João chegou aos 80 anos com bailão perto do morro que tanto adora
Festa comemorou os 80 anos de um dos moradores mais velhos da comunidade quilombola Furnas da Boa Sorte
A chegada dos 80 anos foi um momento de muita comemoração para seu João Francisco Maria e toda Comunidade Quilombola Furnas da Boa Sorte, em Corguinho. Descendente dos fundadores da região, escravizados que chegaram à Serra de Maracaju no fim do século XIX, Joãozinho, como é conhecido, ganhou uma festa surpresa à sua altura: um bailão aos pés do Morro de São Sebastião, cartão-postal da cidade, conhecido pela vista paradisíaca.
A festa aconteceu no dia 29 de março e foi preparada pelos filhos Rosa Helena, Benedito, Avelina e José Antônio, que tiveram a ajuda da esposa, noras e dos netos. O evento que celebrou a vida de Joãozinho teve a natureza exuberante do Morro de São Sebastião como cenário.
“Foi uma festa, rapaz, uma surpresa muito grande pra mim. Quando eu vi, tava aquele povão reunido chegando”, relembra. O encontro, que reuniu cerca de 300 pessoas, entre amigos das antigas e os recém-chegados.
“Eles chamaram meus amigos de infância. Vieram vizinhos daqui, de Campo Grande, de tudo quanto é canto. Pensa numa festa sagrada, abençoada por Deus” resume.
Veterano quilombola - Seu João nasceu no dia 26 de março de 1945 e vive desde então na comunidade quilombola Furnas da Boa Sorte, onde também criou seus quatro filhos. “Nasci e criei aqui mesmo. Primeiramente, meu trabalho era na lavoura, tocando roça. Quando casei, minha mulher me ajudou na enxada, carpincho, colhendo arroz, feijão, milho. A gente vivia disso”, conta.
Com o tempo, veio a virada. A lavoura ficou para trás e deu lugar a um novo negócio. “Minha mulher falou pra a gente mexer com outro ramo porque ficaria melhor pra nós. Aí compramos vacas de leite, fomos fazer queijo. Aposentei e continuamos vendendo queijo por uns 17 anos. Era o que sustentava a casa”, lembra.
Hoje, mesmo com 80 anos João mantém uma rotina intensa de trabalho e não pensa em parar. Para ele, se manter ativo tem sido um dos segredos da longevidade.
“Não posso parar com essa idade, não. Se a pessoa de idade para, vai ficando entrevado. Então eu tiro leite, faço cerca, roço, engodo o gado no campo. A gente tem que distrair com o que fomos criados fazendo", detalha.
A filha Rosa Maria, que é professora, reforça a fama de incansável do pai. “Ele passa quase o dia na roça. Foi até difícil conseguir que ele parasse para dar entrevista de tão ocupado que ele estava. É assim todo dia”, revela.
Mais do que trabalhador, seu João é também um elo vivo da história local. De acordo com Rosa, ele tem origem quilombola e faz parte da memória coletiva da comunidade, Bonifácio Lino Maria, José Matias Ribeiro e João Bonifácio Catarino.
“Ele tem origem de pessoas escravizadas. Meu pai nasceu da raiz de pessoas que deram início à comunidade. Ele é um grande exemplo, como pessoa, como trabalhador, como pai de família. Um paizão mesmo”, finaliza.
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