ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Comportamento

Feita com pedras do rio, 1ª casa da rua resistiu a incêndio por vingança

No Bairro Amambai, casa conserva história de família e José que vive para lembrar os tempos 'simples'

Jéssica Fernandes | 16/05/2023 07:33
No Bairro Amambai, casa é uma das primeiras da Rua Pimenta Bueno. (Foto: Jéssica Fernandes)
No Bairro Amambai, casa é uma das primeiras da Rua Pimenta Bueno. (Foto: Jéssica Fernandes)

Na Rua Pimenta Bueno, a casa da família de José Luiz Staut Baltuilhi, de 70 anos, é uma das primeiras construídas no Bairro Amambai. A casa tem história, pegou fogo há décadas, mas as pedras que compõem a fachada e parte da estrutura interna resistiram.

Na varanda da residência, José aproveitava o período da manhã para se entreter com peças e tentar criar um novo aparelho. Logo no começo da conversa, ele revela as origens da família e um dos negócios do pai.

“Meu pai era sócio de uma construtora aqui que tinha na Treze de Maio com a Maracaju. Nós somos de São Paulo, mas meu pai já conhecia Campo Grande. Eu nasci no interior de São Paulo, mas voltei pra cá com seis meses”, diz.

José Luiz cresceu na residência onde vive hoje sem os pais. (Foto: Jéssica Fernandes)
José Luiz cresceu na residência onde vive hoje sem os pais. (Foto: Jéssica Fernandes)

A residência, que tem quase a mesma idade de José, foi um dos primeiros trabalhos da construtora que o pai tinha em sociedade. Não demorou para que Ary e Vanda se mudassem para o lugar com José e os outros filhos.

Na época, a família só não tinha muitos vizinhos para conversar. Na rua e ao redor da residência o mato tomava conta do que agora são outras residências e comércios. “Essa aqui foi a primeira casa da rua, meu pai teve que puxar água lá da Bandeirantes e até uns cinco anos atrás era o mesmo cano”, explica.

Além de ter que ‘puxar’ água da avenida, o pai dele também trouxe de longe outro item especialmente para construir o lar. Apesar do morador não saber o nome científico, ele conhece muito bem a origem das pedras que há mais de cinquenta anos estão firmes ali.

Pedras tiradas do Rio Apa seguem firmes após 50 anos de construção. (Foto: Jéssica Fernandes)
Pedras tiradas do Rio Apa seguem firmes após 50 anos de construção. (Foto: Jéssica Fernandes)

“Isso aí é tudo da fazenda, é uma pedra que tinha muito no rio da fazenda e meu pai falou: ‘Não, eu vou colocar’. A gente tinha caminhão, ele ia na fazenda e a peonada quebrava todo jeito que podia e aqui o cara ia acertando. Ela ficava quase nas margens do Rio Apa, na cabeceira do Apa”, fala.

As pedras da cabeceira do Rio Apa se mostraram resistentes quando a casa foi incendiada. Após o fogo consumir o imóvel, José relata que apenas as rochas resistiram. “Essa casa aqui foi feita rapidinha, mas aí fomos de férias para Santos e colocaram fogo. Queimou tudo, tanto que se olhar por dentro as pedras ficaram pretas. A casa destruiu inteirinha”, diz.

Na época, a família não teve dúvidas do responsável pelo incêndio e o motivo do crime. “Isso aí foram dois caras que trabalhavam com meu pai na fazenda. Meu pai criava uma indígena que os pais morreram e ela ia com a gente na fazenda. Um cara lá se apaixonou por ela e queria casar de qualquer jeito. Meu pai tentou fazer o casamento, mas ela não queria”, afirma.

Alteração na cor da pedra mostra efeitos do incêndio que atingiu a casa. (Foto: Jéssica Fernandes)
Alteração na cor da pedra mostra efeitos do incêndio que atingiu a casa. (Foto: Jéssica Fernandes)

Depois de ‘tomar umas pingas’, o homem que foi rejeitado resolveu se vingar do pai de José por acreditar que ele é quem não fazia questão do casamento. A casa queimou por inteira, mas o homem em questão não saiu ileso.

“Ele ficou louco, ele veio colocar fogo aqui com um amigo. Entraram aqui e jogaram gasolina na casa toda, mas tem gás né. Quando eles colocaram fogo, pegou fogo nele também. Ele saiu correndo aí”, comenta.

A família se recuperou do episódio e a casa voltou a ser o que era. José é marcado por lembranças da infância e dos tempos em que os pais estavam vivos. Para ele, aqueles tempos são resumidos em simplicidade.

“Aqui só tinha lembrança boa, aqui a vida era muito simples. A gente tinha muito parente e final de semana íamos para fazenda. Era uma vida mais simples”, destaca.

Na entrada da residência, pedras apresentam tonalidade original. (Foto: Jéssica Fernandes)
Na entrada da residência, pedras apresentam tonalidade original. (Foto: Jéssica Fernandes)

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Nos siga no Google Notícias