Voltar ao corpo de antes dos filhos? Só em uma máquina do tempo
Uma das perguntas que mais ouço nas rodas de conversa, principalmente virtuais, é: "E aí, já conseguiu voltar ao corpo de antes da gravidez?", e a resposta é sempre instantânea: Não.
Demorou um pouco, mas agora, tenho consciência de que nunca mais aquele corpo retornará. Assim como minha antiga versão se foi, o físico seguiu o mesmo caminho.
Não há dieta/exercício milagroso capaz de apagar as marcas de nove meses gestando outro ser humano. Os padrões nos fazem esquecer que produzimos (literalmente!) outra pessoa dentro de nós. Como voltar a ser como antes? Nem que eu quisesse.
Sei que é difícil aceitar, ainda mais em tempos de corpos digitalmente perfeitos estampados a cada rolada de tela que damos nas redes sociais. Também sei que toda essa "grama verde" exposta em Instagram de mamães perfeitas - que saem já com barriga chapada da maternidade - pode afundar ainda mais uma mulher de carne e osso em pleno puerpério.
É preciso ser forte para não ser influenciada a se achar a mais descuidada, desleixada, largada da face da terra. E quando digo que é improvável ser como era, me refiro a mulheres reais e sem a quase inalcançável possibilidade de tratamentos estéticos, cirúrgicos e surreais aparentemente disponíveis numa realidade paralela chamada mundo virtual.
Além disso, as mudanças não param a partir do momento em que o bebê nasce. Após parir é necessário nutrir, cuidar, amar. E junto com o combo "criação" vem a mudança nos seios, as olheiras, a queda dos cabelos que parecem fazer sozinhos o caminho para o tão usado coque ou rabo de cavalo (para as saídas de casa) dos primeiros meses de uma mãe recém-nascida.
Vem o curvar das costas, o encurtar da memória e o cansaço que agora parece crônico. E muito, muito, muito mais que isso, vem também a consciência de que o reflexo no espelho e cada mudança na imagem que vejo, faz parte de quem sou agora, são linhas escritas com cada detalhe da minha história, apagá-las seria como deixar de existir aos poucos.
Também esta é a pessoa que meus filhos conhecem e amam. É para quem eles abrem o sorriso quando acordam. É pra onde olham enquanto mamam ou quando precisam de segurança. É em quem eles confiam, assim tão puramente sem nada exigir em troca, sem julgamentos. É a verdadeira versão de mim, cruamente quem sou.
Obviamente que, com o tempo, algumas coisas podem chegar próximo ao que eram antes, porém, de forma geral, a mudança é inevitável e irreversível.
Então, não! Não há como voltar ao corpo de antes da gravidez. E nem quero, porque para isso precisaria entrar numa máquina do tempo e abrir mão da melhor e mais bonita mudança que já me aconteceu nessa vida: meus filhos.
(*) Jéssica Benitez é jornalista e mãe de Maria Cecília e Caetano.
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