Mesmo depois do parto, dor de mãe é suportar dias sem pegar filho no colo
Ala de prematuros do Hospital Universitário é misto de alívio e angustia para mães
No Hospital Universitário, o corredor que leva até o setor neonatal onde ficam os bebês prematuros tem um caminho longo, feito de blocos de vidro que transpassam a luz até a parede azul claro. Ao final, está o “segundo ventre”, responsável em terminar o “trabalho”, que por algum motivo emergencial, a natureza não deu conta de cumprir.
Mas, ali não é só o espaço para a reabilitação dos bebês. O lugar também abriga uma mistura confusa de sentimentos como amor, alívio e angustia. Afinal, no Dia das Mães, não conseguir tocar o o filho, que está tão próximo, causa no mínimo ansiedade e inquietação.
A chefe do setor no período vespertino, a enfermeira Camila Louzado, 35 anos, conta que a maioria dos bebês que chega ali teve a gestação interrompida entre 6 e 7 meses.
Eles mais parecem frágeis pacotinhos embrulhados em cobertores azuis ou rosas, que colorem o ambiente completamente branco.
As mães entram e saem do lugar, porém a maioria é bem tímida e se reserva ao direito de apenas ficar sentada observando com ansiedade o que espera logo segurar no colo: seu filho ou filha.
Agonia - Uma delas é a advogada e professora universitária, Priscilla Monge Brugeff, 35 anos. Ela conta que teve Maria Cecília com 34 semanas devido uma complicação na gestação, no dia 18 de abril e só conseguiu segurá-la nos braços apenas dois dias depois.
“Sou mãe de outros dois filhos. Foi um choque pra mim, pois quando a gestação ocorre sem complicações a primeira coisa que acontece após o parto é segurar o seu filho. O que não aconteceu com Maria Cecília, que foi levada direto para incubadora”, detalha a mãe.
Os dias sem poder segurar Maria Cecília foram de extrema agonia para Priscila. O que a confortava apenas era saber que a filha estava ali, aparentemente bem. “Você fica perdida. Não sabe realmente se está tudo bem. Só sabe que ela está ali ao seu alcance, porém você não pode tocá-la”, descreve.
Mesmo depois, que a equipe responsável pelo setor liberou o contato entre mãe e filha, Priscila continua na incerteza se conseguirá ou não reunir toda a família neste Dia das Mães. “Ainda não sei se receberemos alta antes, no dia ou só depois, mas mesmo nesta situação aqui me senti acolhida, afinal não sou a única”, diz.
Sobre ter companhia na ala hospitalar, a advogada revela que a fragilidade das mães as unem e todas acabam se ajudando. “É incrível”, descreve.
Mãe de todos e todas – A responsabilidade vai muito além de chefiar o setor durante a tarde. A enfermeira Camila conta que acaba sendo mãe de todos os pequenos que estão ali e também de suas mães. “Enquanto elas permanecem aqui eu e minha equipe somos responsáveis em ensiná-las a como limpar o bebê nesta situação, amamentar e depois segurá-lo”, explica.
Em poucos minutos dentro do setor é possível ver facilmente do que a enfermeira falava. Enquanto as enfermeiras do lugar são jeitosas e destemidas ao manusear os bebês, as mães observam apreensivas.
Experientes, as profissionais são rápidas ao limpar e passar pomada nos recém-nascidos, pratica que deve ser absorvida por quem aguarda temerosa. “Ela ficam com medo. Muitas são mães de primeira viagem, ou mesmo, acabam se tornando mesmo com filhos, pois enfrentam a situação pela primeira vez”, comenta.
Com esta responsabilidade, Camila conta que acaba se apegando aos pequenos e suas mães e para o dia delas sempre acaba preparando algo, que pode acalmá-las. “Na Páscoa, trouxe chocolate para as que estavam aqui. Também pretendo surpreendê-las neste domingo, talvez com alguma ‘festinha’”, adianta.