Sem abraço há 9 meses, avó monta plano para levar amor ao Natal
Casal não abriu mão do isolamento desde março, mas deu jeitinho de levar amor e sabor aos filhos e netos neste Natal
O ano foi esquisito, tenso, pesado. Dificilmente o ser humano não foi afetado pela tristeza que rondou a cidade, o país, o mundo. E, mesmo agora, no dia de Natal, algumas famílias deram um jeitinho de aproveitar a data isolados, só para não deixar a magia que aquece o peito perder espaço.
Totalmente isolados desde o dia 13 de março, nem o Natal fez o casal Humberto Ferreira de Melo, 65 anos, e sua esposa Maria Angela Barbosa Melo, 79, furarem a ‘quarentena’ que já completou nove meses. Com apoio da família, os dois permaneceram no apartamento sem visitas, tudo para evitar o contágio da covid-19. Mas se engana quem pensa o espírito natalino ficou do lado de fora da casa.
Desde o início do mês, a casa de Maria Angela respira o Natal. Com decoração em todos os ambientes, o som toca música natalina o dia todo. Ontem, ela passou o dia 24 de dezembro inteiro preparando seus principias quitutes natalinos, só para enviar à casa dos filhos e fazer com que cada família pudesse saborear um pouquinho das receitas como se estivessem pertinho do abraço dos avós.
Não que todo ano já não tenha tudo isso e muito mais. Mas esse ano, com a distância, todos os clichês e os pratos prediletos são mais que bem-vindos, acredita Maria. Só para ninguém deixar de acreditar em um mundo melhor em 2021.
“Na minha alma e coração essa é a data mais importante do ano. Eu amo o Natal em todos os sentidos. Eu consegui passar isso para os meus filhos e, por isso, não podia deixar de presentear neste Natal de diferentes maneiras”.
Tradicionalmente, a família se reúne e cada um leva um prato especial para a noite de Natal. No entanto, Maria é responsável por fazer um prato à base de frango chamado “Frango à la king” e uma farofinha de miúdos, ambas receitas de família.
“Cada filho trouxe sua travessa até a porta do apartamento e eu preparei as receitas. Ontem, durante o dia, agendamos horários distintos para que cada um pudesse buscar os seus pratos. Tudo feito com muito amor e dedicação”.
As receitas vieram de uma tia que já faleceu. “Ela me deu essa receita de frango que não é um fricassê e nem um estrogonofe, ela costumava chamar de galinha sofisticada, bem desfiada e que leva creme de leite”.
Já a farofa faz parte de um livro, também elaborado pela tia e um grupo de senhoras, que juntaram suas receitas e montaram dois livrinhos chamados “Soltinhos na Panela”. "O livro tem receitas excelentes, um já até perdeu a capa, mas eu não me desfaço”.
Maria também comprou presentes para cada um dos netos. “Não é pelo consumo, é pela satisfação de troca, do carinho, afeto. A gente passa o ano todo corrido, normalmente as pessoas não tem tempo muito de se ver, e passar o Natal é a maneira de se divertir”.
No ano em que muitos testemunharam o mais triste adeus, a empatia com próximo é o que move Humberto e Maria a permanecerem em casa. “Foi um ano difícil, mas sou grata por tudo o que a gente aprendeu ao longo desses meses. Nossos filhos e netos têm uma uma preocupação grande conosco e com as pessoas. Todos sabem que tivemos momentos de sofrimento no mundo, portanto, o maior aprendizado é pensar no outro. E, por enquanto, o isolamento é o que faz toda a diferença”, finaliza.
Dados – A pandemia de covid-19 chegou, oficialmente, em 14 de março a Mato Grosso do Sul, o sábado em que a SES (Secretaria Estadual de Saúde) divulgou a confirmação dos dois primeiros casos em Campo Grande. Nove meses depois, a Capital registrou 938 óbitos por covid-19 até 24 de dezembro.
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