Mãe boa é mãe calada: por que falar da realidade materna incomoda tanto?
Muita gente questiona essa onda de mães que decidiu escancarar as feridas da maternidade
Muita gente questiona essa onda de mães que decidiu escancarar as feridas da maternidade. Poxa, mas aonde foi parar o 'no final tudo vale a pena?' nos perguntam.
Não é que ter filhos não valha o absoluto esforço que a demanda exige, mas ao longo do tempo foram enfiando muitas coisas no combo do 'padecer no paraíso' e nós, mães, fomos engolidas, assumindo tudo sem perceber. Acabamos aceitando a ideia de que o sacrifício é este mesmo, aceita e fica calada. Quem mandou ter filho?
Desta forma, gestar, parir e criar um ser humano passou de dádiva à penitência, mas num pacto de silêncio para que não fossemos condenadas por "reclamar" de algo tão sacro quanto dar a luz.
Então, minhas queridas, óbvio que no quebrar dos ovos, TUDO VALE A PENA, mas tudo que diz respeito tão somente ao elo mãe e filho.
Isso não inclui o acúmulo de tarefas nas suas costas diante da ausência do pai, sob a justificativa do tal instinto materno.
Isso não inclui nossa exclusão dos ambientes de convívio social, nem nossa expulsão do mercado de trabalho no pós-maternidade.
Isso não inclui nossa renúncia compulsória enquanto mulher por não termos tempo de executar tarefas triviais para nós mesmas (devido a ausência de ajuda).
Isso não inclui o apagamento, esquecimento e isolamento, principalmente na primeira infância dos nossos rebentos quando vivemos espécie de exílio porque a sociedade não suporta conviver com choro, "birra", correria, travessura de crianças pequenas ou então porque este ou aquele ambiente "não é lugar de criança", principalmente quando se trata de mães atípicas.
Isso não inclui a liberdade que as pessoas (acham que) têm de julgar, criticar e palpitar na vida de uma mulher que vive a maternidade.
Portanto, claro que ter filhos, para quem deseja isso, óbvio, é sim uma tarefa linda, recompensadora e de extrema dedicação, porém é necessário que continuemos debatendo e desmistificando o assunto para que a real maternidade seja aquela aonde a mãe tenha suporte para viver a criação dos filhos e não apenas sobreviver a ela.
Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae
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