Foi morando com índios que Giovani aprendeu lições de uma vida inteira
Destaque no sábado ao contar sua história de vida no Caldeirão do Huck, o professor universitário faturou prêmio de R$ 300 mil
Uma vida dedicada à educação dos indígenas. "Se eu sensibilizei eles de alguma forma, é bem provável que foram eles quem mais me impactaram". Desde sempre curioso, Giovani José da Silva se encontrou um antropólogo nato assim que saiu da cidade de São Paulo – onde nasceu e foi criado – para descobrir o que realmente significava ser índio no Brasil.
"Fui parar na casa de minha tia em Aquidauana, onde acabei me formando em História em 1995. Dali em diante, decidi que não só estudaria a cultura, mas se possível conviveria o mais próximo possível dos índios".
Com raízes fincadas na fronteira do Brasil com o Paraguai, sua família é de refugiados que vieram parar no município de Porto Murtinho por conta da guerra civil de 1947 do país vizinho. A mãe de Giovani, a costureira de 74 anos Gregória Ramona, não só tem sangue guarani, mas conseguiu passar para os filhos o orgulho de ter a herança indígena.
"Em Porto Murtinho que passei a conviver efetivamente com os indígenas. Parei de fazer o trajeto cidade-aldeia, e morei quase 8 anos da minha vida com os Kadiwéu. Essas pessoas tem muito a nos ensinar. Seus conhecimentos ancestrais que fogem do alcance da racionalidade puramente científica. Com eles, aprendi a ser mais solidário, a pensar no coletivo, a ser menos competitivo".
Na falta do curso de ciências sociais aqui em MS, Giovani acabou se especializando em Antropologia no Mato Grosso. Cada vez mais, aumentava tanto seu conhecimento teórico quanto o prático em relação aos índios. No ano de 2012, foi parar no extremo norte brasileiro.
"Fui convidado para participar de um evento no Amapá. Era minha primeira vez na região Norte. Sabendo da minha jornada, alguns colegas – e que hoje são meus parceiros de trabalho – avisaram e me incentivaram a fazer concurso pra lá".
Hoje, Giovani é professor doutor da Unifap (Universidade Federal do Amapá), tendo começado seus dias na instituição fazendo a viagem Macapá (AP) e Oiapoque para lecionar no ensino superior indígenas de 5 etnias diferentes.
"Não gosto de usar o termo 'dar aulas'. Enquanto professor, sou um encantador de palavras e de gente, mas essa também é uma via de mão-dupla, a 'lição tirada' é mútua".
Caldeirão do Huck – Dois anos antes de participar do "Quem quer ser um milionário?", exibido ontem (17) no programa do Luciano Huck, Giovani se inscreveu sem imaginar que ganharia o maior prêmio da história do quadro, no valor de R$ 300 mil.
"Luciano me perguntou se eu estava satisfeito com o resultado. Com certeza. Entrei para contar minha história e da minha mãe, mulher de origem muito simples que aos 29 anos se tornou viúva do meu pai. E eu também queria honrá-lo".
Com o dinheiro, o filho garante que vai proporcionar uma velhice tranquila à matriarca Gregória que tanto ama.
"O meu objetivo ali não era mostrar que minha vida mudou por causa do programa, mas que todo mundo tem condições de se transformar caso largar mão da miséria intelectual e espiritual".
Sobre os seus últimos 30 anos fazendo carreira a favor da cultura indígena, Giovani acredita que o caminho para mudar o mundo se encontra pela educação.
"É mostrar para os nossos pequenos que essas são populações extremamente vulneráveis. Como sociedade, somos muito ignorantes em relação aos índios. Se incorporamos informação e conhecimento, podemos crescer enquanto nação e, quem sabe, nos tornarmos seres menos individualistas".
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.