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Comportamento

Só quatro mesas resistem no Bar do Zé para lembrar de boteco raiz

Bar que é ponto de encontro segue sofrendo com regulação de cadeiras, pandemia e diminuição dos eventos

Aletheya Alves | 18/05/2023 09:34
Poucas mesas e cadeiras ficam dispersas pelo calçadão da Rua Barão do Rio Branco. (Foto: Alex Machado)
Poucas mesas e cadeiras ficam dispersas pelo calçadão da Rua Barão do Rio Branco. (Foto: Alex Machado)

Durante a semana, quatro mesas vermelhas resistem no calçadão da Rua Barão do Rio Branco, em frente ao Bar do Zé. Marcando as memórias do boteco raiz, que ficou conhecido por acolher o público na calçada, o bar viu os clientes irem sumindo com regulação de cadeiras, efeitos da pandemia e diminuição dos eventos.

Seja em fotos da Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande), registros antigos do Campo Grande News ou na memória dos clientes, o conjunto das mesas e cadeiras sempre estiveram por ali. Mas, sem exceções nem mesmo para quem integra a história da cidade, as ações vão diminuindo o rosto da Capital.

Proprietário do bar que existe desde 1953, Márcio Yassutoko Okama explica que desde 2009, quando a lei de regulação das calçadas foi alterada, reclamações existem. Desde então, há uma limitação para a inserção de mesas e cadeiras no passeio público.

Bar é ponto histórico de encontros na Capital, sempre com as mesas marcando a cena. (Foto: ARCA)
Bar é ponto histórico de encontros na Capital, sempre com as mesas marcando a cena. (Foto: ARCA)
Em 2003, antes da mudança em lei, mesas vermelhas se espalhavam com mais intensidade pelo espaço. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Em 2003, antes da mudança em lei, mesas vermelhas se espalhavam com mais intensidade pelo espaço. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Se baseando na memória, Márcio conta que os clientes sempre gostaram de permanecer no calçadão. Tanto porque ali era um espaço de discussões, passar o tempo e aproveitar um café ou cerveja, quanto porque o Centro era mais movimentado.

“Por um bom tempo, tinha evento semanalmente aqui na Barão. Logo cedo, o pessoal da cultura vinha fazer teste de som e movimentava bastante. Depois, esses eventos foram acabando, várias regulações continuam existindo e ainda teve a pandemia”, relembra Márcio.

Sobre o cenário de hoje, com os clientes mais tradicionais fazendo questão de manter ao menos parte da tradição, o proprietário comenta que uma sequência de acontecimentos e ações vem “desligando” o entorno. “Tem a falta de estacionamento, a pandemia veio e tirou o costume das pessoas de saírem de casa, a diminuição de eventos por aqui. Eu sempre digo que o Centro está morrendo pouco a pouco”.

Samuka conta que memória do bar é de muito movimento, o contrário dos dias atuais. (Foto: Alex Machado)
Samuka conta que memória do bar é de muito movimento, o contrário dos dias atuais. (Foto: Alex Machado)
Márcio comenta que a presença do público nas ruas centrais vem diminuindo há anos. (Foto: Alex Machado)
Márcio comenta que a presença do público nas ruas centrais vem diminuindo há anos. (Foto: Alex Machado)

Confirmando a opinião de Márcio, o músico Samuka Benites explica que cresceu vendo o movimento do Bar do Zé. “Acompanhei o Márcio crescendo e aqui sempre teve de tudo, com muito movimento. Igual aqui, acho que não existe mais”, diz.

Para ele, a disponibilidade das mesas para os clientes sempre foi algo característico do bar, mas acabou sendo suprimido com o passar do tempo. Já em relação à queda no movimento como um todo, o músico narra que quem valorizou e continua sabendo da importância, se mantém firme.

Mas, até quem é cliente mais recente, como Antônio Marcos Silva, diz que o acolhimento do boteco é diferente e faz querer voltar. “Eu moro em Dourados, mas sempre que a gente vem para Campo Grande e passamos no Centro, viemos para cá”.

Em seu caso, a justificativa é vinculada justamente às cadeiras. “A esposa vai comprar as coisas e eu fico aqui tomando um refrigerante, um café, até ela voltar. Mas acho que a queda das pessoas nas ruas é um pouco geral, infelizmente”, completa.

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