ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Comportamento

Há 53 anos, Nelsi não fecha as portas nem com o pedido dos filhos

Estrutura que hoje é o ateliê de costura foi construído pela família para ser a primeira mercearia do bairro

Aletheya Alves | 10/05/2023 06:58
Aos 72 anos, Nelsi não fecha as portas de ateliê por nada no Manoel Taveira. (Foto: Aletheya Alves)
Aos 72 anos, Nelsi não fecha as portas de ateliê por nada no Manoel Taveira. (Foto: Aletheya Alves)

Quando tinha 19 anos, Nelsi Barbosa Silva chegou à Vila Manoel Taveira e, desde então, nunca parou de trabalhar. Hoje, aos 72, a primeira mercearia do bairro se tornou seu ateliê de costura e nem com pedido dos filhos a proprietária aceita fechar as portas.

“Fazem 53 anos que estou aqui, você precisava ver esse bairro, não tinha nada mesmo. Com a mercearia, a gente conseguiu atender muita gente”, relembra Nelsi. Hoje, quem passa pela Avenida Dom Antônio Barbosa sempre vê a porta levantada, mas tomada por linhas e tecidos.

Esse cenário, de acordo com Nelsi, começou há mais ou menos 20 anos, quando ela e o marido precisaram diminuir o ritmo com a mercearia. “No início, não tinha nem mercado, asfalto, luz, nada. Então, a gente é que vendia as coisas e conseguimos criar nossa família. Com o tempo, meu marido adoeceu e depois comecei a cuidar da minha mãe, então foi reduzindo o trabalho”.

Mesmo assim, precisando de serviço, a costureira narra que decidiu retomar os gostos da infância para manter a família bem. Isso principalmente após perder o marido e decidir que seguiria a vida apenas com os filhos.

Estrutura foi construída pela família para abrigar a mercearia do bairro. (Foto: Aletheya Alves)
Estrutura foi construída pela família para abrigar a mercearia do bairro. (Foto: Aletheya Alves)

Durante a adolescência, Nelsi já havia aprendido uma coisa ou outra de costura, mas foi na vida adulto que mergulhou nas técnicas. “Minha mãe tinha me mandando para a escola, mas há uns 20 anos eu comecei a trabalhar em uma fábrica. Lá fiquei mais ou menos dois anos, aprendi muito e depois resolvi voltar para casa”.

Já sem as mercadorias que compunham a mercearia, as estantes deram lugar para mesas e carretéis de linha. E, do aprendizado, a costureira trouxe uma máquina industrial que hoje também já acumula experiência e não desiste.

“Quando comprei, ela já era usada, então tem quase trinta anos e não desiste. Eu continuo também, às vezes até penso em parar, mas quando a gente gosta de alguma coisa, gosta do que faz, a gente não quer desistir”, explica Nelsi.

Máquina usada nos aprendizados é quem acompanha Nelsi diariamente. (Foto: Aletheya Alves)
Máquina usada nos aprendizados é quem acompanha Nelsi diariamente. (Foto: Aletheya Alves)
Carretéis de linhas substituiram as mercadorias alimentícias do passado. (Foto: Aletheya Alves)
Carretéis de linhas substituiram as mercadorias alimentícias do passado. (Foto: Aletheya Alves)

E, impulsionada pelos clientes, ela garante que realmente não fecha as portas, fazendo questão de mostrar que sempre está por ali. “Tem gente que vem de longe trazer roupa para eu arrumar ou fazer. Como a idade está chegando, meus filhos às vezes falam que eu preciso descansar, dizem para eu abaixar as portas, mas não abaixo não”.

Mantendo as características externas da mercearia, hoje Nelsi conta que o jeito é relembrar e pensar que a vida deu certo. Mesmo com as dificuldades, ela brinca que a coragem de ir morar em um bairro que ninguém queria foi o melhor início.

“Eu tive um marido muito bom, tanto que não quis me relacionar de novo porque sabia que não ia encontrar outro como ele. A gente veio para cá e não tinha nem vizinho de tão vazio, e construímos nossa família, nosso serviço, deu certo”, completa.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Nos siga no Google Notícias