Mãe venceu o câncer para poder se formar e ver a filha na faculdade
Sandra teve câncer no útero enquanto gestava Ana, que nasceu de 6 meses, durante a graduação
Falar sobre o período de Sandra Rosa Lucas de Souza na faculdade significa trazer uma longa história de batalhas que vão desde gestação de risco da filha mais nova até o enfrentamento de um câncer no útero ao mesmo tempo. Apesar de todas as dificuldades, a servidora pública conta que, olhando seu passado e presente, só consegue pensar que venceu tudo para se formar, criar os filhos e ter a alegria de ver a caçula também na graduação.
“Contar sobre minha trajetória significa reviver uma história que é muito importante para mim”. Formada em Letras, Sandra, de 47 anos, precisou superar desde a dificuldade de terminar o período acadêmico durante a vida adulta até dois cânceres no decorrer do tempo para chegar aos dias de hoje e ver seus sonhos se tornando realidade.
Sandra conta que, por ser de uma família humilde, precisou se dedicar ao trabalho, deixando os estudos em segundo plano durante a adolescência. Apenas em 1998, com 24 anos e tendo dois filhos pequenos para criar, ela e seu marido resolveram retomar o ensino escolar e conseguiram completar os anos que faltavam.
Até então, ela imaginava que ter a escolaridade básica completa seria suficiente, mas, durante uma caminhada pelo bairro em que morava em Paranaíba, se deparou com a universidade. Desde então, um novo mundo com sonhos se abriu, como ela descreve.
Eu entrei no pátio da faculdade e aquele ambiente me chamou tanta atenção. Lembro como se fosse hoje, as paredes pareciam falar comigo. Naquele dia, eu já sabia que iria passar por dificuldades, mas mesmo assim, quis enfrentar", conta Sandra.
Tendo passado no vestibular para cursar Letras, ela relembra que os problemas iniciais iam além de cuidar dos filhos. Por não ter conseguido se dedicar aos estudos durante a adolescência, Sandra detalha que a dificuldade em conseguir ler e escrever pareciam muito maiores do que as dos colegas.
Mesmo assim, a servidora continuou firme com ajuda de amigas e, dois anos depois, as ondas começaram a ficar mais fortes. “Não bastando a lacuna da bagagem escolar, em 2004, no meio da faculdade, eu tive uma gravidez de alto risco. Acabei ganhando minha filha com seis meses”, diz.
Conforme Sandra relata, o motivo de Ana, a filha caçula, ter nascido prematuramente foi causado por um tumor no útero descoberto apenas no momento do parto. “Quando a médica fez o parto, ela percebeu o tumor. Então, três meses depois, quando minha filha saiu da UTI, eu fui internada para retirar o útero”, relembra.
Na época, devido ao medo da filha não sobreviver, Sandra ainda sofreu com depressão pós-parto e conta que graças à ajuda da irmã é que teve condições de não desistir de tudo. Com o mundo parecendo desabar, o sonho de continuar frequentando a universidade parecia cada vez mais longe e sem conseguir pagar as mensalidades do curso, a única solução encontrada por Sandra foi interromper a graduação.
“Fui para trancar minha graduação e quando cheguei lá para uma reunião, o dono da faculdade, minhas amigas, as coordenadoras do curso e até meus professores tinham feito uma reunião sobre mim”, explica.
Sabendo das dificuldades da aluna, o grupo tomou algumas decisões, concedeu uma bolsa temporária e impulsionou Sandra a continuar com os estudos. “Eu chorava sem parar, voltei para o hospital com tanta força para ver minha filha. Fiquei renovada e quando consegui voltar para a faculdade, não tinha tempo ruim, não tinha como pensar que aquele ambiente não era para mim, porque recebi muito apoio.”
Os dois anos seguintes se passaram com ajuda de amigas, familiares e professores dentro e fora das salas de aula, até que Sandra conseguiu receber seu diploma. Ela narra que, até hoje, se emociona pensando naqueles momentos e no “milagre” gerado pelos amigos para que ela conseguisse se formar.
“Eu levava a Ana para dentro da faculdade e a gente se revezava para cuidar dela. Meus professores ajudavam segurando ela no colo para eu copiar os textos e conseguir focar. Assim, fui indo até terminar o curso.”
Anos depois, já tendo trabalhado até como professora, ela conta que enfrentou um novo câncer e mais lutas precisaram ser enfrentadas. “Aquilo mudou minha vida completamente de novo, mas eu já tinha aprendido que tudo o que a gente quer, a gente tem que ir atrás. E eu fui.”
Hoje, 17 anos depois da gravidez de risco em que os momentos mais difíceis começaram, ela resume que só consegue pensar em gratidão. Ainda mais vendo a filha que tanto teve medo de perder também entrando na universidade.
“Ela faz História na Universidade Federal e sei que tudo o que passei valeu a pena. É muito bom olhar e ver tudo o que conquistei, sei que é uma superação grande. O que passou, passou. Hoje é felicidade.”
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