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Comportamento

Na dança da vida, Tinho deu seu último pulo e voou para longe

Dançarino e coreógrafo de MS fez seu último passo no início da semana; era na arte do movimento o seu maior talento

Raul Delvizio | 24/12/2020 08:03
Tinho fez seu último voo... desta vez para mais longe (Foto: Arquivo Pessoal)
Tinho fez seu último voo... desta vez para mais longe (Foto: Arquivo Pessoal)

Era na dança que Tinho Sherman se entendia. Em cima do palco, a entidade amiga e companheira de corpo e alma fazia seu mundo girar, sempre regido ao ritmo quaternário, em contagens de 1 a 8. Nas coreografias, os passos de ballet se encontravam com os de dança de rua, a força e a energia de dançar se revezavam aos momentos de sutileza e graciosidade, e o seu lado masculino também despertava o feminino interior. Era considerado um ser híbrido – nada mais do que um artista completo.

Mas aos 28 anos, seu espetáculo na dança da vida chegou ao fim e, para ele, a cortina finalmente se fechou.

Nos passos da vida, o dançarino fez dela uma bela coreografia (Foto: Arquivo Pessoal)
Nos passos da vida, o dançarino fez dela uma bela coreografia (Foto: Arquivo Pessoal)
Era na dança era onde Tinho mais se encontrava (Foto: Arquivo Pessoal)
Era na dança era onde Tinho mais se encontrava (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 28 anos, o dançarino de MS "pulou" do palco da vida (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 28 anos, o dançarino de MS "pulou" do palco da vida (Foto: Arquivo Pessoal)

É difícil para o jornalista que aqui vos escreve ficar isento de sentimentos no texto. Eu mesmo tive a chance de conhecê-lo pessoalmente e assistir todo o seu talento na arte do movimento. Porém, em pleno início de semana natalina, fiquei sabendo que Tinho havia feito seu último pulo... e assim voou para longe.

Douradense de nascença, foi na sua cidade natal onde participou do grupo New Street Power – o seu pontapé na arte da dança – até que se mudou em definitivo para a Capital no ano de 2008. Aqui, Tinho pode integrar ativamente em outros grupos de dança, exercitar diferentes estilos nos ensaios, dar aula em vários espaços na cidade e até promover projetos como no finado Colégio Latino Americano e na escola municipal de educação infantil EMEI Iracy Coelho.

Por quase 10 anos, formou turmas de alunos, gravou vídeos, ganhou prêmios e marcou espetáculos com sua presença no palco. Agora, deixa para trás o eco dos aplausos.

Do ballet clássico às danças urbanas, Tinho era um dançarino completo (Foto: Arquivo Pessoal)
Do ballet clássico às danças urbanas, Tinho era um dançarino completo (Foto: Arquivo Pessoal)
Era na sua companheira de corpo e alma – a dança – sua válvula de escape (Foto: Arquivo Pessoal)
Era na sua companheira de corpo e alma – a dança – sua válvula de escape (Foto: Arquivo Pessoal)

"Lembro bem quando ele veio de Dourados pra cá participar da edição do MS Street Dance Fest de 2008. Era apenas um guri de 16 anos, mas já tinha um talento raro, marcante e impressionante. Ele pediu para que ficasse no alojamento dos dançarinos e, posteriormente, me procurou querendo ficar em Campo Grande de vez", disse Edson Clair, diretor-fundador e coreógrafo de 57 anos do Grupo Funk-se.

Em pouco tempo, passou do Street Pop para o elenco principal de outro grupo também coordenado por Edson, o Funk-se. Seu primeiro espetáculo foi "Frágil ou o Sentido da Ruptura" – e vieram muitos outros na sequência.

"Ele sempre me agradecia por tudo isso, até me chamava de pai. Hoje, sou eu quem te agradeço, filho, pelo prazer de ter tido você por perto e compartilhado tantos momentos na dança", afirmou.

Aqui, Tinho junto de Edson e do elenco do grupo Funk-se (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, Tinho junto de Edson e do elenco do grupo Funk-se (Foto: Arquivo Pessoal)
Neste registro, Tinho era mais novinho e havia conquistado um de seus vários prêmios (Foto: Arquivo Pessoal)
Neste registro, Tinho era mais novinho e havia conquistado um de seus vários prêmios (Foto: Arquivo Pessoal)
Ao lado de Bia, amiga de pose, de dança e para todas as horas vagas (Foto: Arquivo Pessoal)
Ao lado de Bia, amiga de pose, de dança e para todas as horas vagas (Foto: Arquivo Pessoal)

Bia Ramos não só "dividia" a mesma idade, mas também compartilhava a amizade e o trabalho artístico com Tinho, isso na época do Estúdio FNK. Para ela, falar sobre os ensaios é relembrar muita coisa boa.

"Ele sempre fazia alguma peripécia para a gente rir, era o maior alto astral. Na dança, Tinho carregava um jeito ao mesmo tempo leve e intenso. Com sua altura e braços alongados, mostrava todo o drama do wacking e a agilidade no house dance (estilos de dança), deixando a gente perplexo. Pegava coreografias difíceis em questão de minutos. Era pura ginga, abraçava seu jacking interior com carinho e ternura", garante.

Quer uma prova? Confira um dos vários vídeos gravados com Tinho:

Edson e Bia relembraram que até virou piadinha interna chamar de "Tinho Sherman" quando alguém dançava de um jeito forte e preciso, com bastante energia no movimento.

"Mesmo que ele tenha ficado pouco tempo entre nós, ele tinha essa urgência de querer fazer as coisas, tanto é que fez. Feliz de ter tido a oportunidade de ser encantado por sua presença artística avassaladora", comentou Edson.

Na cara e na coragem, Tinho se "desconectava" em movimentos (Foto: Arquivo Pessoal)
Na cara e na coragem, Tinho se "desconectava" em movimentos (Foto: Arquivo Pessoal)
Mas ele também fazia boas "macaquices" (Foto: Arquivo Pessoal)
Mas ele também fazia boas "macaquices" (Foto: Arquivo Pessoal)
De Dourados para Campo Grande, sua carreira começou mesmo com as danças de rua (Foto: Arquivo Pessoal)
De Dourados para Campo Grande, sua carreira começou mesmo com as danças de rua (Foto: Arquivo Pessoal)

Atualmente, Tinho vivia em Santos, no litoral paulista, onde trabalhava com a Cia 013 de Dança ao lado de Sérgio Biller, de 38 anos, seu companheiro de profissão e de vida. Para ele, este Natal não poderia ser diferente: vai ser de muita saudade.

"Mesmo que tenha partido, ele ainda representa muita coisa na minha vida. Desde inspiração, combustível, até ser o meu parceiro, melhor amigo, tudo. Fazia totalmente parte do meu trabalho e da minha vida pessoal. Funcionávamos não somente como um casal, mas também uma fonte de ideias um para o outro, questionávamos juntos sobre vida, arte e dança. Aprendi a me conhecer melhor por causa dele", confessa Sérgio.

Tinho ao lado do companheiro de vida e de profissão, Sérgio Biller (Foto: Arquivo Pessoal)
Tinho ao lado do companheiro de vida e de profissão, Sérgio Biller (Foto: Arquivo Pessoal)

Na semana anterior, Tinho reclamou de fortes dores na cabeça, como se estivesse com enxaqueca. Quando chegou o último final de semana, passou mal, teve que ir ao hospital e até deu uma melhorada depois de ser medicado. Na segunda-feira do dia 21, o dançarino foi internado às pressas já com falta de ar e acabou não resistindo. Covid-19 já foi descartada.

Sérgio conviveu ao lado do namorido por 4 anos, dois deles em namoro à distância quando Tinho morou um tempo no interior de SP, em Sorocaba. Mais recentemente, ele havia se mudado para Santos e estava morando junto do parceiro. Mesmo que tenha sido breve, foi tempo suficiente para o amor não medir seus esforços.

Dançarino de MS nunca precisou de uma luz exterior porque sempre brilhou por dentro (Foto: Arquivo Pessoal)
Dançarino de MS nunca precisou de uma luz exterior porque sempre brilhou por dentro (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Sérgio, este vai ser um fim de ano bem triste sem o namorido ao seu lado (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Sérgio, este vai ser um fim de ano bem triste sem o namorido ao seu lado (Foto: Arquivo Pessoal)

"Do acordar ao dormir, Tinho era meu melhor presente. Respirávamos juntos toda a arte, todo um companheirismo e amor mútuo. Dividíamos alegrias e tristezas como faz parte da vida. Antes, foi ele quem me ensinou a ser uma pessoa melhor. Agora, vou ter aprender a continuar a ser assim mesmo sem ele por aqui".

No vídeo a seguir, confira o documentário "Conte Outra Vez..." com a participação de Tinho Sherman revelando parte de sua história e mostrando o seu dom natural para a dança.

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