Rifa de amigas acolhe Ana, que teve vídeo íntimo vazado por ex
Ana viveu um dos momentos mais difíceis ao ser gravada sem permissão e ter imagens compartilhadas
Quinze dias atrás, a vida da Ana*, de 30 anos, passou a ser um tormento desde que recebeu notícias que a desestabilizaram. Ela soube que tinha sido gravada sem consentimento por um ex-namorado e que esse vídeo antigo, em que aparece mantendo relações sexuais com ele, foi divulgado.
Vítima de um crime, os dias não foram fáceis. “Não consegui dormir por muitos dias, tinha medo, comia e vomitava”, lembra.
Sem receio de buscar por justiça, Ana contratou advogada e decidiu arcar com as despesas do caso, mas o apoio das amigas se manifestou além do abraço e das palavras de conforto. Elas até organizaram uma rifa para arrecadar dinheiro e dar uma força nos custos.
Além disso, a rifa levanta um alerta sobre uma exposição que é crime. Por isso, Ana topou contar sua história para que outras mulheres busquem seus direitos e denunciem casos em que tiveram sua vida íntima gravada ou vazada sem consentimento.
Ana precisou até mudar de endereço por conta da exposição. No momento em que soube pela primeira vez da gravação, passou mal. “Quando tomei conhecimento do vazamento desses vídeos, eu estava na minha casa, eu estava fazendo almoço e não imaginava que esse material existia. A minha pressão caiu na hora, meu corpo inteiro começou a tremer e minha visão ficou embaçada”, lembra.
Após o ocorrido, ela procurou uma delegacia de polícia, onde registrou boletim de ocorrência e agora, move um processo na Justiça por danos morais. Embora não possa ser identificada na gravação, Ana fala sobre a exposição e violência que sofreu com o vazamento do conteúdo. “Eu não sabia que ele tinha gravado, não aparece o meu rosto, mas eu não autorizo que meu corpo seja divulgado”, declara.
Em meio ao turbilhão de emoções que sentiu na ocasião e nos dias seguintes, Ana expõe que chegou a se culpar pelo que estava sofrendo. O sentimento, segundo ela, é inevitável devido à forma como as mulheres são tratadas na sociedade.
De alguma forma, eu mesma me culpei, porque a gente se sente errada e se julga. A gente não tem direito nem de se sentir vítima de uma situação. Tem toda uma construção histórica para sairmos desse ponto, desse machismo”, desabafa.
Abalada pelo caso, ela não conseguia executar as tarefas mais simples do cotidiano e o cansaço emocional a dominou. “Não conseguia tomar banho, foi uma situação que me derrubou, algo que não esperava jamais. Eu estava estressada, acordava exausta, tive que continuar vivendo e encontrar forças, mesmo com o mundo acabando”, revela.
Rede de apoio - Mesmo à distância, Ana encontrou nas amigas e conhecidos, o acolhimento e apoio necessário que precisava. Emocionada, ela fala sobre o carinho que recebeu. “Eu sou muito grata por essas pessoas que estão me ajudando, eu estou sozinha aqui, mas me sentindo abraçada. Só quem passou por isso ou acompanhou alguém nessa situação sabe o quanto dói”, enfatiza.
Esse grupo de amigos criou, nesta semana, uma rifa para ajudar Ana a pagar os serviços advocatícios. Divulgada nas redes sociais, a rifa tem oito prêmios diferentes, sendo alguns deles: ensaio fotográfico, maquiagem para festa, diária no Ninho do Canarinho, um colar de macramê e dois meses de prestação de serviços nas mídias sociais.
Os interessados na rifa podem realizar o pagamento de R$ 20 através do Pix no e-mail: m.isabelbenvenuto@gmail.com, que pertence a uma amiga da Ana. Após o pagamento, é necessário enviar o comprovante para o e-mail e escolher o número desejado.
Coragem para denunciar - Além de querer compartilhar a própria história para o Lado B, Ana espera motivar outras pessoas que já passaram pelo mesmo a procurarem a polícia e denunciarem o caso. “É para que as mulheres não se calem e façam o que precisarem fazer. Eu não gostaria que mais ninguém passasse por isso", finaliza.
O que diz a lei? - O artigo 28-C da Lei 13.718/18 prevê de 1 a 5 anos de prisão (se o fato não constitui crime mais grave) para aquele que:
“Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de cena de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento da vítima”.
Se assim como a Ana, você teve um material íntimo vazado, o boletim de ocorrência pode ser feito em qualquer delegacia, sendo uma delas a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
*Ana é um nome fictício criado para preservar a identidade da vítima e de terceiros.
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