Policiais e bombeiros treinam para atender público LGBTQ e diminuir homofobia
Curso de formação tem disciplina "Combate ao racismo e homofobia" para mudar realidade dentro e fora das corporações.
Brasil é dos países mais perigosos para gays, lésbicas, travestis e transexuais em número de mortes. Na contramão do preconceito e da violência, profissionais da segurança pública recebem durante cursos de formação, treinamento para conhecer melhor a população LBGTQ e aprimorar o atendimento em cada unidade.
Na última semana, a designação de militares para instrutores do curso de formação de cabos do Corpo de Bombeiros, publicada no Diário Oficial do Estado, chamou atenção para uma das disciplinas: Combate ao Racismo e Homofobia.
Levando em consideração o número de profissionais que atuam na segurança pública e não assumem publicamente a homossexualidade ou civis que são vítimas de preconceito e homofobia das próprias corporações de segurança, o Lado B foi até o Corpo de Bombeiros saber como a disciplina tem transformado essa realidade, dentro e fora da instituição.
Para quem desconhece, homofobia é o desconforto e intolerância quando pensam em homossexualidade. Motivada pelo preconceito, a homofobia pode levar a violência física, institucional, psicológica e sexual contra o grupo LGBTQ. Por isso, a disciplina foi inserida há pouco mais de 10 anos e exigida pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça).
Nas aulas, os bombeiros são esclarecidos sobre termos como identidade de gênero, que envolve a identificação de cada indivíduo em relação aos gêneros masculino ou feminino, orientação sexual, uso correto de termos vinculado à diversidade, além de formas de melhorar a abordagem às vítimas de discriminação.
O capitão, Bruno Vilela, explica que os bombeiros militares não são treinados para dar atendimento especial ao público LGBTQ, mas para respeitar essa população e reconhecer a igualdade, sem deixar de lado questões específicas, como respeitar o gênero e nome social dos transexuais na hora do atendimento e preenchimento de formulários. “A abordagem é um detalhe muito importante, já que muitas vezes esse grupo está em situações de vulnerabilidade e sofre com a discriminação, então é preciso desconstruir esse olhar discriminatório e saber a importância até do uso correto de artigos “o” ou “a”, explica.
No curso, o início da disciplina é sempre muito parecido. Alguns chegam receosos, sem falar muito e demonstram falta de identificação com o tema. Ao final das aulas, o capitão diz que é possível sentir a diferença. “No militarismo ainda há um receio de falar sobre determinados assuntos, mas as próprias instituições estão rompendo com isso através do conhecimento. A gente sabe que o conhecimento transforma e ao final do curso percebemos os nossos profissionais esclarecidos, prontos para atender qualquer cidadão com respeito e dignidade”.
Além de sensibilização no atendimento à vítima, o resultado da disciplina, segundo Bruno, são profissionais que passaram a não mais esconder a orientação sexual dos colegas de trabalho e a lutar contra o preconceito a gays, lésbicas, travestis e bissexuais no meio em que atuam.
“Eu bato sempre muito em cima da empatia. Quando você tem preconceito e falta de conhecimento, você não se importa com o próximo. A partir do momento que você tem empatia, você começa a se importar, a respeitar e até mesmo lutar por um direito humano. Sem dúvidas, o conhecimento traz libertação”, avalia o capitão.
Ainda no âmbito das corporações, na visão de Bruno, existe um caminho a percorrer contra o preconceito, mas, as capacitações tem mudado essa realidade. “A gente ainda percebe que existe preconceito dentro da profissão, mas isso tem mudado muito através da formação. Ela está ressignificando olhares e ensinando a compreender que a sociedade é diversa e deve ser respeitada”.
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