Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
O banheiro neutro é um sanitário de uso comum, não direcionado a um público específico
O retorno das aulas na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) trouxe uma novidade. Alguns banheiros estão com placas que indicam ambientes “neutros”, ou seja, sem discriminação a pessoas trans, não-binárias (que não se identificam como homens ou mulheres) ou intersexuais (que tem características tanto masculinas quanto femininas).
Placa semelhante é conhecida em alguns estabelecimentos como uma forma de diminuir as violências às pessoas que não são respeitadas ou aceitas em espaços para homens ou mulheres cisgêneros, por exemplo, homens e mulheres transexuais.
Tem ainda o espaço família, dedicado também para entrada de pais, mães ou responsáveis com crianças, que necessitam do fraldário.
O Lado B conversou com alunos na manhã de hoje (30) sobre a iniciativa que divide opiniões.
Para Hari Freitas, de 22 anos, do curso de Ciências Sociais, a ação é uma conquista. “Antes, quando não tinha a placa, era mais complicado. Geralmente, eu usava o masculino e o feminino. Dependia de como estava no dia e se ninguém estava olhando”, explica aluno, que faz acompanhamento no ambulatório do Hospital Universitário – que presta atendimento às pessoas transexuais – e faz hormonoterapia há oito meses.
Hari reforça que a placa diminui situações constrangedoras. “Veio muito a calhar nesse momento para evitar constrangimento. Quando têm banheiros binários, você costuma usar de acordo como está vestido. Hoje, por exemplo, eu usaria masculino. Mas não importa o que tenho dentro das minhas calças.”
Já o acadêmico de Audiovisual, João Victor Brites, de 21 anos, não concordou com a iniciativa. “Acho perigoso esse tipo de coisa. Pode ser uma brecha de pessoas de má índole de fazer uma coisa que não pode”, acredita.
Do mesmo curso, Izabelle Pereira da Silva, de 19 anos, defende o banheiro. “Tem banheiro masculino e feminino em todo canto, quem não se sentir à vontade de usar o neutro, que use os outros”, expressa.
Na visão da aluna, o banheiro também surge para incluir. “Importante ter, porque nunca sabemos quem vamos encontrar, ainda mais aqui [UFMS], que tem muito preconceituoso por metro quadrado. Acho que é uma forma de incluir e deixá-los mais seguros e confortáveis.”
Já o conselheiro universitário e coordenador jurídico do Sindicato da UFMS, Carlos Simões, que enviou imagens das placas ao Campo Grande News como sugestão de pauta, diz que não concorda com a inclusão, ainda que haja outros banheiros na universidade que não se enquadram no neutro.
“Ontem, eu me deparei com essas placas nos banheiros. Isso não foi discutido com a comunidade e não achei ninguém que concorde com isso”, afirma.
Na opinião do conselheiro, que está há 43 anos na universidade, a placa foi colocada “baseada em modismo”. “Não foi nada científico, nada de demanda. Eu conversei com pai, aluno, colegas e os convidei para ir ao banheiro comigo, ninguém aceitou, isso é coisa inaceitável.”
Embora a placa não se refira a ida ao banheiro “em grupo”, mas sim, ao gênero neutro, ainda assim, o conselheiro desaprova. “Tenho que ser responsável pela segurança, eu não tenho que esperar nada desagradável acontecer. O que a gente tem que entender é que isso foi uma provocação. Isso tem que ser discutido, debatido, me assusta algumas coisas”.
O Lado B entrou em contato com a UFMS à procura de alguém que pudesse falar mais sobre os banheiros, mas até o momento, ninguém respondeu.
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