Maio é inteirinho dedicado às mães, mas você realmente as enxerga?
Ainda é tabu conversar sobre a escuridão que a maternidade pode trazer à vida da mulher
Dar a luz. Quer expressão mais bonita que essa? Você pode pensar que se trata de fazer nascer um ser iluminado e é, também. Mas, analisando do lado de dentro, dar a luz significa doar nossa luz ao filho e, assim, logo após parir e ao longo dos primeiros meses, se apagar um pouco - ou muito.
Ainda é tabu conversar sobre a escuridão que a maternidade pode trazer à vida da mulher. Baby-blues, depressão. E isso nada tem a ver com não amar o bebê, não desejar ser mãe ou não ser agradecida pela saúde do filho. Não é falta de amor, falta de Deus ou falta de fé.
Tem a ver com a montanha russa de hormônios, com a gigantesca mudança de vida proporcional à imensa responsabilidade que é cuidar de uma criança que, convenhamos, pesa infinitamente mais nos ombros da mulher.
Estudo feito pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgado em junho passado revelou que 25% das mulheres brasileiras sofrem de depressão pós-parto, ou seja, uma a cada 4 puérperas têm diagnóstico comprovado. Isso sem levar em consideração as que não buscaram ajuda profissional e enfrentam a doença solitárias, talvez sem que elas mesmas percebessem a gravidade da situação.
O quadro é ainda pior quando falamos de mulheres que gestaram e pariram durante a pandemia. Estudo feito pelo Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) em dezembro de 2021 apontou que 38% das mães recém-nascidas também foram acometidas.
Os agravantes apontados foram: ansiedade diante do cenário mundial, possível ausência de seus parceiros no parto, bem como a eminente falta de leito nos hospitais devido ao colapso da saúde à época.
A gente - e os que estão ao redor também - acaba negligenciando o lado sombrio do maternar e nessa cortina de fumaça nossa saúde mental se vai sem ninguém perceber. Pensar que 'as coisas são assim mesmo' e ter essa máxima reforçada quando há coragem para desabafar, acaba afundando ainda mais uma mulher que está nessa batalha.
Dia desses li notícia de que uma mãe não aguentou a barra. Se entregou. Passei horas olhando suas fotos, todas sorrindo, cabelos ao vento, totalmente contrárias ao estereotipo enganoso criado no imaginário das pessoas quando o assunto é depressão.
Poderia ser eu. Poderia ser a mãe recém-nascida do sétimo andar. Poderia ser uma amiga. Poderia ser você. Cuidar e discutir sobre a saúde mental da mulher que acabou de parir é mais que protocolo, é necessidade. Dê um pouco da sua luz para clarear os caminhos e pensamentos de uma puérpera.
Converse, ouça de coração aberto. Ajude a buscar auxílio profissional. A escuridão materna é real e pode estar muito mais perto do que se imagina.
Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae.