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Comportamento

Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou

O banheiro neutro é um sanitário de uso comum, não direcionado a um público específico

Thailla Torres e Bruna Marques | 30/03/2022 14:29
Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
Placa semelhante é conhecida em alguns estabelecimentos como uma forma de diminuir as violências às pessoas que são discriminadas. (Foto: Henrique Kawaminami)

O retorno das aulas na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) trouxe uma novidade. Alguns banheiros estão com placas que indicam ambientes “neutros”, ou seja, sem discriminação a pessoas trans, não-binárias (que não se identificam como homens ou mulheres) ou intersexuais (que tem características tanto masculinas quanto femininas).

Placa semelhante é conhecida em alguns estabelecimentos como uma forma de diminuir as violências às pessoas que não são respeitadas ou aceitas em espaços para homens ou mulheres cisgêneros, por exemplo, homens e mulheres transexuais.

Tem ainda o espaço família, dedicado também para entrada de pais, mães ou responsáveis com crianças, que necessitam do fraldário.

O Lado B conversou com alunos na manhã de hoje (30) sobre a iniciativa que divide opiniões.

Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
Banheiro tem mictórios e sanitários com portas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
Espaço família também tem gênero neutro e auxilia pais e responsáveis que precisam utilizar fraldário. (Foto: Henrique Kawaminami)

Para Hari Freitas, de 22 anos, do curso de Ciências Sociais, a ação é uma conquista. “Antes, quando não tinha a placa, era mais complicado. Geralmente, eu usava o masculino e o feminino. Dependia de como estava no dia e se ninguém estava olhando”, explica aluno, que faz acompanhamento no ambulatório do Hospital Universitário – que presta atendimento às pessoas transexuais – e faz hormonoterapia há oito meses.

Hari reforça que a placa diminui situações constrangedoras. “Veio muito a calhar nesse momento para evitar constrangimento. Quando têm banheiros binários, você costuma usar de acordo como está vestido. Hoje, por exemplo, eu usaria masculino. Mas não importa o que tenho dentro das minhas calças.”

Já o acadêmico de Audiovisual, João Victor Brites, de 21 anos, não concordou com a iniciativa. “Acho perigoso esse tipo de coisa. Pode ser uma brecha de pessoas de má índole de fazer uma coisa que não pode”, acredita.

Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
Para Hari, o banheiro neutro é uma iniciativa importante. (Foto: Henrique Kawaminami)

Do mesmo curso, Izabelle Pereira da Silva, de 19 anos, defende o banheiro. “Tem banheiro masculino e feminino em todo canto, quem não se sentir à vontade de usar o neutro, que use os outros”, expressa.

Na visão da aluna, o banheiro também surge para incluir. “Importante ter, porque nunca sabemos quem vamos encontrar, ainda mais aqui [UFMS], que tem muito preconceituoso por metro quadrado. Acho que é uma forma de incluir e deixá-los mais seguros e confortáveis.”

Já o conselheiro universitário e coordenador jurídico do Sindicato da UFMS, Carlos Simões, que enviou imagens das placas ao Campo Grande Newcomo sugestão de pauta, diz que não concorda com a inclusão, ainda que haja outros banheiros na universidade que não se enquadram no neutro.

“Ontem, eu me deparei com essas placas nos banheiros. Isso não foi discutido com a comunidade e não achei ninguém que concorde com isso”, afirma.

Universidade adota banheiro neutro e a polêmica já começou
João Victor não concorda com o banheiro neutro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na opinião do conselheiro, que está há 43 anos na universidade, a placa foi colocada “baseada em modismo”. “Não foi nada científico, nada de demanda. Eu conversei com pai, aluno, colegas e os convidei para ir ao banheiro comigo, ninguém aceitou, isso é coisa inaceitável.”

Embora a placa não se refira a ida ao banheiro “em grupo”, mas sim, ao gênero neutro, ainda assim, o conselheiro desaprova. “Tenho que ser responsável pela segurança, eu não tenho que esperar nada desagradável acontecer. O que a gente tem que entender é que isso foi uma provocação. Isso tem que ser discutido, debatido, me assusta algumas coisas”.

O Lado B entrou em contato com a UFMS à procura de alguém que pudesse falar mais sobre os banheiros, mas até o momento, ninguém respondeu.

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Para Izabelle, banheiro contribui para inclusão. (Foto: Henrique Kawaminami)

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