Há 70 anos, viagem de trem transformou toda a vida de dona Nair
Enquanto viajava com os pais, Nair se encantou por irmãs e decidiu que aquele modo de vida também seria o seu
Aos 82 anos, Nair Ferreira de Brites ainda se lembra da cena que fez toda sua vida mudar quando tinha apenas 10 anos de idade. Em uma viagem de trem, viu pela primeira vez as Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem e, ali, decidiu que um dia seguiria aquele mesmo modo de vida.
“Eu vi as irmãs e fiquei encantada, era uma menina, devia ter só 10 anos e fiquei encantada com o Ser delas. Não foi pela beleza física porque acho que nem olhei, mas com todo o Ser daquele grupo”, relembra a irmã Nair.
Sem pensar muito, sua primeira reação foi perguntar para a mãe como poderia seguir o caminho, mas recebeu como resposta que precisava tirar aquela ideia da cabeça. “Continuei pensando, mas guardei para mim, ficou no meu coração”.
Os anos se passaram e, após se mudar com a família para Ponta Porã, Nair foi matriculada justamente na escola das irmãs. “Elas costumam perguntar para as meninas se não têm interesse em conhecer o instituto, fazer algumas palestras para explicar, mas eu nunca fui chamada por elas”, relata.
Ao invés de perder a esperança, a irmã conta que se viu cada vez mais interessada na escolha de vida do grupo e, graças a uma amiga, conseguiu sua chance.
Eu tinha uma amiga muito próxima e ela foi convidada pelas irmãs. Quando questionada se não tinha interesse, ela respondeu que não, mas que uma amiga realmente tinha. Foi assim que as irmãs ficaram sabendo do meu gosto, explica Nair.
Desde então, seu caminho como irmã começou a ser traçado e se tornou seu modo de vida até hoje. “São várias etapas, desde o início para que você aprenda os horários, aprenda as orações, aprenda sobre o silêncio, até sua formação completa”.
Após ingressar nesses processos, ela passou um tempo em Ponta Porã, mas depois seguiu para sua formação em São Paulo. “Morei lá por muitos anos e nós passamos por cada etapa aos poucos, seguindo o que a instituição pede”, relata.
Diferente das irmãs de clausura, que ficam separadas da sociedade, Nair detalha que sua ordem é vinculada ao povo. Por isso, sua formação também espelha essa ideia.
“Nós nos dedicamos, principalmente, aos pobres e para fazer isso há uma escolaridade envolvida. Todas fazemos uma graduação, nos especializamos para trabalhar. Eu, por exemplo, fiz Pedagogia porque fui destinada para as escolas”.
Durante sua vida de dedicação ao próximo, ela conta que já morou em vários estados brasileiros e até se mudou de país. Vivendo uma experiência com outras irmãs, passou um tempo na Bélgica e aprendeu sobre as diferentes culturas e o convívio entre nacionalidades variadas.
Outra experiência foi no Paraguai, em que trabalhou em uma escola para crianças. “No Brasil, também sempre trabalhei com escolas, inclusive no período da Ditadura. Nunca foi fácil porque é uma responsabilidade muito grande, mas somos preparadas”.
Conforme a idade foi chegando, Nair decidiu que sairia de cargos como direção e coordenação para continuar trabalhando conforme as pessoas precisassem. Mas, ao mesmo tempo, gostaria de se aprofundar nas orações.
“Nós temos uma rotina de oração, mas quando vi a idade chegando, percebi que eu também precisaria começar a me preparar para meu encontro com Deus. Continuo disponível, em contato com as pessoas que precisam, mas de um jeito diferente”, garante.
Ao pensar sobre o modo com que levou sua vida, irmã Nair diz que não se arrepende das decisões que tomou e que começaria a trajetória novamente caso fosse necessário.
“É uma vida de dedicação, de entrega e de estudos. Nós queremos fazer sempre o melhor, seguir os ensinamentos bíblicos e ver Deus em todos os detalhes”, completa.
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