Quero que chegue o vai passar, mas adolescência é viver tudo de novo
Cadê meu bebê? Aonde foi parar aquela criança que precisava segurar minha mão para atravessar a rua? Que precisava fazer carinho na minha orelha para conseguir dormir? Que pedia para eu não ir trabalhar para ficar com ela? Quando foi que surgiu esse abismo entre nós?
Meu sono agora não é cortado pelo chorinho de medo que o escuro trazia e sim pela insegurança do silêncio que há entre aquele adolescente sentado no sofá - cara fechada, fones no ouvido, olhos vidrados na tela do celular - e eu.
A bagunça não é mais a de brinquedos espalhados pela casa e sim pelo emaranhado de sentimentos que não conseguimos desatar e, por vezes, nos sufocam. E eu que pensei que a fase mais tortuosa seria aquela de não conseguir dormir mais do que três horas seguidas ou quando ouvia 'mamãe' 28 vezes por minuto.
Hoje o cansaço é de fazer de tudo para manter o mínimo de relação e, em grande parte do tempo, não conseguir nada além de um 'para, mãe', seguido de porta do quarto fechada (para não dizer socada). Já com os amigos parece que o riso rola tão fácil, o humor é sempre bom, a disposição então, nem se fala!
Eu sei, um ser humano no início da juventude está em plena busca pela própria identidade, sofrendo mudanças hormonais, vivendo questões de convívio social dentre outros adolescentes. Não há maturidade para pensar como adulto e há maturidade demais para ser criança.
É confuso, doloroso, eu diria. Para a mãe talvez seja um novo puerpério, agora marcando o nascimento do filho para uma nova fase, deixando a infância de vez, transitando rumo ao desconhecido.
Novamente tenho que me encontrar no maternar. Se antes o desafio era ensinar a andar, agora é mostrar o caminho. Se antes era decifrar as palavrinhas ainda balbuciadas, agora é saber compreender o que ele me diz com frases perfeitas.
Se antes era apresentar os alimentos, agora é conseguir entender o porquê certas situações lhe embrulham o estômago. Lidar com a ansiedade, a puberdade e os medos que desta vez nada têm a ver com monstros imaginários.
Tudo novo, de novo. A maternidade me recordando que ser mãe é se desconstruir e reconstruir a cada dia. Ao mesmo tempo vou tentando entender o porquê de tanta resistência e me questiono todo santo dia: onde foi que eu errei?
Neste misto de sentimentos o que me consola é saber que isso também passa, mas enquanto não chega o esperado momento de ver a bandeira da paz hasteada, sigo tentando ter aquela relação amiga entre mãe e filho, aquela estampada na trama de novela, sabe? Ciente de que talvez ela só exista na tela da televisão, porém na esperança de que a vida imite a arte e meu bebê ainda esteja ali... esperando por colo.
*Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae.