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Comportamento

Mãe boa é mãe calada: por que falar da realidade materna incomoda tanto?

Muita gente questiona essa onda de mães que decidiu escancarar as feridas da maternidade

Jéssica Benitez | 04/05/2023 08:14
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Muita gente questiona essa onda de mães que decidiu escancarar as feridas da maternidade. Poxa, mas aonde foi parar o 'no final tudo vale a pena?' nos perguntam.

Não é que ter filhos não valha o absoluto esforço que a demanda exige, mas ao longo do tempo foram enfiando muitas coisas no combo do 'padecer no paraíso' e nós, mães, fomos engolidas, assumindo tudo sem perceber. Acabamos aceitando a ideia de que o sacrifício é este mesmo, aceita e fica calada. Quem mandou ter filho?

Desta forma, gestar, parir e criar um ser humano passou de dádiva à penitência, mas num pacto de silêncio para que não fossemos condenadas por "reclamar" de algo tão sacro quanto dar a luz.

Então, minhas queridas, óbvio que no quebrar dos ovos, TUDO VALE A PENA, mas tudo que diz respeito tão somente ao elo mãe e filho.

Isso não inclui o acúmulo de tarefas nas suas costas diante da ausência do pai, sob a justificativa do tal instinto materno.

Isso não inclui nossa exclusão dos ambientes de convívio social, nem nossa expulsão do mercado de trabalho no pós-maternidade.

Isso não inclui nossa renúncia compulsória enquanto mulher por não termos tempo de executar tarefas triviais para nós mesmas (devido a ausência de ajuda).

Isso não inclui o apagamento, esquecimento e isolamento, principalmente na primeira infância dos nossos rebentos quando vivemos espécie de exílio porque a sociedade não suporta conviver com choro, "birra", correria, travessura de crianças pequenas ou então porque este ou aquele ambiente "não é lugar de criança", principalmente quando se trata de mães atípicas.

Isso não inclui a liberdade que as pessoas (acham que) têm de julgar, criticar e palpitar na vida de uma mulher que vive a maternidade.

Portanto, claro que ter filhos, para quem deseja isso, óbvio, é sim uma tarefa linda, recompensadora e de extrema dedicação, porém é necessário que continuemos debatendo e desmistificando o assunto para que a real maternidade seja aquela aonde a mãe tenha suporte para viver a criação dos filhos e não apenas sobreviver a ela.

Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae

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