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Comportamento

Pioneiro, Tiago abriu o único aquário de Bonito e precisou ver o sonho acabar

Falta de mão de obra especializada fez lugar fechar as portas após 16 anos de história

Por Natália Olliver | 04/04/2024 17:49
Tiago após acidente que tirou o movimento das pernas (Foto: Arquivo pessoal) 
Tiago após acidente que tirou o movimento das pernas (Foto: Arquivo pessoal)

“Pra mim é uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo que dá um nó na garganta ver os peixes indo embora, fico feliz porque eles estão indo para um bom lugar, acho até que estarão melhores do que aqui”. A fala é de um dos proprietários do Aquário de Bonito, Tiago Rodrigues Perez. Ele transformou o encantamento por peixes no primeiro e único aquário do município (e Estado), mas precisou ver o sonho acabar após 16 anos de história.

No dia 31 de março, as portas do lugar que abrigava 70 espécies de peixes do bioma sul-mato-grossense se fecharam para o público, e, consequentemente, para Tiago. O motivo da decisão foi a mudança na licença de operação, (licenciamento ambiental) em 2019 e a falta de profissionais especializados.

Mil animais, entre pacus, piraputangas, tambaquis e cascudos, foram doados ao Bioparque Pantanal, em Campo Grande. O transporte dos animais durou quatro dias.

Com funcionários sobrecarregados e diante do cenário, o empresário de 39 anos foi obrigado a colocar fim na paixão que carregava desde 1990. A ideia do expositor de peixes nasceu de uma visita ao aquário de Ubatuba, litoral de São Paulo.

Primeiro prédio alugado pelo empresário e o irmão, em 2007 (Foto: Arquivo pessoal)
Primeiro prédio alugado pelo empresário e o irmão, em 2007 (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu gosto muito de aquarismo, gosto muito de peixe, é uma coisa que é satisfatória. Nos anos 90, todo mundo tinha aquário, na época deu um 'bum' o aquarismo no Brasil, hoje está em queda livre. Eu tinha uns 13 anos. Um dia eu e meu irmão estávamos em Ubatuba e fomos visitar. Aí olhamos um para a cara do outro e pensamos que um desses em Bonito iria arrasar. Isso ficou na nossa cabeça.”

Em 2007, os irmãos enfim colocaram a ideia em prática e abriram o primeiro aquário da cidade. O prédio era pequeno e afastado do centro turístico. Anos depois, Tiago desfez a parceria com o irmão e firmou sociedade com um lojista, o negócio durou quatro anos. Em 2013, ele comprou uma sede própria, no coração de Bonito, próximo à praça.

“No ano de 2019, minha licença que era de aquicultura e ornamentação passou a ser aquário e zoológico. As demandas burocráticas e ambientais aumentaram muito e estava com dificuldade de conseguir mão de obra especializada para fazer esse trabalho mais de técnico. Precisava de dois: um de biologia e outro veterinária, e tinha que ser específico para zoológico, tinha que ter experiência também com documentação e prazos.”

Segundo imóvel alugado por Tiago e sócio lojista (Foto: Arquivo pessoal)
Segundo imóvel alugado por Tiago e sócio lojista (Foto: Arquivo pessoal)

Acidente - O trabalho de Tiago mudou drasticamente após o acidente que deixou o empresário tetraplégico, em 2015. A ruptura no ritmo de atuação no Aquário aconteceu em Montese, distrito de Itaporã. Ele participava de uma corrida de velocross quando caiu e quebrou a quarta vértebra do pescoço. Apesar da nova realidade, Tiago afirma não carregar traumas do episódio e acrescenta que isso o deixou ainda mais apaixonado pelo aquarismo.

"Foi uma fatalidade, acontece, eu assisto a corrida. O hobby continua, só que de um outro jeito. Tem gente que escorrega e bate a cabeça e morre. Depois do acidente, passei a ficar mais concentrado no Aquário. Comecei a coordenar, antes metia muito a mão na massa, era muito desgastante.”

Tiago durante em competições de velocross (Foto: Arquivo pessoal)
Tiago durante em competições de velocross (Foto: Arquivo pessoal)

Nos tempo áureos, o empresário chegou a ter até 12 pessoas trabalhando no Aquário, hoje ele fechou as portas com sete. O número veio após a pandemia de covid-19, que além de encarecer as entradas, reduziu os funcionários. O apego a alguns dos animais presentes nos 32 tanques e 3 lagos é o motivo do lamento pela despedida, mas também o alívio em saber que eles continuarão sendo bem tratados.

Estudantes de escola municipal de Bonito visitando Aquário (Foto: Arquivo pessoal)
Estudantes de escola municipal de Bonito visitando Aquário (Foto: Arquivo pessoal)

“Tem peixe que estava aqui há mais de 14 anos, são mais velhos que minha filha. As pessoas têm a impressão que os peixes são substituídos, mas a realidade é que eles vivem muito, quando cuidado certo. Os peixes maiores, no caso. Fechei também porque chegou uma hora que a melhor decisão era essa, fechar enquanto estava tudo certo, e estávamos bem.”

No Google, a avaliação do Aquário de Bonito era 4,6. Alguns dos comentários dos visitantes falam sobre a presença de peixes do bioma e a explicação dos guias. Um dos destaques abordados nas postagens é a alimentação das piraputangas. Tiago explica que esse era um dos momentos mais legais do passeio.

“Antes, colocava um salgadinho na ponta da varinha e o peixe pula e pega. Agora não é mais permitido, então a gente lá fazia com uma ração específica e o peixe pulava para pegar. Já atendemos mais de 3 mil alunos gratuitamente também, eles gostavam."

Sede própria do Aquário, local inaugurado em 2013 (Foto: Arquivo pessoal)
Sede própria do Aquário, local inaugurado em 2013 (Foto: Arquivo pessoal)

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