Nem “exílio” e picada de cobra fizeram Manoel desistir de ferrovia
Aos 67 anos, ex-ferroviário continua lutando para ver trens circulando por Mato Grosso do Sul
Depois de atuar na Marinha do Brasil, Manoel Vitório entrou na NOB (Noroeste do Brasil) e, desde então, mais de 30 anos passaram com o ferroviário se apaixonando pelos trilhos e vagões. Hoje, aposentado, brinca que poderia descansar, mas o amor antigo faz ele seguir lutando para ver os trens circulando por Mato Grosso do Sul.
Quando ainda estava na ativa, o sul-mato-grossense chegou a ser vice-presidente do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul. Mas, antes mesmo disso, começou a se envolver em projetos contra o sucateamento do transporte no Brasil.
Apesar de manter as lembranças vivas, Manoel faz questão de destacar que o sonho está bastante vivo no presente e que cada experiência guardada serve como base para dizer que a malha ferroviária é uma discussão atual.
Sigo no movimento pela revitalização da ferrovia e Trem do Pantanal e do Cerrado”, assina ao fim de quase todas as mensagens que envia e repete durante suas falas. Mas, longe de glamorizar a época da ferrovia, o antigo trabalhador da NOB explica que o cotidiano era intenso e os últimos anos foram de tristeza.
Essa parte é algo que ele deseja deixar no passado, mas sem apagar as memórias para que, caso um dia o sonho se concretize, a história seja diferente.
E é por isso que conta sobre os anos em que se dedicou à luta sindical e chegou a ser “exilado” na região de Ribas do Rio Pardo. “Ali era mantido sem água potável e sem luz elétrica, servia de castigo para os dirigentes sindicais e ativistas que lutavam para impedir a retirada do Trem do Pantanal e Cerrado e lutavam contra o sucateamento e privatização destrutiva da NOB”.
Na época, em 1988, ele trabalhava em Corumbá e, quando foi transferido para a estação na região de Ribas, ficou sem a esposa e os filhos por perto. O “castigo”, como ele define, durou pouco mais de um ano e acabou após ser picado por uma cobra.
Ao retornar para sua cidade, continuou nas atividades até que foi demitido em 1990. Sem pensar em abandonar a causa, ele explica que persistiu nas atividades mesmo fora da empresa.
“Os trabalhadores se uniam para ajudar quem tinha sido demitido por ser sindicalista e a gente continuou. Tentamos de tudo, mas no fim das contas a NOB foi totalmente privatizada e as demissões em massa começaram”.
Durante sua vida, ele chegou a viajar para outros países justamente para conhecer modelos intermodais, que conectam várias formas de transporte e que utilizam a ferrovia. Mas, no fim das contas, toda a experiência e esperança de ver os exemplos aplicados por aqui não se tornaram realidade.
Ainda assim, mesmo com várias negativas espalhadas por esses mais de 30 anos, ele garante que só vai deixar a luta de lado quando não tiver mais forças.
“Essa é a minha vida, eu luto por isso, acredito na causa e acho que só vou parar de pensar isso quando minha mente não estiver mais sã”, completa.
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