Para quem está atrás das grades, vitória da educação é ‘milagre’
Contar sobre as batalhas de quem retorna aos estudos é ver a dúvida sempre em primeiro lugar
Apesar da educação ser um dos pilares da ressocialização tanto para adultos quanto para adolescentes que estão privados de liberdade, quando a teoria é colocada em prática e dá resultados, parece que um milagre aconteceu. Com sentidos diferentes para quem conquistou o “milagre” e para muitos dos leitores, contar sobre essas histórias é ver que a dúvida costuma estar em primeiro lugar para quem olha de fora.
Em 2023, a conquista do diploma dentro da prisão e exemplos de adolescentes que retornaram aos estudos dentro de Uneis (Unidades Educacionais de Internação) entraram na lista de matérias que sentimos orgulho em publicar. Mas, ao invés da comemoração ser generalizada, percebemos que, mais uma vez, falar sobre esse tema é insistir que o caminho da reintegração é real através da educação.
Para vida além das grades, Natiela conquistou o 1° diploma na prisão
Mais recente, contada no meio de dezembro, publicamos a história de Natiela Aparecida Souza Fernandes. Aos 36 anos, a mulher que responde por tráfico de drogas, foi uma das formandas do ensino superior como Tecnóloga em Serviços Jurídicos Cartorários e Notariais.
Atualmente, ela é interna do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi e, há sete anos privada de liberdade, decidiu retomar os estudos do Ensino Fundamental, completando o Médio e superior.
Entre suas falas sobre como se sentiu tendo o diploma em mãos, a mulher quis priorizar sua filha. “Dedico esse diploma à minha família e à minha filha. O sonho dela era me ver formar. Para mim, esse diploma é a oportunidade de mostrar a ela que o estudo muda tudo e, que apesar dos meus erros cometidos, é importante erguer a cabeça e seguir em frente”.
Além dela, outras 13 mulheres concluíram o Ensino Fundamental e 11 do Ensino Médio durante a formatura de dezembro.
Até sem saber escrever, Unei leva jovens do crime à universidade
Em outra matéria, falamos sobre como a educação também está presente e é fundamental nas Uneis do Estado. No mês de junho, João (*), da Unei Laranja Doce, e Paulo (*), da Pantanal, narram suas trajetórias desde que foram apreendidos e perderam a liberdade.
João havia parado de estudar no 1º ano do Ensino Médio e, após cometer um assalto em Dourados, foi detido pela polícia. Desacostumado a ter uma rotina, ele detalhou que voltou a ter um cotidiano com os livros e, a partir do apoio familiar e da instituição, conseguiu ingressar na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).
Do outro lado do Estado, em Corumbá, Paulo é um dos alunos que se destacam. Quando chegou à unidade, em 2022, mal sabia ler e escrever.
Hoje, em contraste, conseguiu até mesmo escrever um livreto em conjunto ao seu professor sobre sua biografia. Na época em que foi detido, ele também não estudava.
Em todas as histórias, dos adolescentes e de Natiela, os depoimentos são de uma luta para convencer a si mesmos, a família e a sociedade como um todo de que a recuperação pode acontecer. Uma luta que não acaba com o diploma, mas apenas começa.
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