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Comportamento

No Centro, 'Favela' coleciona serviços e usa lema para cativar pessoas

Há nove anos, Pedrossian trabalha na região central onde faz de tudo e protege carro até de passarinho

Jéssica Fernandes | 03/05/2023 07:31
Pedrossian Souza Quaresma é conhecido como 'Favela' no Centro. (Foto: Marcos Maluf)
Pedrossian Souza Quaresma é conhecido como 'Favela' no Centro. (Foto: Marcos Maluf)

No Centro de Campo Grande, Pedrossian Souza Quaresma, de 33 anos, tem mil e uma utilidades. Conhecido como ‘Favela’, ele cuida de carros, carrega compras e faz até segurança em lojas de roupas. A rotina de serviços na região central começou há 9 anos quando o rapaz entregava currículos e fez um ato de gentileza.

Próximo à calçada do prédio onde mora, Favela fala sobre a própria trajetória de vida ao Lado B. A conversa antecede a saída dele rumo ao local de trabalho onde planejava ficar até às 21h para ‘compensar’ o período da manhã que não conseguiu ir.

Ele conta que no dia em que prestou ajuda a uma mulher enxergou a possibilidade de trabalhar nas ruas. “Há nove anos eu estava entregando currículo e juntou o útil ao agradável. Parei com um monte de currículo na mão e do nada uma senhora começou a estacionar o carro, olhei e auxiliei ela a estacionar. Ela pegou, me deu cinco reais e eu fiquei: ‘Peraí, ganhei cincão pra fazer uma boa ação?!”, recorda.

Na calçada de casa, ele fala como começou serviço na àrea central. (Foto: Marcos Maluf)
Na calçada de casa, ele fala como começou serviço na àrea central. (Foto: Marcos Maluf)

Naquele dia, Favela voltou para casa com os R$ 65 que conquistou ajudando motoristas a estacionarem na rua. O serviço como guardador de carros abriu portas para que ele conseguisse outros serviços. “Apareceram inúmeras oportunidades no Centro e veio aquela responsabilidade de marcar horário e estar no horário certo todo dia”, afirma.

Funcionário de vários patrões e patroas, Favela aprendeu a levar um dia após o outro, pois algumas vezes a ‘maré é baixa’. “Tem aqueles dias chuvosos, dias que as meninas não vão, não tem mercadoria. Um dia você tira pelo outro, é algo que aprendi com minha finada mãe: ‘Se você ganhou bem num dia, não pense que no outro vai ser da mesma forma. Você tem que estar sempre com os pés no chão”, relata.

Há nove dias, Pedrossian perdeu a mãe Natalina, aos 73 anos. No celular, ele mostra a última foto da mulher que chama de ‘rainha’ e diz que com muito esforço realizou o último desejo dela que era ser cremada.

No celular, Pedrossian guarda última foto que tirou da mãe. (Foto: Marcos Maluf)
No celular, Pedrossian guarda última foto que tirou da mãe. (Foto: Marcos Maluf)

Voltando a falar sobre o serviço, Favela revela que no começo se sentiu testado pelos comerciantes que ainda não o conheciam. Ele cita a ocasião onde um dos lojistas pediu que ele fizesse um depósito no banco.

“Um dono de uma loja me deu três mil sem me conhecer. Ele me deu, falou assim: ‘Vai lá pra mim no banco e deposita pra mim esse dinheiro que vou te dar cinquentão’. Cara, passa pela cabeça, lógico que passa, mas como pessoa humilde não tenho essa ideologia, não fui criado dessa forma”, pontua.

No Centro, ele trabalha de segunda a sábado, das 7h30 às 17h. Com o dinheiro que consegue, Favela se sustenta sozinho desde os 18 anos. “Graças a Deus eu pago minha luz, pensão e aluguel”, ressalta.

Quando não está no Mercadão Municipal ou na Conveniência ajudando a descarregar produtos, Pedrossian cuida dos carros estacionados na região. Independente de quem seja, Favela sempre tenta quebrar o gelo logo no primeiro contato.

“A pessoa chega emburrada e você tem que arrancar o sorriso dela. Uma fita que tenho comigo, na minha ideologia, é que você já tem o não pra tudo na vida e você tem que conquistar o sim”, explica.

Após contextualizar o motivo da abordagem diferente, ele conta o bordão que sempre funciona.  “Família, com licença, com grana ou sem grana seu carro tá bem cuidado. Nem um cachorrinho vai mijar na roda e nenhum passarinho caga no teto. De bate pronto a pessoa dá um sorriso e dessa forma você conquista ela”, afirma.

Foi na base da conquista que Pedrossian ganhou o apelido que representa humildade. "Os caras passam pedindo dinheiro ali e mesmo não tendo pra dar eu dou e aí foi indo. Os caras começaram a falar: ‘O moleque é humilde, é favela’. A gente tem que ser humilde”, conclui.

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