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Comportamento

Por trás dos livros, um dos rostos mais conhecidos do shopping também é escritor

Paula Maciulevicius | 27/12/2016 07:16
Raimundo é formado em Letras, trabalha na livraria do shopping há anos e é autor de livro. (Foto: Alcides Neto)
Raimundo é formado em Letras, trabalha na livraria do shopping há anos e é autor de livro. (Foto: Alcides Neto)

Faz anos que um rosto me é muito familiar no Shopping Campo Grande. Os óculos são os mesmos, o sorriso e a disponibilidade em atender, também. Por trás das páginas na livraria Leitura, tem um funcionário que também é escritor. Entre as compras de fim de ano, ele soltou que já tinha um livro publicado e outro no qual ainda estava trabalhando.

Raimundo é tímido e por pouco não "fugiu" de dar entrevista. Aproveitamos que segunda-feira é a folga dele para conversarmos. Mineiro, ele é formado em Letras, o que não quer dizer necessariamente que isso o tenha influenciado no modo de escrever.

"Foi mais uma ferramenta para um outro estilo de concepção de literatura, trabalhar sentidos e signos", prefere assim dizer, Raimundo Silva, de 49 anos. 

Capa do livro publicado em 2011.
Capa do livro publicado em 2011.

Desde os 15 ele tem o gosto pela literatura e a escrita, mas ainda nem pensava em publicar. Foi a partir de um conto, "Inventário Sentimental", que ele teve de destrinchar o que já havia narrado para chegar ao mínimo de páginas exigido pelo Clube dos Autores e assim conseguir se lançar.

A obra foi escrita entre 2005 e 2007 e publicada em 2011. "É que eu gostava só de escrever, gosto mais do que pensar em publicar", se justifica.

Inventário Sentimental narra a trajetória de um personagem que atravessa o Brasil dos anos 40 até 2000 e permeia pelo contexto que o País passou ao longo das últimas décadas. "É apenas a visão dele sobre si mesmo, mas as questões político-sociais acabam influenciando", conta.

Em casa, o tempo de escrever é na avançada hora da noite ou na própria madrugada, quando se divide entre ler e escrever. Durante o dia, quando surgem ideias, as anota para depois dar forma à elas. "Com uma frase consigo construir uma página. Pelo menos para mim é assim que funciona', explica.

Desde então, Raimundo tem trabalhado num livro e deixado, por enquanto, outras ideias paradas. "Não sei se todo mundo que escreve é assim, mas de repente uma coisa parece ser mais interessante, você começa a desenvolver e surge outra melhor", comenta.

Inventário Sentimental começou como um conto e ganhou história em livro.
Inventário Sentimental começou como um conto e ganhou história em livro.

Ele não se considera escritor, ainda, e diz que é só uma pessoa que está tentando produzir alguma coisa. Na livraria onde trabalha, são poucos que sabem que também poderia figurar entre as prateleiras. "A partir do momento em que comecei a falar com clientes, outros colegas ficaram sabendo", fala. 

Escrever, para ele, é uma coisa solitária. Quando se coloca no papel toda análise e observação que subsidiaram a criação. "E a partir do momento em que torna-se público, parece um segredo que você abriu para todo mundo", compara.

Na segunda obra, na qual os capítulos ainda estão sendo escritos, o tema é suicídio, assunto que entrou na vida do autor anos atrás. Por ser polêmico, Raimundo não dá detalhes, apenas se resume a dizer que é narrado em primeira pessoa e o personagem principal é esquizofrênico. 

E o que lhe atrai a ponto de se tornar inspiração? Tudo. "Praticamente a vida. Escritor tem que ser observador, não tem que ser o cara que vai mudar a história, você cria um universo onde pode manipular aquele personagem", acredita Raimundo. 

Da livraria ele diz que não transforma clientes em personagens, mas insere fragmentos de vida vistos atendendo pessoas em sua história. E vendendo títulos, se aprende muito sobre literatura e cinema, pela forma como as pessoas chegam até ele e o que elas deixam de dicas ou pedem de informações. 

Sem um estilo definido, Raimundo conta que gosta de caminhar entre a filosofia e a psicologia. "O que importa é o conteúdo", sustenta. 

O expediente na livraria começou primeiro por necessidade de se manter e ali, porque Raimundo gostava da rede desde os tempos em que residia em Minas Gerais. 

A prioridade não é publicar, mas Raimundo admite que já passou da fase de manter seus escritos só para si. "Dizer que sou escritor é ser pretensioso. Eu estou sempre aprendendo através de dicas de literatura que as pessoas me passam e em busca de um tema novo", resume.

Quem quiser trocar uma ideia com o autor, ele está a partir das 2h da tarde na livraria.

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