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Comportamento

Garagista que sonhava fechar rua ainda é lembrada na Bandeirantes

Meire era garagista famosa na Bandeirantes, que viajou de férias, mas nunca voltou devido à covid-19

Thailla Torres | 28/03/2022 06:44
Lucimeire, que era famosa como Meire, se destacou por romper as barreiras do comércio e ser a mulher que dava tudo de si nas vendas.
Lucimeire, que era famosa como Meire, se destacou por romper as barreiras do comércio e ser a mulher que dava tudo de si nas vendas.

O sorriso de Lucimeire Pereira Ribeiro Soares que, por 30 anos, era visto na porta da loja de veículos na Avenida Bandeirantes, hoje, está só na memória. Mas quem passa por ali ainda pergunta da mulher “garagista” – como são conhecidos os empresários da rua –, que nunca tinha medo de usar da própria simplicidade para conquistar a freguesia.

Neste fim de semana, uma ida à feira de veículos da loja Federal Car, a filha Bruna Soares deixou coração falar mais do que as ofertas de carros. Lembrou que o momento vivido era um dos sonhos da mãe que, durante anos, trabalhou com a venda de veículos na rua.

Lucimeire, que era famosa como Meire, se destacou por romper as barreiras do comércio e ser a mulher que dava tudo de si nas vendas. Administrou durante anos a loja junto ao marido, lavava carros ali na porta mesmo e, descalço, tinha coragem de convidar o cliente da forma mais simples: “Vem comprar carro comigo”.

Era assim que conquistava a freguesia e guardava o sonho de um dia fechar a Avenida Bandeirantes e promover um evento com todas as garagens de veículos. “Independente de concorrência, seu maior sonho era fazer esse evento e ver todo mundo mostrando seu trabalho, dando força à rua reconhecida por esse comércio”, explica a filha.

Mas ontem (27), fez um ano que Meire deixou esse sonho. Ele foi uma das vítimas da covid-19 no dia 27 de março de 2021. Meire fez uma viagem de férias a Maceió e não voltou viva.

Os sintomas começaram na viagem, mas o que parecia leve, resultou numa internação cerca de uma semana depois da chegada ao destino turístico. Foram 12 dias de intubação e um desfecho que despedaçou o coração da família, especialmente o de Bruna, que lembra da mãe presente nos negócios e sendo a representação da força feminina na família.

“Minha mãe era uma mulher humilde, simples, corajosa e humana. Fazia de tudo pelo ser humano e nunca desistia dos seus sonhos. Se estivesse aqui, estaria muito feliz e lutando para um dia fechar a Bandeirantes com um grande evento.”

No mercado onde boa parte dos gestores são homens, ela nunca se intimidava. Era do tipo que bancava todas as vendas e nunca tinha medo de recomeçar se algo desse errado.

Segundo a filha, a mãe começou nos negócios há 32 anos, quando a família veio para Mato Grosso do Sul falida. “Ela chegou aqui e teve a oportunidade de ter a loja junto com meu pai, desde então, os dois trabalhavam juntos incansavelmente.”

A filha herdou o gosto dos pais pela venda de veículos e hoje, atua no mesmo negócio, inspirada pela força e o sorriso da mãe, que ainda é procurada por alguns clientes. “Ainda tem gente que não sabe que ela morreu e, às vezes, chega aqui perguntando por ela, saindo entristecido com a notícia de que ela se foi.”

Embora a saudade seja imensa, Bruna luta para manter no espaço todos os ensinamentos da mãe e do pai, mas especialmente de Meire, que nunca desistiu.

Meire partiu aos 47 anos, deixou três filhos, uma neta e um esposo.

Sorriso de Meire ainda é lembrado na Bandeirantes.
Sorriso de Meire ainda é lembrado na Bandeirantes.

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