Nascida às pressas, Luna viu covid de perto isolada em hospital
Na pandemia, família campo-grandense passou por um bocado antes mesmo de levarem a própria filha para casa
Acreditem: essa história tem um final de feliz. Mas até chegar lá, Mari, Rodrigo e a pequena Luna passaram por momentos difíceis. Os pais contraíram a covid-19 mesmo respeitando as orientações da quarentena e do isolamento social. Fato é que a infecção aconteceu aos dois, e a doença esbarrou na bebê sem ela ao menos ter a chance de vir ao mundo primeiro.
"Quando eu recebi o meu resultado positivo para covid, eu só quis chorar. Imediatamente enviei o exame para minha obstetra que me disse: 'se prepara, porque a gente vai ter que fazer a cesária hoje'. Não sabia se eu ia passar a doença para minha filha, ou pior, nem sobreviver para conhecê-la", enfatiza a publicitária Mari Armôa.
A gravidez da Luna não foi acidental, muito pelo contrário, foi bastante planejada pelo casal. Mas verdade seja dita, quem aqui imaginava ter a vida virada pelo avesso por uma pandemia de proporções históricas? "Já estávamos tentando engravidar. Sempre quis ter um parto normal, humanizado, por isso junto ao Rodrigo pesquisei sobre o assunto, chamei uma doula, contei com o apoio de amigas. Queríamos a participação de todo mundo. Mas eis que veio a pandemia", comenta.
O processo da primeira gravidez já é difícil, no caso de Mari mais ainda por conta das dores persistentes no corpo e principalmente do alto nível de hipertensão gestacional. No parto cirúrgico, isso poderia causar uma hemorragia incontrolável e ela morrer na mesa de operação. "Ter que mudar de planos assim, do nada, foi terrível. Me senti muito sozinha, longe da família, e também culpada pelo isolamento que recebemos depois". Os três passaram alguns dias na ala de pacientes com síndrome respiratória aguda.
"E agora? Será que meu caso vai ser fácil de tratar? Será que vou ter que ficar entubado? Será que eu vou morrer?", questionou na época o maestro Rodrigo Faleiros. O pai da neném explica que o maior sentimento que a doença causa na gente é a incerteza. "Tudo é muito recente, não sabemos como a covid vai reagir em nosso corpo. Na hora do parto, nosso maior medo era o contágio na Luna. Foi doído demais passar por tudo isso", ressalta.
A cesárea – A cirurgia teve início às 17h. Equipe médica inteira paramentada com as chamadas EPIs (equipamento de proteção individual), o que segundo Mari a deixou mais assustada. A programação com a doula-amiga teve que ser cancelada, é claro, mas a playlist de músicas encomendada para aquele parto-piloto que não aconteceu ficou mantida de pé. "Luna nasceu ao som de 'A Kind of Magic', de Queen, banda favorita minha e do Rodrigo. Ela nasceu saudável, chorando muito como deve ser pra toda bebezinha. A cesária foi um sucesso, tudo uma questão de mágica", brinca.
Após o parto – A magia no nascimento de Luna passou rápida, porque agora se tratava de uma mulher com covid que acabou de parir uma criança possivelmente doente também. O clima de festa, de maternidade, foi substituído pelo tom médico, protocolar. Os três foram isolados e ficaram no mesmo andar que recebe os pacientes com coronavírus. Inclusive Rodrigo, que mesmo sem o diagnóstico de confirmação positiva, foi mantido na ala com sintomas. Após o período de três dias, a família teve alta do hospital e puderam retornar para casa. "Foi então que contratamos uma cuidadora. Não tínhamos a condição de manter a Luna bem se nós dois não estávamos sendo cuidados também. Ela se tornou uma amigona, parceira mesmo, depositando uma amor incondicional para nossa filha", afirma o novo papai.
20 dias depois – "Agora que estamos tendo o nosso momento juntos de pais e filha, de afeto e sem a máscara, que não houve lá na maternidade. Meu leite está sendo o remédio que a Luna tanto precisava. Mesmo com toda essa loucura, me recupero a cada dia. Todo mundo me dizia que a coisa mais maravilhosa era sentir o cheirinho do seu próprio filho. E só agora estou começando a experimentar isso". Em decorrência da covid, Mari ainda possui leve cansaço e ainda não recuperou 100% do seu olfato.
Mês-aniversário – No primeiro mês de vida que Luna completa, Rodrigo escreveu uma mensagem no seu perfil do Facebook sobre como estavam os três depois de todo esse ocorrido, e aproveitou para agradecer aqueles que virtualmente depositaram carinho e amor à nova família. "Não foi nada fácil, mas vencemos graças à ajuda, mesmo distante, de muita gente. Que o momento de segurança e tranquilidade chegue logo para que todos os nossos queridos possam finalmente conhecer essa pequena Luninha".
Daqui em diante – Mari dá o recado: "as pessoas precisam continuar a fazer o isolamento social. A nossa história foi uma com final feliz, mas tem muita gente que não tem esse final. A cidade está com esse boom de casos, e não adianta em nada a gente ficar esperando a doença por si só se resolver. Tem que partir de nós mesmos. Cada vez que não se respeita o coletivo, é um ato de egoísmo, porque afasta o dia que a Luna será apresentada presencialmente à minha família", finaliza.
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