O ensaio que o tempo não permitiu, mas o hospital fez acontecer na UTI
Equipe hospitalar transforma UTI em cenário para ensaio de bebê internada

Por um instante, o tempo parou. No meio dos monitores, dos alarmes insistentes, dos jalecos brancos e do cheiro de antisséptico, havia um cenário inusitado: uma bebê de quatro meses, vestida com delicadeza, cercada por olhares que transbordavam ternura. Ali, na UTI Pediátrica Mista do Hospital Unimed Campo Grande, o que se eternizava não era só uma imagem, mas uma história de amor e sensibilidade.
Melissa nasceu para ser celebrada. Era desejo de sua mãe, Alessandra Bueno de Castro, fazer um ensaio fotográfico com a pequena, registrar aqueles primeiros meses como um marco de alegria. Mas o tempo, sempre ele, não esperou. Antes que pudesse levar a filha para um estúdio, Melissa foi internada. O diagnóstico impôs uma nova realidade, e o ensaio ficou esquecido em meio às urgências da sobrevivência.
A vida dentro de uma UTI não é feita apenas de procedimentos. Há dias de esperança e dias de luto antecipado, há sorrisos nervosos e lágrimas contidas. Em uma dessas conversas que nascem entre um exame e outro, Alessandra desabafou com a psicóloga hospitalar, Cinthia Munhões Elias. Falou do ensaio que nunca aconteceu. Da dor de não ter aquelas imagens que tanto sonhou.
Mas algumas histórias pedem um novo final.
Cinthia ouviu e transformou a ausência em presença. Junto a uma equipe que entendeu que cuidar vai além dos medicamentos, organizou um ensaio dentro da UTI. Tudo foi pensado com o rigor que o ambiente exigia, mas também com a delicadeza que a ocasião merecia. Uma fotógrafa profissional, Mari Tavora, foi chamada. Um pequeno cenário foi montado. No sábado, pela manhã, Alessandra recebeu a surpresa: o ensaio de Melissa aconteceria ali, onde a vida acontecia da forma mais crua, mas também mais intensa.
“Se eu soubesse o que passaríamos, teria feito um ensaio antes. Mas essa surpresa me emocionou. Fiquei muito feliz, pois vejo o quanto de carinho, amor e dedicação todos têm conosco. Mesmo em meio às dificuldades, encontramos um acolhimento incrível e percebo como Deus coloca pessoas maravilhosas em nossas vidas”, disse a mãe, enquanto olhava para a filha, que dormia tranquila, como se soubesse que aquele era um momento seu.

A equipe médica assistia de longe, discreta, mas tocada pelo instante. “Esse ensaio vai além da prática profissional. Sempre tento me colocar no lugar dos pacientes, oferecendo acolhimento e carinho. Saber que estou ajudando a realizar um desejo torna nosso trabalho muito mais gratificante”, refletiu Cinthia.
Para Mari Tavora, fotógrafa acostumada a registrar a beleza dos primeiros meses de vida, esse foi um ensaio diferente. “Poderia ser só mais um trabalho, mas essa família merecia mais. Formamos uma verdadeira força-tarefa. E o resultado? O mais bonito da minha carreira, não só pela estética, mas pelo significado.”
A pediatra paliativista Patrícia Otto sabe que há batalhas que a medicina não pode vencer. Mas há outras que se travam em territórios mais sutis. “Como médica, proporcionar conforto em momentos em que a cura não é possível é essencial. O gesto de oferecer um momento de carinho e lembrança, como o ensaio fotográfico, traz alívio para a criança e seus familiares. O foco aqui é garantir a qualidade de vida e o bem-estar de todos, humanizando a assistência.”
Na UTI, o tempo não é linear. Às vezes ele corre, às vezes congela. Naquele sábado, o tempo decidiu pausar. Melissa teve seu ensaio. Sua família terá as imagens para sempre. E o hospital, por algumas horas, foi mais do que um lugar de tratamento: foi um lugar de vida.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.