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Comportamento

No álbum de dentista, as fotos contam história do Carnaval de Campo Grande

Paula Maciulevicius | 08/02/2016 06:12
Dentista, Mariam passou pelas matinês acompanhada dos pais até a volta do Carnaval de Campo Grande, com os blocos de rua. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Dentista, Mariam passou pelas matinês acompanhada dos pais até a volta do Carnaval de Campo Grande, com os blocos de rua. (Fotos: Arquivo Pessoal)

Os 55 anos de Carnaval passados em Campo Grande estão estampados em fotos do álbum de família da dentista Mariam Kodjaoglanian Di Giorgio. Junto dos sorrisos dela, dos amigos e dos filhos, caminha no mesmo samba a história da folia na Capital. Desde quando pular Carnaval era com os pais na matinê, passando pelas viagens para o interior e retornando, agora, aos blocos de rua da cidade.

Mariam chegou a Mato Grosso do Sul com 11 anos de idade, em 1960. Mesmo ano em que pulou seu primeiro Carnaval por aqui. "Todo ano meu pai nos levava na matinê. À noite mesmo ele só deixou ir a partir dos 17 anos", conta a dentista, hoje com 66 anos.

À época, as festas eram no Sírio Libanês e no Rádio Clube. Mas outros lugares dividiam o palco da folia, como o União dos Sargentos e também do Cruzeiro. "Esse era do lado da escola Visconde de Cairu, na Antônio Maria Coelho", detalha. Os horários eram de domingo e terça à tarde para matinê, incluindo os concursos de fantasia da criançada e na parte da noite, era todo dia, de sábado a terça. 

Primeira folia à noite de Mariam foi com primo e amigas, aos 17 anos, em 1966.
Primeira folia à noite de Mariam foi com primo e amigas, aos 17 anos, em 1966.

Na memória da dentista, as matinês eram maravilhosas. Ela mesma não chegava a se fantasiar, mas todo mundo se produzia muito. "Várias famílias faziam para os filhos, nossa diversão eram as marchinhas antigas 'ô lalaô lalaô lalaô'...", cantarola um trechinho do que nos diverte até hoje.

Aos 17 anos, em 1966, a foto com um primo e as amigas marca o início da folia festada à noite. Mariam ainda ia com os pais e toda a família, como na idade já surgiam muitos casais de namorados, quem tinha levava e quem não tinha ia sozinho mesmo, mas entrava na brincadeira dos blocos. "Os meninos e meninas combinavam fantasias parecidas, tinha o bloco dos marinheiros, da Maria Maria, fora o corso que tinha na rua..."

As lembranças vão voltando como na batida do Carnaval. Pelas ruas da cidade, por anos se fez e se viu o "corso" passar. "Era aquele monte de carro, tudo enfeitado de Carnaval, com o povo lá dentro. Se era caminhonete, todo mundo saía na carroceria, cantando e espirrando água", descreve. O líquido era misturado com papel colorido para que sujasse de cores o primeiro folião que aparecesse.

O trajeto era, segundo a dentista, feito pela Rua 14 de Julho, entre as avendas Afonso Pena e Mato Grosso. "É igual quando tem desfile de 7 de Setembro, sabe? Todo mundo ficava assim, brincando na rua ou na calçada e tinha gente andando à pé, fantasiado".

Entre os anos 80 e 90, a folia voltou para as matinês junto dos filhos Gilberto e Guilherme.
Entre os anos 80 e 90, a folia voltou para as matinês junto dos filhos Gilberto e Guilherme.

Já na década de 70, a moda era sair percorrendo os clubes da cidade, em turmas, à pé mesmo. "A gente saía do Rádio Clube e ia para o Sírio Libanês ou Surian, de madrugada mesmo, um bando de moçada", lembra rindo. As peripécias na folia foram até mais ou menos 1977.

De 1980 em diante, Mariam mudou o perfil de comemoração e junto dela, a cidade também. Veio o casamento e os filhos e as matinês ganharam força com os pequenos fantasiados: Gilberto e Guilherme. "A noite já não estava mais tão legal, então levávamos as crianças nas matinês, daí já era no Rádio Clube Campo".

Em meados de 2000, a folia também chegou ao fim, pelo menos como se lembrava de ter sido anteriormente. Nem clube e nem rua, e a virada do milênio passou a levar os foliões para a estrada. "Aí começaram a ir tudo para Bonito, Rio Verde. Era o Carnaval no interior. Os filhos criaram asas e eu fiquei em casa vendo TV", lembra cada fase.

De 2010 para frente, nem os filhos se aventuravam mais a ir para as cidades e o Carnaval também passou a "minguar" para os lados de lá. Foram três anos acompanhando os desfiles só pela TV, até que no ano passado, a dentista retomou o samba. O cenário escolhido foi o Cordão Valu.

"Eu resolvi ir, coloquei uns enfeites na cabeça. E olha, é uma banda atrás da outra, só com musiquinha antiga que é o que a gente gosta", narra. Mariam nunca deixou de aproveitar o Carnaval em todas as fases da vida em que ela e a folia se encontraram, fosse em clubes ou na avenida. "Eu ia solteira, casada, com filhos pequenos, quando cresceram eu também ia. Levava uísque e gelo, mas eu quem cuidava, eu quem servia", brinca.

E nos blocos de rua, quem for vai encontrar Mariam, feliz, sambando e até fazendo selfie com o filho. Os dois voltaram a dividir o samba do Carnaval de Campo Grande.

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No Cordão Valu passado, Mariam voltou a dividir a folia com o filho Guilherme.
No Cordão Valu passado, Mariam voltou a dividir a folia com o filho Guilherme.
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