Feita com pedras do rio, 1ª casa da rua resistiu a incêndio por vingança
No Bairro Amambai, casa conserva história de família e José que vive para lembrar os tempos 'simples'
Na Rua Pimenta Bueno, a casa da família de José Luiz Staut Baltuilhi, de 70 anos, é uma das primeiras construídas no Bairro Amambai. A casa tem história, pegou fogo há décadas, mas as pedras que compõem a fachada e parte da estrutura interna resistiram.
Na varanda da residência, José aproveitava o período da manhã para se entreter com peças e tentar criar um novo aparelho. Logo no começo da conversa, ele revela as origens da família e um dos negócios do pai.
“Meu pai era sócio de uma construtora aqui que tinha na Treze de Maio com a Maracaju. Nós somos de São Paulo, mas meu pai já conhecia Campo Grande. Eu nasci no interior de São Paulo, mas voltei pra cá com seis meses”, diz.
A residência, que tem quase a mesma idade de José, foi um dos primeiros trabalhos da construtora que o pai tinha em sociedade. Não demorou para que Ary e Vanda se mudassem para o lugar com José e os outros filhos.
Na época, a família só não tinha muitos vizinhos para conversar. Na rua e ao redor da residência o mato tomava conta do que agora são outras residências e comércios. “Essa aqui foi a primeira casa da rua, meu pai teve que puxar água lá da Bandeirantes e até uns cinco anos atrás era o mesmo cano”, explica.
Além de ter que ‘puxar’ água da avenida, o pai dele também trouxe de longe outro item especialmente para construir o lar. Apesar do morador não saber o nome científico, ele conhece muito bem a origem das pedras que há mais de cinquenta anos estão firmes ali.
“Isso aí é tudo da fazenda, é uma pedra que tinha muito no rio da fazenda e meu pai falou: ‘Não, eu vou colocar’. A gente tinha caminhão, ele ia na fazenda e a peonada quebrava todo jeito que podia e aqui o cara ia acertando. Ela ficava quase nas margens do Rio Apa, na cabeceira do Apa”, fala.
As pedras da cabeceira do Rio Apa se mostraram resistentes quando a casa foi incendiada. Após o fogo consumir o imóvel, José relata que apenas as rochas resistiram. “Essa casa aqui foi feita rapidinha, mas aí fomos de férias para Santos e colocaram fogo. Queimou tudo, tanto que se olhar por dentro as pedras ficaram pretas. A casa destruiu inteirinha”, diz.
Na época, a família não teve dúvidas do responsável pelo incêndio e o motivo do crime. “Isso aí foram dois caras que trabalhavam com meu pai na fazenda. Meu pai criava uma indígena que os pais morreram e ela ia com a gente na fazenda. Um cara lá se apaixonou por ela e queria casar de qualquer jeito. Meu pai tentou fazer o casamento, mas ela não queria”, afirma.
Depois de ‘tomar umas pingas’, o homem que foi rejeitado resolveu se vingar do pai de José por acreditar que ele é quem não fazia questão do casamento. A casa queimou por inteira, mas o homem em questão não saiu ileso.
“Ele ficou louco, ele veio colocar fogo aqui com um amigo. Entraram aqui e jogaram gasolina na casa toda, mas tem gás né. Quando eles colocaram fogo, pegou fogo nele também. Ele saiu correndo aí”, comenta.
A família se recuperou do episódio e a casa voltou a ser o que era. José é marcado por lembranças da infância e dos tempos em que os pais estavam vivos. Para ele, aqueles tempos são resumidos em simplicidade.
“Aqui só tinha lembrança boa, aqui a vida era muito simples. A gente tinha muito parente e final de semana íamos para fazenda. Era uma vida mais simples”, destaca.
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