Há 25 anos na Popular, Lúcia resiste firme, apesar do álbum de enchentes
Em um lugar onde problemas parecem não ter fim, moradores não desistem de vida com mais respeito.
Há 25 anos, dona Lúcia luta contra as águas na Vila Popular. Morando na Rua José Barbosa Rodrigues, ela já viu a enchente invadir a casa tantas vezes que tem até álbum de enchente. Carrega em uma pasta preta, fotos das enchentes passadas junto aos carnês de IPTU (Imposto Territorial Predial Urbano) que têm de pagar ano após ano. Três dias após a última chuva, que inundou as residências dela e dos vizinhos, a casa já está limpa, mas no varal, ainda estão as roupas que tiveram que ser lavadas novamente.
Lúcia Cândido Miranda, 54 anos, mostra as fotos que tem para provar que o problema é antigo. As fotografias datam de 2005 e 2006. Em uma das imagens, aparece o vizinho que ainda mora perto. “A mãe dele mora bem ali e estão desesperados porque perderam duas motos dessa vez”. Nas outras fotos, segundo dona Lúcia, os moradores desistiram e foram embora.
Na casa dela há poucos móveis. “Nossos móveis são cama, geladeira e fogão e só. Sofá e armário, isso a gente já não usa mais. Em 2005 a enchente veio da altura da porta e ficamos em cima da casa. O pessoal andava de barco”, relembra. Nessa enchente, a vizinha Maria de Lurdes dos Santos, 72 anos, conta que quase morreu afogada e foi salva pelos vizinhos. Hoje em dia, ela nem mora mais lá. Abandonou a casa própria e vive de aluguel.
A ideia de dona Lúcia é levar as imagens à Prefeitura, o que ela já fez na esperança de não ter mais que pagar o IPTU, já que nenhum prefeito consegue dar jeito no problema. “Desde que eu moro aqui, já faz 24 anos que eu moro nessa rua e é a mesma coisa. Desse pessoal nenhum mora mais aqui. Eu guardei as fotos por causa da enchente. Todo ano cai muro, estraga geladeira, estraga televisão. Já perdi muita coisa”, conta Lúcia.
Além de guardar as imagens das enchentes na esperança de conseguir melhorar em alguma a situação, ela ainda cuida de perto da tubulação do frigorífico da região. Ela e os outros moradores atribuem à empresa o problema das enchentes, sendo que a vizinha Maria de Lurdes já tentou até processar o frigorífico.
A distância entre a casa dela e a tubulação é de cerca de dois quilômetros e ela não deixa de ir lá olhar e abrir a engrenagem para que a água do córrego escoe. “Nós que abrimos e fechamos as comportas. Abri 5 horas da tarde e quando chegou 5 horas da manhã, já estava enchendo de novo”, afirma a moradora.