ex-maridos e até das atuais companheiras deles. Uma delas, tem um filho que chama ela de vovó. "É uma delícia, isso me ajudou muito a reconhecer minha idade e ser bem resolvida com ela. Todo mundo tinha de amar ser vovó".

No processo de transformação, Suzzy colocou prótese nos seios e nas nádegas. Chegou a ter 850 ml de silicone no peito, hoje diminuiu o tamanho pela saúde da coluna. "A gente vai envelhecendo e a coluna não aguenta o peso do peto. Então fiz a minha terceira cirurgia e tenho só 550 ml".

Com 200 abdominais por dia e 1 hora de caminhada, é uma mulher ativa e que não abre mão de cuidar da saúde. Apesar de vaidosa, ela aprendeu encarar o dia longe das maquiagens e do brilho. "De dia eu sou uma senhora, que faz compra, vai supermercado e brinca com o neto. À noite a coisa muda e a Suzzy se transforma".

Depois de tanto perrengue nesta vida, a idade não parece assustar. "Para quem é transexual, às vezes, pode ser difícil encarar essa fase. mas a gente precisa se colocar na vida real, porque ninguém tem como parar a idade, mas tem como ser bem resolvida com isso".

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