Símbolo do Enem em 2013, mãe que teve bebê no dia da prova hoje está presa
Dos livros para as grades, a aluna que ganhou bebê no banheiro da escola onde realizava a prova do Enem, em 2013, na cidade de Sidrolândia, hoje vive o contraponto. Símbolo do exame naquele ano, Pâmela de Oliveira Lescano, foi notícia nacional e chegou a receber a ligação do então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, parabenizando por se tornar mãe e dando a garantia de uma nova prova.
À época, Pâmela tinha 17 anos e deu à luz a um menino, Everton, minutos antes de entrar na sala, no dia 4 de novembro, para a segunda etapa da prova, num domingo. A jovem morava com a mãe, padrasto e irmã em um assentamento próximo a Sidrolândia e alegou que nem sabia da gravidez. Um mês depois, ela fez o Enem, direcionado ao curso de Medicina Veterinária, na mesma data de aplicação do exame nas unidades prisionais.
Se a vida prega peças ou não, Pâmela que queria tanto estudar e se preparava para cursar a segunda faculdade, hoje é parte do sistema prisional. É mais uma mulher na estatística do tráfico, responsável pela maioria das internações nos presídios femininos sul-mato-grossenses.
Em fevereiro deste ano ela foi presa na rodoviária de Dourados, com o bebê no colo e uma mochila nas costas, transportando quase meio quilo de pasta base. No boletim de ocorrência, a Polícia Militar descreve que abordou Pâmela depois de receber denúncias de que alguém com as características dela, levava a droga.
À Polícia, a jovem contou a história já conhecida, de que tinha recebido o convite para fazer o transporte de Dourados até Brasilândia, em troca do pagamento de R$ 800. Ela foi presa. O filho nas mãos do Conselho Tutelar até a chegada de um responsável.
A criança visita a mãe a cada 15 dias, no Presídio Feminino de Jateí, região da Grande Dourados. Everton é levado pelo avô no primeiro e terceiro sábado do mês para a visita. Datas em que as crianças são liberadas para entrar. Pâmela morava com ele desde 2014, em Fátima do Sul. Depois de separar do pai da criança, ela deixou Sidrolândia e transferiu o curso de Administração para lá.
"Meu neto vai fazer 2 anos em novembro. A prisão foi muito difícil...", diz o pai de Pâmela, o pedreiro Edilson Rodrigues Lescano, de 45 anos.
Eram quase 10h da noite quando o telefone de casa tocou com a Polícia dando a notícia. Na primeira visita, Pâmela justificou o crime ao pai. "Encontrei uma amiga, era para ganhar um dinheiro. Foi isso que ela disse para mim. Eu perguntei por que? Se ela não estava precisando disso", recorda Edilson.
"Eu entro e fico junto. O bebê reconhece ela porque não deixei perder contato. Ele vê a foto no computador, logo que liga, e fica 'mamãe, mamãe'", reproduz o avô.
Arrependida. É assim que o pai descreve a menina do Enem daquele ano. Para o seu Edilson, ela disse que a preocupação é de perder a bolsa da faculdade. Pâmela se formaria ano que vem em Administração e começaria no início do ano o curso de Educação Física. "Ela queria muito isso, era muito inteligente e com notas ótimas. Não é fácil... Pesa na nossa cabeça e no coração da gente", diz o pai.
A mãe soube da prisão por outra filha. Leide Oliveira Lima segue morando no assentamento em Sidrolândia ainda sem acreditar no que aconteceu, mas com uma suspeita para a motivação. "Ela queria muito um tablet".
Depois do choque, foi pelo telefone do presídio que ela conseguiu falar com a menina. A mãe não vê a filha deste o Natal. Antes da reviravolta fazer da estudante, uma presidiária. "Ela começou a chorar, me pediu desculpas, disse que tinha errado e me perguntou se eu ainda sentiria orgulho dela...."
Pâmela divide cela com outras sete mulheres. É considerada "ativa" dentro da rotina prisional. "Tem bom comportamento, trabalha na horta e tem o sonho de voltar a estudar", diz a diretora do presídio, Maria Lúcia de Souza.
Ela reforça que a jovem começaria outra faculdade e pode vir a se inscrever no Enem para realizar a prova, desta vez, atrás das grades. "Ela gosta muito de ler. É educada. O sonho dela é sair e voltar a estudar", frisa a diretora. Sem entrar em detalhes, ela não cita porque, nem como e quando pegou a droga. "Nisso ela é mais reservada". Como o caso ainda não passou por nenhuma audiência, Pâmela não tem previsão nem de ir para o semiaberto.
Do lado de fora, a família espera e os estudos também. "Ela falou que vai ser alguém na vida. Agora é só rezar para Deus cuidar ela lá dentro e a gente aqui, seguir em frente, esperando..." finaliza a mãe.