Sem emprego, crente e moderninha acham que motivo é saia longa e cor do cabelo
![Sem emprego, crente e moderninha acham que motivo é saia longa e cor do cabelo Sem emprego, crente e moderninha acham que motivo é saia longa e cor do cabelo](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2020/03/10/2w3hh4pyfdwk0.jpg)
De cabelo roxo ou saia no joelho, os extremos da aparência ou personalidade têm o mesmo peso e a mesma medida quando pautados no preconceito, garantem duas jovens desempregadas. Dois exemplos estampam que o sentimento não tem cara.
Na hora de encontrar emprego, nem a estilosa com o cabelo roxo e nem a crente de saia no joelho conseguem passar da fase de entrevistas. A justificativa, segundo elas, é que cor ou o fato de não usar calça, não se enquadram dentro do que as empresas procuram. Será?
Aos 20 anos, Jéssica Padilha é formada em Técnica em Enfermagem e está em busca de trabalho na área. "Aí no primeiro momento, quando você vai procurar emprego e entrega o currículo, já te olham só pela cor do cabelo", conta. O colorido atualmente é um tom de roxo escuro.
"De rótulo já acham que você não é capaz, que não vai servir para aquela função ou que vai pedir demissão na primeira semana. Vou para entrevista quando aceitam o meu currículo, mas me olham e acham que eu vou ser irresponsável", explica Jéssica.
Por vezes, ela descreve que não chegou nem a falar sobre suas qualidades, experiências e o que sabe fazer. "Eles inventam mil desculpas, por mais que o meu currículo seja o que estão pedindo, só respondem que talvez vão me ligar ou que fica para uma próxima".
O fato de não ter uma aparência dentro do convencional também foi explícito. "Já me disseram: não vou te contratar. Você não é adequada, seu cabelo não é um bom exemplo", recorda. Ela tentou rebater, dizendo que mudaria a cor e se enquadraria nas regras, mas ouviu outro não. "Me disseram: você não vai levar nada a sério, seu cabelo não impõe uma aparência séria. Procura outro..."
O cabelo é pintado desde a adolescência, mas a resistência por parte das pessoas surgiu há 3 anos, depois de ingressar no curso de Enfermagem. "Eu gosto muito do meu estilo, mas tenho 20 anos, estou formada e preciso trabalhar e tenho que mudar e me adequar ao que sociedade quer". Como já procura alguma vaga há 1 mês, terá de rever a aparência para ver se é só isso mesmo que falta.
"As pessoas preferem contratar alguém 'normal', que todo mundo vai chegar e aceitar aquela pessoa", resume.
Extremo - Evangélica da Igreja Deus é Amor, a segunda personagem prefere não se identificar. Com 23 anos, tem experiência em vendas e auxiliar de escritório, mas há quase 1 ano procura uma oportunidade em alguma empresa que não se oponha ao simples fato: de que ela não usa calça.
"Na maioria das vezes, eu passo por isso. Geralmente nos lugares o uniforme é a calça, na entrevista eu já aviso sou evangélica e me falam que só podem aceitar pessoas com calça", pontua. A jovem chegou a rebater dizendo que a saia é comprida, mas nem tanto, um pouco abaixo do joelho e que o trabalho exigia dela ficar só sentada, ninguém nem iria vê-la atrás de um balcão.
"Eles dão desculpas, é um pretexto para não te contratar. Mas isso não impede a pessoa de ser profissional, pontual, responsável, não é verdade? O preconceito é a pior coisa que tem e não é só com religião, com tamanho, cor de cabelo, raça. É uma coisa que tem que mudar muito ainda".