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Comportamento

Pastora trans morre, mas deixa lição para igreja acolher com amor

Luana Dhara Arruda Ferreira, que fundou a Igreja Inclusiva Sua Morada, faleceu nesta segunda-feira (27)

Por Aletheya Alves | 28/05/2024 11:50
Luana Dhara Arruda Ferreira, a pastora transsexual que se negou a abrir mão da sua fé
Luana Dhara Arruda Ferreira, a pastora transsexual que se negou a abrir mão da sua fé

Na luta pelos direitos da causa LGBTQIAP+, é difícil quem nunca tenha ouvido falar sobre Luana Dhara Arruda Ferreira, a pastora transexual que se negou a abrir mão da sua fé. Nesta segunda-feira (27), a família e os amigos receberam a notícia de que Luana havia falecido e, apesar da dor e tristeza, o que fica são os ensinamentos deixados pela mulher que criou uma igreja para acolher a todos com amor.

Compartilhando sobre suas lutas e fé, a pastora foi matéria do Lado B para contar sobre como não abria mão de seu contato com Deus, além da fundação da Igreja Inclusiva Sua Morada.

Irmão de Luana, Wagner Arruda Ferreira explica que a pastora foi internada com um quadro de infecção localizada que acabou se espalhando com o passar dos dias. Tendo recebido o acompanhamento da família durante todo o tempo, Luana ficou internada por oito dias, conforme relato de Wagner.

Bastante abalados, os pais não conseguiram falar com a reportagem durante o velório, mas estavam cercados de amigos e familiares que foram prestar homenagem a Luana.

Pastores da Igreja Inclusiva Sua Morada, fundada por Luana, Alci Arantes e Alisson Araújo resumiram que uma união entre amor e coragem é o que fica da amiga e pastora.

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A Luana teve a coragem que, mesmo a gente sempre sonhando, não tivemos. Mesmo sendo muito mais fácil por conta da passabilidade, ela vem quebrando todas essas barreiras e limitações, diz Alci.

Explicando sobre a não “passabilidade”, o pastor detalha que Luana, por ser uma pessoa transsexual, carregava toda a representatividade daquilo que era. Ou seja, suas características físicas deixavam claro e, com isso, mais portas sempre se fechavam.

“A gente está evoluindo mas ainda são passos para as pessoas entenderem que isso é só uma parte da vida da pessoa e que isso não muda nada. A gente tinha os mesmos sonhos de ter uma igreja inclusiva que a gente pudesse levar essa graça para todas as pessoas, mas foi ela quem teve a coragem de começar o projeto”, descreve o pastor.

Familiares e amigos durante o velório de Luana. (Foto: Marcos Maluf)
Familiares e amigos durante o velório de Luana. (Foto: Marcos Maluf)

Para contextualizar a importância das mudanças causadas pela amiga, Alci destaca que ainda hoje existe uma visão excludente do que a sociedade diz que é possível dentro da vida espiritual. Por isso, a luta é para “democratizar a graça de Deus para todas as pessoas”.

Quem tem a fé como um dos pilares da vida, segundo Alci, acaba se sentindo sem saídas quando não aceita mais ouvir que não é amado ou que não é bem-vindo nos espaços mais comuns. É aqui que Luana transformou tanto.

“Hoje, a gente consegue ver a quantidade de pessoas que estavam fora desse lugar de poder manifestar sua fé, de se sentir amado e ouvir que Jesus te ama e que você não vai para o inferno. A Luana vem como essa figura na nossa vida, de quem começa a mudança porque é muito fácil você continuar, principalmente para a gente, mas para começar é necessária muita coragem”.

Assim como explicado por Alci, o pastor Alisson Araújo defende que Luana causou impactos em diversas pessoas e que a causa LGBTQIAP+ em Mato Grosso do Sul também está vinculada a ela.

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A história da Luana se funde com a de outras instituições como a Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul, concursos de miss, as primeiras paradas, tudo isso teve o toque e participação da Luana, relata Alisson.

Mas, nos últimos três anos, o grande sonho da amiga foi realizado: a fundação da igreja. “Desde que a gente conhece a Luana, eu vim da mesma igreja em que ela foi criada, o grande chamado dela sempre foi com a igreja. A gente fala que os últimos três anos, desde a fundação, foram o período mais feliz da vida dela, porque ela se dedicou completamente e cumpriu o propósito e chamado da vida dela”.

Agora, com a partida da amiga, é o amor, a luta e a coragem que seguem por aqui. Nas palavras de Alci, a missão de Luana agora é deles, de manter aberto um espaço em que ninguém se sinta indesejado e que possa compartilhar sua fé sem medo, mas com orgulho de ser quem se é.

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