Primeiro lugar em Direito de Luana ganhou ritual e festa em aldeia
Jovem de 18 anos é a 1ª que cresceu e nasceu na aldeia a ter passado no curso
Aos 18 anos, Luana Salvador Rodrigues é a primeira jovem terena que nasceu e cresceu na Aldeia Mãe Terra, em Miranda, a passar em Direito. Para celebrar a conquista do 1º lugar na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a comunidade se reuniu para festejar com ritual de agradecimento e proteção.
“É o começo de uma conquista para as comunidades indígenas por defender as causas diante da invisibilidade social e do Estado. Essa foi uma comemoração inédita, já que ela será especialista em Direito”, introduz o pai de Luana e professor, Bartolino José Rodrigues.
Bartolino, assim como suas duas filhas, também é exemplo de muita luta. Após terminar o Ensino Médio em 2002, precisou ir para a usina trabalhar com corte de cana e interromper os estudos.
Doze anos depois, ingressou na UFMS para cursar História e, hoje, está finalizando seu mestrado na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). “São lutas, desafios e persistência. Sem lutas, não há vitória”.
Ainda emocionada com a novidade, Luana narra que conquistou a colocação na categoria da lei de cotas. E tudo começou com o sonho de lutar pelo seu povo quando ainda era criança.
Voltando para essa época, a jovem explica que a ideia inicial era “ser policial para defender o meu povo”. “Eu não tinha noção das coisas, mas quando fui crescendo, comecei a entender e vi que Direito era o curso ideal. Sempre gostei de acompanhar o movimento indígena, tanto que hoje já temos vários advogados indígenas que defendem a causa e que me inspiram muito a seguir esse caminho”.
Desde a infância, Luana estuda em escola pública e, no Ensino Médio, começou a se preparar para o vestibular.
“Não foi fácil para mim. No começo, achei um pouco difícil, mas fui me adaptando. Eu estudava na escola e também estudava em casa, sempre pesquisava os conteúdos também pela internet e isso me ajudou muito”, relata.
O vestibular da UFMS foi seu primeiro processo seletivo, já que não conseguiu fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) por falta de documentos na época. “A primeira pessoa que viu o resultado foi minha irmã e quando ela disse que eu havia passado foi um choque, todos ficaram paralisados e felizes ao mesmo tempo”.
Sem acreditar no resultado, ela comenta que a ficha realmente só caiu quando conseguiu concluir a matrícula com direito a muito choro de felicidade.
“A minha família está muito feliz e sempre me apoiaram, principalmente minha irmã que sempre me disse para acreditar em mim e que eu seria capaz. Além disso, minha comunidade está feliz comigo porque essa não é uma conquista só minha, mas sim de toda minha comunidade e povo”, declara a jovem.
Orgulhoso, o pai explica que Luana foi a segunda filha a ingressar na universidade, então a conquista é contínua. “A minha primeira filha está cursando Pedagogia na UFMS, campus de Aquidauana, e agora com Luana na universidade me sinto realizado”.
Pensando sobre a celebração feita para a filha mais nova, Bartolino comenta que o objetivo é incentivar que outros jovens também busquem espaços nas universidades públicas e dizer que são capazes de ocupar os espaços que quiserem.
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