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Comportamento

Tarefa desafiadora, criar meninos longe do machismo é luta diária

Tendo apenas filhos homens, Miska Thomé e Lu Bigatão contam sobre como tentar mudar uma geração é difícil

Aletheya Alves | 14/05/2023 07:36
Miska teve quatro filhos, todos homens, e conta sobre os desafios. (Foto: Arquivo pessoal)
Miska teve quatro filhos, todos homens, e conta sobre os desafios. (Foto: Arquivo pessoal)

Além de pensar sobre responsabilidades comuns à maternidade, ser mãe de meninos também envolve uma preocupação em educar contra o machismo dentro de casa. Garantindo que a tarefa é árdua, Miska Thomé e Lu Bigatão contam sobre como tentar mudar uma geração é, na verdade, luta diária sempre em construção.

Artista plástica, Miska teve quatro filhos, sendo todos homens, enquanto Lu, jornalista e diretora teatral, é mãe de dois. Pensando nisso, o Lado B as convidou para falar sobre o desafio em tentar mudar pensamentos e atitudes tão estruturais.

“Apesar de sempre conversar sobre algumas questões, dar exemplos, apontar questões em que a gente via o machismo presente, eu vejo em determinados momentos, em alguns deles, algumas atitudes que refletem essa cultura machismo”, introduz Miska, explicando sobre como o processo é gradativo.

Longe de uma realidade ideal, a artista comenta que qualquer pessoa continua carregando impressões e lógicas que caem no machismo, algo natural. Mas, longe de aceitar isso passivamente, Miska pontua que seu pensamento sempre foi de combate.

“Esse é um tema que sempre fez parte da minha vida. Eu fui uma mulher, a terceira de quatro irmãos, então eram três homens e eu em casa. Sempre consegui me impor, era muito briguenta, muito senhora da minha vida”, comenta Miska.

Apesar de não ter passado por situações de desrespeito dentro da família, a artista comenta que os moldes da criação ainda eram muito mais machistas. E, vivendo na pele a importância de modificar padrões, narra que o diálogo sempre esteve presente em sua relação com os filhos.

Além das preocupações dentro de casa, ela pontua sobre a educação fora. (Foto: Arquivo pessoal)
Além das preocupações dentro de casa, ela pontua sobre a educação fora. (Foto: Arquivo pessoal)

Desde respeito em geral até a necessidade de se atentar ao convívio com mulheres, Miska explica que exemplos no cotidiano não faltam para conversar sobre. “Sempre cantei na noite, tinha uma vida de artista, então eles me viam no palco, cantando, e isso sempre tem uma conotação da mãe se expondo. Nós conversamos muito sobre isso, mas ainda assim acho que essas impressões são temas recorrentes, é algo arraigado culturalmente”.

E, apesar das reflexões dentro de casa serem intensificadas, há também as construções criadas do lado de fora. “Mesmo que não houvesse uma aceitação de comportamentos dentro de casa, acho que fora era uma relação complicada”.

Observando o cenário geral, Miska também pontua que a educação e as construções de pensamento em Mato Grosso do Sul alteram o cenário. Isso porque as lógicas por aqui ainda se baseiam em uma relação ruralista mais tradicionalista.

“Foi uma semente planta, mas sei que em determinados momentos reconheço falas machistas e corrigimos, apontamos. É uma questão de educação, então também é importante dizer que os pais precisam ter essa consciência”, completa Miska.

tempo

“Não sei se eu consegui, é muito difícil mudar um padrão cultural. O machismo é muito arraigado, dizem que levam uns 500 anos para mudar um comportamento social”, comenta Lu Bigatão. Assim como para Miska, a educação de seus filhos foi uma semente e a esperança é que ela continue germinando.

Para Lu, a discussão sobre machismo, feminismo, igualdade e outras tantas pautas ainda vai levar um bom tempo até chegar no nível almejado. E, por isso, o debate também é visto por ela como ponto central.

Mãe de dois homens, Lu narra que a semente foi plantada com esperança de mudanças. (Foto: Arquivo pessoal)
Mãe de dois homens, Lu narra que a semente foi plantada com esperança de mudanças. (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando eu era adolescente, queria ser menino porque eles podiam ficar na rua até tarde, as brincadeiras eram sempre mais emocionantes e as meninas da minha geração eram de ficar em casa, brincar de casinha, falar a hora que vai e que volta, havia uma vigia das roupas”, comenta Lu.

E, vendo a luta da mãe para garantir os próprios direitos em casa, a jornalista explica que os questionamentos surgiram logo cedo. Mesmo assim, padrões repetidos por sua mãe, hoje continuam nela e, por isso, não é possível negar as dificuldades de alterar o ciclo.

Apesar disso, as mudanças vão acontecendo em meio aos diálogos. “Vejo que avançou muito pensando nas relações construídas hoje, até porque as mulheres se impõem, mas ainda existem detalhes que pegam. Isso que estou falando do machismo mais velado, não de crime”.

Na prática, em relação à educação dos filhos, Lu explica que coisas muito básicas sempre importam. “Sempre conversamos sobre como também é um dever do homem limpar a casa, cuidar dos filhos, respeitar que as mulheres têm trabalho, espaço, amigos, opções, enfim”.

E, envolvida com as questões culturais, a diretora comenta sobre como a indústria cultural entra intensamente como um desafio. “Desde desenho animado até comerciais em que as mulheres são vendidas como objetos, a indústria cultural é muito forte. Mas, as mulheres estão cada vez mais se posicionando e, agora, os homens precisam se adaptar e correr atrás”.

Desde respeito ao próximo até realização de serviços domésticos, a preocupação vai para vários âmbitos. (Foto: Arquivo pessoal)
Desde respeito ao próximo até realização de serviços domésticos, a preocupação vai para vários âmbitos. (Foto: Arquivo pessoal)

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