Ivo de Souza comemoraria 74 anos em homenagem organizada por amigos
Amigos das antigas e da nova geração do sertanejo raiz lembram da carreira do violeiro e agradecem a inspiração
Nome forte do sertanejo raiz, Ivo de Souza comemoraria 74 anos amanhã, em homenagem organizada por amigos e fãs. A festa na chácara Antártica, em Campo Grande, celebraria a vida e a música, o que no caso dele eram uma coisa só. Contudo, às vésperas do aniversário, um acidente matou Ivo e entristeceu Mato Grosso do Sul.
Amigos da vida e do palco ficaram abalados com a notícia. Todos com um nó na garganta mantiveram-se firmes, mas falaram pausadamente para segurar o choro. Comentaram sobre a relação com o cantor que ficará para sempre no coração dos violeiros. “Perdemos a pessoa que mais defendia o Estado com músicas inéditas. Fica difícil dizer, é como se tivesse falando do meu pai. A última vez que subimos ao palco, pedi benção e ele sempre com aquela alegria. Isso me dava forças. Me ensinou muito”, diz Alex, da dupla com Yvan.
Alex fala da admiração pelo cantor que fez diferença na própria carreira. “Foi a primeira pessoa que vi tocando viola, minha inspiração”, conta. O momento é de tristeza e ele desabafa, “nesse meio, pensam que o artista não sente frio, dor e que tem que estar sorrindo, querendo tirar fotos. Mas não é sempre que estamos bem”.
Quem também tinha uma relação próxima com Ivo é o cantor Jadson, que faz dupla com Jads. “O conheci há 20 anos, antes de entrar na música profissional. Deu-me dicas e chamou para cantar. Tínhamos uma afinidade bonita, coisa de pai para filho. Tratava-me com carinho e respeito, vai deixar saudades”, afirma.
O músico, Waldemar Francisco de Souza, o Ado, lembra da época que conheceu o violeiro. “Foi em 1974. Ele trabalhava de motorista e fez minha mudança, as coisas vieram de trem. Foi o nosso primeiro contato. Tornamos-nos amigos, viajamos bastante, o acompanhei e ajudei como base de violão e cantando. Chegamos a formar dupla por um tempo, mas não deu certo”.
Ado recorda de tantas parcerias que o fizeram seguir a diante. “Gravou LPs como Ivo de Souza e Jaguinho; Ivo de Souza e Ednelson; Ivo de Souza e Angelino. Foi uma pessoa excelente, uma das grandes vozes do estilo grave e ganhou três prêmios no festival de Barretos. A notícia pegou todos de surpresa porque estávamos nos preparando para a festa de amanhã”.
O acidente aconteceu na BR-262. Conforme Ado, Ivo tinha viajado para pegar lenha para a festa de aniversário. “Era para o churrasco. Estou bastante abalado porque amigo que é amigo sente quando o outro parte”, comenta.
O cantor João Carreiro estava se preparando para tocar na festa de Ivo. Chegaram a se apresentar juntos. Apesar de não ser amigo próximo, ele conta que o violeiro foi seu presente de casamento. “Cantou e abrilhantou minha festa, é uma pessoa que jamais esquecerei. Infelizmente, a gente não sabe nada da nossa vida”.
Outro ícone sertanejo da música sul-mato-grossense, Castelo lembra que os dois eram amigos há quase 50 anos. “Participou do CD ‘Castelo 50 anos de estrada’, me deu a honra de fazer um dueto com sua voz. Respeitava meu trabalho. Chorei com a notícia”, revela.
Castelo tem 54 anos de carreira, já gravou vários LPs, vinis, CDs, DVDs e tocaria no aniversário. A morte do amigo também gerou revolta, pois a festa de amanhã seria para arrecadar dinheiro ao aniversariante. “Precisava sustentar alguém da família ou até mesmo ele. Os artistas do Estado deveriam ser mais valorizados. Fico triste porque Ivo era uma pessoa igual a mim, a Delinha, Amambai e a nossa família precisa de sustento. É uma vida que estava vendendo saúde e cantando bonito”, afirma Castelo.
A tragédia pegou todos de surpresa e deixou João Paulo Pompeu quase sem palavras. Ele é radialista e filho da dama do rasqueado, Delinha, e recorda que Ivo foi um dos pioneiros da viola no Estado. “Referência para duplas como Jads e Jadson, João Carreiro e Capataz”.
O apresentador e também amigo, Neno Ferreira comenta que esteve com Ivo nesta semana para uma gravação. “Não imaginava que essa seria uma despedida. Não há palavras para expressar o que o Ivo representava para a música. Assim como Delinha era uma rainha do sertanejo, ele foi um dos grandes mestres. Ontem ainda, falou que me pagaria uma cerveja na festa de amanhã”.
Carreira - Ivo de Souza era um dos maiores nome da música sertaneja de Mato Grosso do Sul. Ele começou sua carreira ao lado do primo Janguinho, se apresentando em circos, rádios e bailões pelo Estado. Com diferença de idade de apenas 4 meses, eles cresceram como irmãos em uma fazenda de Anhanduí, onde aprenderam a tocar violão praticamente juntos.
Surgiram depois de Délio e Delinha, de Amambai e Amambaí, mas escreveram o nome na história da música sul-mato-grossense. Em 1968 gravaram o primeiro compacto, mas o sucesso chegou anos depois, com “Espero ser feliz”, de Teixeirinha.
O corpo será liberado do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) ainda hoje. Ivo será velado e sepultado no cemitério Monte das Oliveiras, localizado na Avenida Guaicurus 7000 - Jardim Campo Alto. O horário ainda não foi divulgado.