Levando tudo na bike, Lhama saiu do RS e quer chegar ao Acre
Terceira tentativa de viagem começou há um ano e meio, mas não há previsão de data para chegada ao destino
“Indo de bike, eu consigo ouvir o barulho de riacho, ver os pássaros, pensar mais sobre a vida mesmo”, resume Lhama, que abandonou o nome de nascimento, Diego Taizer, em conjunto à vida tradicional. Colocando o minimalismo realmente em prática, ele saiu do Rio Grande do Sul com tudo na bicicleta e quer chegar ao Acre.
Depois de duas tentativas que fizeram com que ele retornasse para casa, Lhama está na estrada há cerca de um ano e meio, sem previsão de quando chegará ao destino final. Com uma bicicleta de mais de 40 anos, ele brinca que vai dando os jeitos de pouco em pouco.
“A gente vai se perdendo no tempo porque o tempo da estrada é outro. Você para de ficar olhando o relógio, o celular e sabe o que me guia? O barulho dos animais, o céu mesmo porque é vendo isso que sei quando preciso parar e acampar”, diz o viajante.
Voltando ao início da história, sobre como tudo começou, o ciclista explica que era skatista, mas devido ao esporte ser de impacto, teve diversas fraturas. E, de acordo com os médicos, o ideal seria que ele fizesse cirurgias arriscadas.
Sem aceitar o diagnóstico, Lhama comenta que resolveu deixar o skate de lado e voltar a pedalar. “A bike não tem esse impacto do skate, você vai pedalando e o impacto fica nela, não em você. Eu já pedalava antes, mas comecei a fazer algumas distâncias maiores para treinar, ver até onde ir”.
Na época, o artesão já estava se desvinculando da vida mais tradicional e tinha começado a trabalhar com circuitos de música eletrônica. E, ao invés de ir para os destinos com carro ou moto, decidiu colocar a bicicleta na estrada.
“Eu fazia 100 km, depois fui aumentando para 150 km e indo mais, até que vi que estava preparado e que poderia cicloviajar mesmo. Organizei todas as minhas coisas e decidi que ia chegar até o Peru por uma questão ancestral, queria me conhecer mais de verdade, fazer essa ligação”, comenta Lhama.
A ideia era sair do Rio Grande do Sul e passar pela América Latina, mas, no meio do caminho, ele descobriu que seria pai. “Voltei para onde a gente morava, fiquei com minha ex-companheira, fomos criando meu filho que agora tem 10 anos e deixei a ideia de lado. Depois, o relacionamento acabou, meu filho já estava maior e resolvi tentar de novo”.
Mais uma vez com tudo organizado, as poucas roupas na mochila, o viajante pegou a estrada. “Eu estava no Paraná quando vi na televisão a notícia de que a gente estava em uma pandemia, isso enquanto eu tomava café. Aí foi a mesma coisa, voltei para minha cidade e fiquei lá. Tentei colocar na minha cabeça que não era para eu fazer a viagem”, diz.
Nesse período, Lhama comenta que conheceu sua atual companheira e o desejo de fazer a aventura voltou a ficar forte. “Ela também precisava mudar o estilo de vida e aí me conheceu. A gente resolveu ir juntos para a viagem, dessa vez com foco em chegar ao Acre, em uma comunidade de povos originários no extremo do País”.
Durante o trajeto, sua companheira precisou retornar, mas Lhama decidiu seguir e, hoje, está em Campo Grande. “O objetivo é chegar a um festival feito na extremidade do Brasil. Quero poder conversar com essas pessoas mais velhas, que possuem ideias tão diferentes de nós, para ver o que elas acham de tudo isso que está acontecendo”.
E, em relação aos perrengues e desafios da viagem em si, ele explica que tenta ver as coisas de uma forma não tão complicada. “Se for para acontecer, acontece. Acho que para cicloviajar você precisa ser um bom campista, ter noções de sobrevivência mesmo e se planejar estrategicamente”.
Tanto é que as malas são destinadas para guardar roupas, equipamento para arrumar a bicicleta, itens de cozinha e produtos para o artesanato.
Exemplificando, Lhama pontua que sua alimentação é toda pensada para o alto desempenho na bicicleta e detalhes como a quantidade de água levada fazem a diferença. E, para conseguir se manter, são os artesanatos que garantem a renda para as compras de alimentação e manutenção na bicicleta do século passado.
“Faço biojóias e outras opções também, a gente vai se dedicando e usando o conhecimento. O que sei, hoje, é que não consigo mais ter uma vida tradicional, isso aqui é que é vida para mim”, completa.
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