Na Avenida Noroeste, todo mundo é rei e rainha para o Baiano da paçoca
Clodoaldo Duarte fica na Avenida Noroeste e quando alguém chega, ele abre o sorrisão e diz “Bom dia, meu rei”
Animado e disposto, Clodoaldo Duarte tem alegria que contagia. Ele é conhecido por Baiano e vende paçoca a R$ 1,00, no semáforo da Avenida Noroeste com a Avenida Julho de Castilhos, em Campo Grande. Ali, os motoristas têm tratamento vip e é só alguém se aproximar que ele abre o sorrisão e diz “Bom dia, meu rei”, “Bom dia, minha rainha”.
“É um gesto de carinho e gosto de tratar todos assim, tanto quem está sorridente quanto aqueles que ficam com a cara fechada. São meus reis e rainhas”, fala Baiano. Depois de cumprimentar, ele oferece “vai uma paçoquinha hoje?” e até dá um aperto de mão. A compra é consequência do tratamento.
“De 200 não, poucos dizem sim, mas tudo na vida é perseverança. A receptividade é mesma para todos e aqueles que não querem hoje voltam outro dia e compram, só porque tratei bem. Acontece também de uma criança querer e o pai não ter dinheiro, dou a paçoca e depois os pais retornam e compram mais. É visão de venda”, garante.
O jeito de ser cativa tanto, que foi uma de suas clientes que ligou para o Lado B e sugeriu a reportagem. Na ligação, a leitora disse que costuma passar pelo local com o filho e até se assusta quando não o vê. “É muito animado, meu filho o adora. Teve uma vez que não o vi, achei falta e no outro dia já perguntei se tinha acontecido alguma coisa”.
Baiano é pastor e veio para Campo Grande em 2017, mas no final do ano passado deixou a igreja para cuidar da família. “Minha esposa Lilian tem miocardiopatia, um problema no coração. Adoeceu após o nascimento do nosso primeiro filho, desde então ela passa mais tempo na cama, por isso me afastei. Não posso cuidar outras famílias se não consigo ajudar a minha ”, comenta.
Agora ele tem que segurar as pontas. “Em casa, eu lavo, cozinho, limpo a casa, brinco com o filho e ajudo a esposa. Ela é linda e está grávida novamente. É gravidez de alto risco, os remédios são caros e como perdi os benefícios de pastor, comprei paçoca e comecei vender desde janeiro deste ano”.
O dinheiro que ganha não é muito, dá para pagar o aluguel, água, luz e fazer uma compra do mês enxuta. “É tudo regrado, mas não deixo minha família passar necessidade. O que tiro dá para comer. Nunca tinha vendido antes, porém descobri que sou um bom vendedor e agora vendo qualquer coisa”, afirma.
Ele fica na rua até às 14h, mas quando cumpre a meta de vender entre 40 e 50 paçocas volta pra casa. “Essa é minha rotina. Aqui é minha escola e também uma sessão de terapia, não trago nenhum problema de casa pra cá e nem levo pra lá. Continuo em frente, pois não podemos desistir por conta das dificuldades”, destaca.
Alguns clientes doam roupas, sapatos e deram o chapéu de palha que ele usa para se proteger do sol enquanto trabalha. Quando o sinal fecha é hora de vender e lá vai Baiano todo empolgado novamente. Os motoristas que o viram outras vezes no local, fazem questão de abaixar o vidro do carro e apertar sua mão. Outros que não conseguem parar gritam, “Iaê, Baiano”, “Fala, Bahia”.
Durante o bate-papo, Baiano deu uma notícia triste para os que conhecem. Quer se mudar para São Paulo até 2020 para estar próximo da família e dar uma melhor qualidade de vida a esposa. “Lá vamos conseguir cuidar melhor da saúde dela. Aqui o pré-natal mesmo para gravidez de alto risco demora, não é fácil conseguir uma consulta com cardiologista pelo SUS (Sistema Único de Saúde), exames. Pelo menos vamos estar perto dos parentes até para caso de ajuda”, conclui.